Você solicita uma viagem no aplicativo da Uber para ir ao trabalho ou até mesmo para ir para casa após o longo expediente. Um motorista aceita: 5, 4, 3, 2 minutos, até chegar ao um. Enquanto o carro se aproxima, você decide olhar a nota e a foto do motorista, e dá de cara com uma figura que é conhecida desde a infância da maioria das pessoas, inclusive a sua. Um homem com uma barba comprida e branca está indo te buscar em um Fiat Palio prata, 2017, um veículo bem diferente do trenó do “bom velhinho”. A magia, no entanto, continua a mesma.
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Foi o que aconteceu com Larissa Repukna, atualmente com 38 anos, em Florianópolis, há cerca de três anos. Ela conheceu Afonso Ferraz enquanto pegava um Uber para algum lugar da Ilha.
— Eu conheci ele no Uber e ele me contou que fazia o Papai Noel para crianças também. Achei muito bonito o trabalho dele e fiquei bem admirada. Nós começamos a conversar e ele me contou que também fazia projetos sociais — recorda Larissa, que é psicóloga e atualmente faz mestrado em Florianópolis.
Conheça o carro do Papai Noel que circula pela Capital
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Larissa é terapeuta no Projeto Amanhecer, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que oferece terapias complementares em saúde à comunidade acadêmica e externa.
Quando ela e Afonso entraram no assunto do voluntariado, durante a corrida, falaram sobre como é prazeroso o trabalho voluntário e como as ações os impactam positivamente. Foi aí que os dois decidiram fazer projetos sociais juntos, o que durou por cerca de dois anos.
Juntos, eles fizeram ações sociais no Hospital do Câncer de Maringá, no Paraná, que incluiu uma peça do Rei Leão às crianças. Os dois também foram em uma casa de ex-moradores de rua em Santo Antônio de Lisboa, bairro de Florianópolis, que busca ajudar as pessoas a se reestruturarem para, posteriormente, conseguir o próprio sustento.
— Foi um papo bem divertido que desenrolou em projetos sociais bem lindos. E isso começou em uma conversa com um Uber, eu falo um Uber especial, porque ele é uma pessoa muito, muito querida — diz Larissa.
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Afonso tem 63 anos e morou em Santa Catarina por 40 anos, o que ele chama de “2/3 da vida dele”. Ele teve os dois filhos em Florianópolis e se diz apaixonado pelo Estado, além de já ter visitado várias partes das terras catarinenses.
O ex-bancário, que detesta ser chamado de “senhor”, começou a atuar como Uber oficialmente em 2020 na capital catarinense. Naquela época, o carro ainda não era decorado com a temática de natal, mas Afonso já o enfeitava em datas especiais e fazia algumas ações.
Em um ano, no Dia Das Mulheres, ele comprou 10 suculentas e entregou as plantas para as primeiras 10 passageiras. As restantes ganharam bombons.
Mesmo sem o carro decorado, ele já era conhecido como Papai Noel pela maioria dos passageiros devido à aparência e o estilo steampunk, um subgênero da ficção científica que combina elementos retrofuturistas com a estética da era industrial.
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No aplicativo, consta que Afonso já fez quase seis mil viagens. Ainda assim, ele tem a nota perfeita: cinco estrelas.
Mas o bom velhinho não seria o bom velhinho sem ao menos uma de suas renas. Blitzen é uma “vira-lata legítima”, diz ele, adotada há três natais. O nome é inspirado em uma história de Natal, onde uma das renas do Papai Noel leva o mesmo nome. A companheira tem até uma conta no Instagram.
Conheça Blitzen
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Blitzen acompanha Afonso em várias ações. Uma delas foi na loja de Jamilly Segala Back, de 32 anos. A proprietária o conheceu em 2021 durante uma viagem de Uber.
— Na época, o carro ainda nem era decorado como é hoje. Mas ele era um senhor de barbas brancas — brinca Jamilly.
Durante a conversa com a passageira, ele comentou que trabalhava como Papai Noel.
— Eu comentei com ele que minha mãe adorava muito o Papai Noel e que é louca por Natal. Quando a gente chegou na loja [de propriedade de Jamilly] minha mãe estava lá e ele esperou ela vir até o carro para que ela “visse o Papai Noel”, foi super atencioso — conta ela.
Na ocasião, Afonso entregou o cartão que leva no carro até hoje, que Jamilly guardou. Três anos depois, em 2023, a loja dela começou a trabalhar também com decoração de natal.
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— A gente queria fazer um evento para lançar o Natal na loja, e eu lembrei dessa história e aí fui procurar nas minhas caixinhas e achei o cartão. Liguei para o Afonso, que prontamente já embarcou na ideia do que a gente ia inventar. A gente teve um trio elétrico, uma carreata que passou por Santo Antônio de Lisboa distribuindo rosas. Foi um evento muito legal, e ele foi super criativo — recorda ela.
Os trajes de Afonso são confeccionados na costureira, mas é ele quem compra os tecidos. Ele tem o traje vermelho e o traje verde, cor da roupa original do Papai Noel, além dos trajes no estilo steampunk.
Veja os trajes
Há cerca de duas semanas, Afonso se mudou para Londrina, no Paraná, onde passou a infância. Ele é natural de São Paulo, mas lá, “só nasceu”. Como um dos filhos mora na capital catarinense, ele diz que vai continuar retornando a Florianópolis, inclusive como Papai Noel.
*Sob supervisão de Andréa da Luz
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