Quem chega a Florianópolis de ônibus logo ouve o nome de uma figura marcante da cidade: Rita Maria. A memória da enfermeira e benzedeira, que dá nome ao Terminal Rodoviário Rita Maria e ao Armazém Rita Maria, nas proximidades, se mistura com a da própria localidade.

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Mas quem foi Rita Maria? O historiador e escritor Fábio Garcia, mestre em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), detalha que a partir da virada do século 20, os jornais da cidade registravam o nome de Rita Maria como o de uma mulher designada a cuidar dos enfermos.

Entre as características dela estava o cuidado com o outro como característica central e a atuação na região do Arataca, local que abrigou um histórico estaleiro com o mesmo nome, próximo à cabeceira da Ponte Hercílio Luz.

Rita Maria, uma mulher negra, é lembrada nos registros históricos como enfermeira, benzedeira, cuidadora e cozinheira. Foi esta figura que deu o nome ao Terminal Rodoviário Rita Maria, onde, inclusive, possui uma obra em sua homenagem. O nome, considerado comum para a época, explica o historiador, pode ter feito com que homônimos, de outras “Rita Marias”, tenham existido nesse mesmo período.

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Nome antecede figura

Mesmo com a relevância de destaque da figura homenageada no terminal, o historiador afirma que o nome Rita Maria vem de antes do surgimento dela própria. Enquanto que o primeiro registro da cuidadora foi no início do século 20, em 1870 publicações já usavam o termo “Rita Maria” para denominar a região de Florianópolis que atualmente abriga o terminal e o armazém.

— Aí já nos primeiros jornais de Santa Catarina, de Florianópolis, a gente já vai identificar aquela região do cais do Arataca, onde estão ali os armazéns, como uma região do Monte Rita Maria, mapas antigos já dizendo para a gente que havia um Monte Rita Maria — destaca o historiador.

O monte era localizado atrás do posto de gasolina que fica próximo a rodoviária, do outro lado da rua, local em que na época abrigava uma árvore figueira. A elevação ficava quase aos fundos para o espaço que depois veio a ser o cemitério público municipal.

Essa denominação já era conhecida antes da existência da figura de Rita Maria. Possivelmente, explica o historiador, a denominação ocorreu em razão de uma outra Rita Maria, anterior a conhecida benzedeira, que seria moradora da região, ou então que tivesse práticas semelhantes.

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— Eu acho que a tradição oral e a memória da cidade acabou confundindo. Ou juntando as duas coisas como se fosse uma só, mas são coisas distintas. Uma coisa é a região, que já tinha um nome, e depois a outra, a mulher que vai lá cuidar das pessoas — afirma Fábio Garcia.

Contudo, vale ressaltar que aquela região do cais, ainda no início dos anos 1800, não era considerada de prestígio na cidade. Entre os motivos para isso estava o fato da região ser uma área portuária, local em que residiam pessoas de baixa renda, e frequentada por prostitutas.

A região era considerada distante do Centro, que na época se concentrava em torno da Praça XV. Fábio Garcia ainda afirma que era provável que famílias de escravizados, ex-escravizados e libertos ocupassem a área, já conhecida por ser um cemitério antigo da população dos povos originários.

Veja fotos do Terminal Rodoviário Rita Maria

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