Ele nasceu no Rio Grande do Sul e tem descendência italiana. Mas apesar das distantes origens germânicas, Nerino José Furlan ganhou o coração do público ao criar brinquedos irreverentes para a maior festa alemã das Américas. Considerado um visionário, o empresário transformou uma bicicleta de passear com os filhos na primeira atração do que se tornaria mais tarde o império do Planetapeia. As criações dele são algumas das atrações mais aguardadas dos desfiles da Oktoberfest Blumenau.
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Um entusiasta da cultura germânica e com uma criatividade aflorada desde a infância, Nerino, hoje com 72 anos, sempre tirou da própria cabeça cada uma das criações. Ele recorda com nostalgia do encantamento ao assistir os desfiles da primeira edição da festa, em 1984. Na época, queria fazer parte daquilo. Só não imaginava que, três anos depois, em 1987, cruzaria a Rua XV de Novembro como um “infiltrado” entre as atrações e a partir dali seria figura carimbada em todas as apresentações.
Daquele dia de pura audácia para cá já se passaram 37 anos. Ainda assim, Nerino tem fresco na memória o momento que enrolou fitas vermelhas na bicicleta de quatro lugares que usava para brincar com os filhos, colocou um arranjo de flores na frente e foi para o Centro de Blumenau junto com três amigos. Tentou, como quem não queria nada, desfilar mesmo sem ter sido convidado. Acabou barrado pela organização, mas caminhado pela calçada viu uma chance de entrar de fininho e conseguiu.
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— Eu vi um guarda e pedi para ele erguer a fita para nós entrarmos no desfile. Ele viu a gente tudo com traje típico e a bicicleta decorada, achou que éramos mesmo do desfile. E assim a gente entrou cantando “e dá-lhe chope”. O público gostou da animação e no outro ano a organização nos convidou — relembra.
Autodescrito como o “italiano mais alemão de Blumenau”, Nerino nutre tamanha admiração pelas tradições germânicas que um dia chegou a pedir a um amigo dona de uma loja se ele tinha medalhas que pudessem ser usadas como adereços no traje. Tudo porque o empresário gostava das honrarias que via presas às roupas dos integrantes dos clubes de caça e tiro.
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As criações
Nerino recorda com riqueza de detalhes todos os projetos, sempre desenhados à mão por ele. As atrações vão desde a clássica Centopeia do Chope — uma bicicleta com quatro lugares decorada com flores — até Badwolfpeia — que leva uma banda tocando ao vivo na parte de atrás. O empresário conta sobre como foi a escolha de cada material escolhido para dar vida aos brinquedos, como a Locopeia, inspirada na Macuca em frente à prefeitura, mas erguida sobre o rebocador de um avião.
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— Levou 89 dias para ficar pronta — recorda com exatidão.
Hoje, são 99 brinquedos, dos quais 32 vão para as ruas. Mas um deles em especial carrega — no sentido literal da palavra mesmo — a história de seu criador. A Alfapeia foi a oitava invenção e deu nova vida ao caminhão Alfa Romeu 1978 aposentado que Nerino usava para fazer transporte de cargas. Com esse veículo ele rodou o Brasil e por vezes fez morada ao dormir na cabine entre uma viagem e outra.
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Questionado sobre qual criação é a preferida, Nerino brinca que pai não tem filho favorito. Aliás, muitos desses brinquedos já romperam as fronteiras brasileiras e estiveram levando o nome de Blumenau e da Oktoberfest pelo mundo. Foi assim no Brazilian Day, em Nova Iorque, na abertura da Oktoberfest de Munique, na Alemanha. A novidade para a Oktoberfest Blumenau 2024 será o “Nostradamus”, que vem sendo elaborado há cerca de três meses.
— Meu nono sempre dizia: “Tem que acompanhar a evolução”. Mesmo que eu estou chegando aos 73 anos agora, a minha disposição, a minha vontade é a mesma de 1987 — garante.
As criações estão reunidas no Palácio Planetapeia, na Rua das Missões, não distante do Centro de Blumenau. O espaço deve abrir para visitação do público assim que for concluída a construção do restaurante ao lado. Os carros criados por Nerino, aliás, estamparam por quatro vezes os cartazes da Oktoberfest.
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Nasce um hino
“Ein Prosit Blumenau. Ein Prosit pra plateia. Viva Oktoberfest. E viva a Centopeia”. Quem acompanha os desfiles da Oktoberfest Blumenau provavelmente já antou essa música. Afinal, é praticamente um hino da festa e difícil não se animar quando ela toca. Mas apesar do sucesso da canção, pouca gente sabe a origem da Centopeia do Chope, nome dado à música.
Tudo começou em 1996, durante um show cover da banda Demônios da Garoa no bar do blumenauense Horácio Braun, de quem Nerino era amigo. Ele contou que queria uma música para a Centopeia, e, naquela, noite, ao ouvir “Ói Nóis Aqui Traveis”, dos paulistas, rabiscou em um guardanapo as primeiras linhas do que viraria um hit que atravessa gerações.
Horácio ficou com o rascunho e mais tarde entregou ao músico Mário Binder, da Vox 3, com a missão de “concluir” a canção. Um ano mais tarde, em 1997, Nerino levou suas criações a Munique, e embalou os alemães com o que o amigo chamou de “samba de alemão”.
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E, assim, surgiu um império. O império de Nerino.