Claudiomiro Silveira Rattis, 44 anos, e Lúcia Isolde Rocha Henrique, de 56 anos, estão entre as cinco mortes de pacientes por coronavírus registradas em Joinville desde o início desta semana. Nesta quarta-feira (27), a cidade chegou ao número de 20 óbitos pela doença.

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Em comum, eles tinham a paixão pela área da saúde: Claudiomiro era técnico de enfermagem no Hospital Regional Hans Dieter Schmitd; enquanto Lúcia era enfermeira no Hospital da Unimed. Além disso, nenhum dos dois fazia parte do grupo de risco nem tinham comorbidades, como doenças crônicas ou outros problemas de saúde.

Ambos faleceram nesta terça-feira, 26 — Miro, como era chamado o técnico de enfermagem, durante a manhã; e Lucia, durante a noite. A morte dele foi registrada na lista estadual no mesmo dia, enquanto a de Lucia foi divulgada na noite desta quarta-feira pelo Governo do Estado.

Além deles, um homem de 75 anos, com histórico de diabetes e pancreatite crônica; uma mulher de 71 anos, que tinha histórico de hipertensão; e uma mulher de 67 anos, que tinha histórico de diabetes, hipertensão e artrite, também morreram por coronavírus entre domingo (24) e quarta-feira (27). Joinville é a cidade com mais mortes pela doença em Santa Catarina e, até esta quarta-feira, 380 pessoas haviam sido diagnosticadas com Covid-19 na cidade.

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Com isso, Joinville é a quinta cidade com mais casos confirmados em Santa Catarina, atrás de Chapecó, Florianópolis, Concórdia e Blumenau. Nesta quarta, no entanto, o prefeito Udo Döhler confirmou que há subnotificações na cidade, situação que começou a ser corrigida nesta semana, com a testagem em massa de profissionais da saúde e de pessoas da comunidade com sintomas gripais.

foto mostra um casal sorrindo um para o outro
Miro e a esposa se conheceram no trabalho, em Tubarão, e mudaram juntos para Joinville (Foto: Arquivo Pessoal)

"Sempre queria estar presente para ajudar", recorda enteada de Miro

Colegas lamentaram a perda dos dois profissionais nas redes sociais e as unidades de saúde emitiram notas de pesar. Ainda na noite de terça-feira, uma homenagem foi feita a Miro na frente do hospital onde ele trabalhava desde 2009.

— Ele realmente amava o trabalho. Ele gostava de cuidar das pessoas. Nunca faltou um dia, porque sempre queria estar presente no hospital para ajudar o próximo — conta a enteada de Miro, Letícia Fernandes.

Miro casou com a mãe de Letícia, Marta Fernandes, quando a jovem tinha seis anos. Ele e Marta se conheceram quando trabalhavam em um hospital em Tubarão, e mudaram juntos para Joinville. Na época, ele trabalhou no Hospital da Unimed, antes de entrar como servidor do Estado no Hospital Regional de Joinville. Enquanto isso, cuidava da família que construía com Marta: virou pai de coração de Letícia e, com a esposa, teve um filho, Henrique, de dez anos.

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— Uma rocha — define a jovem ao recordar do homem que a criou — Ele nunca deixou que nos faltasse nada, sempre esteve presente na minha vida. Era um ser extraordinário, que encheu nossas vidas de alegria.

Ela recorda também que, no trabalho, Miro era conhecido por ser sempre muito educado, mas também brincalhão. O sorriso aberto era marca registrada, pronto para confortar os pacientes. Quando a pandemia do novo coronavírus surgiu, houve apreensão dele e da família, mas nunca a possibilidade de que Miro estaria entre as vítimas da doença.

— Ele descobriu que estava com coronavírus há cerca de um mês. Ficamos todos em isolamento em casa, mas quando estava chegando perto do fim destas duas semanas, ele começou a sentir muita falta de ar e achamos que seria melhor se fosse para o hospital — conta ela.

A princípio, Miro ficaria no hospital por 10 dias recebendo antibiótico. Neste período, conversava com a esposa e os filhos, sempre tranquilizando a todos sobre sua recuperação. No oitavo dia, no entanto, complicações no quadro de saúde o levaram a passar mais dias no hospital e, por fim, ao óbito.

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— A gente sempre achava que ele podia melhorar, que ele realmente voltaria para casa, porque ele estava bem. Ele não tinha doenças, ele já estava melhorando. Ele sempre falava que já estava voltando — lamenta a jovem.

foto mostra filha abraçada à mãe
Mayara tornou-se técnica de enfermagem após os incentivos da mãe (Foto: Veridiana Ramos)

"Sempre pronta a ensinar", recorda colega de Lúcia

A filha de Lúcia, Mayara Aparecida Henrique, conta que a mãe era tão querida pelos pacientes que, muitas vezes, pediam que somente ela fizesse seus curativos, que era a principal atividade desenvolvida por ela no Hospital da Unimed. Ela chegou a receber até costelas de um ex-paciente agradecido pelo carinho com que havia sido tratado no período internado, entre outros presentes.

Ela trabalhava na unidade há cerca de 13 anos, depois de um período de três anos trabalhando na Maternidade Darcy Vargas como contratada. A carreira de técnica de enfermagem havia começada aos 40 anos, depois de ficar viúva precocemente, aos 37 anos.

— Eu tinha nove anos na época, minha irmã tinha 11. Ela foi estudar enfermagem, e sempre foi muito estudiosa. Tinha muito amor pelo hospital e dava a vida pelo trabalho dela. Falava com muito amor e carinho do trabalho, e acabou levando minha irmã e eu também a nos tornarmos técnicas de enfermagem — conta Mayara.

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Mayara relata que a mãe começou a sentir os sintomas de coronavírus no fim de março. Quando apresentou febre, no dia 23 de março, a filha a levou ao pronto-socorro do hospital onde Lúcia trabalhava, na Unimed.

— Assim que entrou já pediram o teste para coronavírus. Fizeram raio-X e uma tomografia, que já tinha mostrado que o pulmão estava bem feio. Acabaram internando, ainda na dúvida para o coronavírus, mas para pneumonia bacteriana — conta Mayara.

Lúcia ficou internada por cinco dias tomando antibióticos. Recebeu alta e voltou para casa com o resultado de coronavírus. Até que, no dia 4 de abril, ela começou a apresentar falta de ar e voltou para o hospital para ser internada na UTI.

Na semana passada, a enfermeira estava apresentando evolução na recuperação, mas no sábado precisou de ventilação mecânica e o estado de saúde voltou a ser considerado de risco. Ela faleceu às 19h30 de terça-feira.

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Nas redes sociais, amigos, parentes e colegas de trabalho fizeram homenagens para ela. "Um sorriso sem igual, sempre com uma palavra amiga, sempre pronta a ensinar. E como aprendi com você, amiga. Uma baita profissional", escreveu a enfermeira Ana Carolina Correa Rosa.

"Restam as boas lembranças da Lúcia! Pessoa de um coração maravilhoso, uma risada contagiante e um amor à enfermagem sem igual!", comentou a também enfermeira Nathalie Karsten.