Rogério Tuma, neurologista que faz parte da equipe médica de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), tem um sobrenome que é familiar ao petista. Isto porque o médico que atende diariamente o presidente no Hospital Sírio-Libanês é filho do ex-senador Romeu Tuma, que foi delegado de polícia e chefe do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) de São Paulo entre 1977 e 1982. Em 1980, Lula foi preso por subversão e encaminhado ao local, onde ficou por 31 dias. As informações são do O Globo.

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Neste sábado (14), um dia antes da alta de Lula, o jornal procurou o médico e perguntou se, em meio aos atendimentos, ele e o presidente discutiram o fato curioso, mas não obteve resposta.

Não se sabe, também, de quem partiu a escolha — se do presidente, se de Roberto Kalil Filho, o chefe da junta médica, ou do Hospital Sírio-Libanês. Ao Globo, no entanto, o cardiologista Kalil confirmou que é ele quem define e coordena a equipe que atende Lula.

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O pai de Rogério Tuma nasceu em 1931 e morreu em 2010, aos 79 anos. Na época, ele era senador pela segunda vez e estava filiado ao PTB. O político paulista deixou quatro filhos, entre eles, o atual médico de Lula.

Conheça Romeu Tuma

Anos 70: Lula, líder sindical e Tuma, delegado de polícia

Nos anos 70, o petista era líder sindical e responsável por organizar greves no ABC paulista. Tuma, por outro lado, era delegado de polícia e chefiava o Departamento de Ordem Política e Social (Dops) de São Paulo, um dos principais órgãos de repressão da ditadura militar, entre 1977 e 1982. Entre as funções do delegado estava, justamente, investigar essas greves.

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No dia 17 de abril de 1980, Lula foi preso por subversão. Na ocasião, ele foi encaminhado ao Dops e ficou sabendo, pela rádio, que a notícia da prisão se tornara pública. Enquadrado pela Lei de Segurança Nacional, Lula ficou na cadeia por 31 dias.

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Na prisão, rádio, jornais e jogos do Corinthians

O então metalúrgico, no entanto, não passou por tortura e prestou depoimentos por escrito, informou à Comissão Nacional da Verdade. Ele diz também que recebeu tratamento digno por parte de Tuma. Lula chegou a deixar a prisão algumas vezes para visitar a mãe que estava doente, Dona Lindu. Ela morreu em maio daquele ano. O petista já até compartilhou que, durante o período detido, tinha acesso a rádio, jornais e até jogos do Corinthians pela televisão.

Em 1983, o Dops foi extinto. Com isso, o delegado virou superintendente da Polícia Federal em São Paulo e, depois, diretor-geral da corporação — nomeado pelo presidente José Sarney e pelo ministro da Justiça, Fernando Lyra.

Na época, o grupo “Tortura Nunca Mais” protestou contra a indicação, acusando Tuma de ser “um nome reconhecidamente ligado à repressão social e política”. Não foi comprovado, no entanto, uma ligação direta entre o delegado e os abusos cometidos contra civis.

Como delegado, Tuma investigou morte de Chico Mendes

Tuma chefiou, enquanto delegado, o assassinato do ativista ambiental Chico Mendes, além do sequestro do empresário Abílio Diniz. O último caso envolve polêmicas, sendo que a principal é a influência nas eleições vencidas por Fernando Collor contra Lula, em 1989.

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O grupo que sequestrou Diniz era formado por militantes do Movimento da Esquerda Revolucionária (MIR), do Chile. Na véspera da votação, no entanto, a polícia apresentou camisetas do PT e itens de campanha de Lula, que teriam sido achadas no cativeiro.

A trajetória política de Tuma

Depois de ocupar o cargo de secretário da Receita Federal no governo Collor, Tuma foi demitido da Polícia Federal (PF) pelo governo Itamar Franco, que assumiu após o impeachment. Foi aí que ele retornou aos quadros da Polícia Civil e se tornou assessor do governador Luiz Antônio Fleury Filho (MDB), em 1993.

Em 1994, ele passou a ocupar uma das duas vagas ao Senado pelo estado de São Paulo, pelo PL. Na trajetória política, ele passou por PSL e PFL, e perdeu as eleições para a prefeitura de São Paulo, em 2000. No segundo turno, ele apoiou Marta Suplicy (PT). Dois anos depois, foi reeleito senador.

Enquanto isso, Lula fazia o PT se firmar como um partido, chegando à presidência da República e sucedendo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 2002.

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Em 2007, Tuma passou a fazer parte da base aliada de Lula, ao ingressar no PTB. O atual presidente estava no segundo mandato e tinha “grande popularidade”. Na ocasião, Romeu Tuma Júnior, outro filho, virou secretário nacional de Segurança. Ele entrou em conflito com o governo, e acabou estremecendo novamente a relação.

Em 2010, quando estava prestes a concorrer de novo ao Senado, Romeu Tuma começou a sofrer com um quadro infeccioso e depois com problemas de insuficiência cardíaca. Ele morreu no Hospital Sírio-Libanês, onde era atendido pelo filho.

Na ocasião, Lula lamentou a perda. Em nota divulgada pelo Palácio do Planalto, o presidente disse que o ex-senador “dedicou grande parte da vida à causa pública, atuando de forma coerente com a visão que tinha do mundo e, por isso, merece o reconhecimento e o respeito dos brasileiros”.

Na cerimônia de despedida, jornais da época registrara a fala de Reskalla Tuma, irmão mais velho do político. Ele disse que o ex-senador tinha sido “amigo do Médici e também do Lula”. Emílio Garrastazu Médici foi o terceiro presidente da ditadura militar no Brasil.

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*Sob supervisão de Luana Amorim

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