O dono de duas clínicas estéticas de luxo instaladas em Balneário Camboriú e Joinville preso nesta terça-feira (15) foi apontado pelo Ministério Público como chefe de uma organização criminosa que receitava medicamentos com prescrição médica falsa e fórmulas alteradas. O esquema contava com participação de nutricionistas, demais profissionais da saúde e até parentes do coach, incluindo a mãe dele. As informações foram repassadas em coletiva de imprensa com participação da Polícia Civil, Gaeco e Polícia Militar.

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Perícia investiga mais de 50 substâncias apreendidas com coach de emagrecimento de SC

Segundo a promotoria de Justiça, o suspeito é proprietário da Clínica F Coaching e trata-se de Felipe Francisco, de 39 anos. A reportagem do A Notícia conversou, presencialmente, com a defesa do empresário, que informou que iria manifestar-se posteriormente. O advogado Sérgio Andrade disse que ainda iria se inteirar das denúncias contra seu cliente.

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Esta é pelo menos a segunda vez que Felipe é preso. Em 2017, ele foi detido e, dois anos depois, condenado a oito anos de prisão pela Justiça do Paraná por atuar como nutricionista sem ter formação na área e vender medicamentos sem registro. O homem tinha uma clínica com outro CNPJ e, à época da prisão, a Polícia Civil havia informado que pacientes de Ponta Grossa (PR) passaram mal após usar os medicamentos.

Na ocasião, ele cumpriu poucos meses de prisão e foi solto em medida cautelar. Já em Joinville, abriu outro negócio em uma área nobre, que ocupa uma esquina da cidade e possui uma fachada de vidro. No local, chegou a atuar usando tornozeleira eletrônica e conseguiu abrir o novo espaço com a função de coach, sem a necessidade de formação ou registro profissional.

Segundo a promotora de Justiça Elaine Rita Auerbach, em 2021 ele obteve um diploma de nutricionista, mas há a suspeita de que o documento seja falsificado, já que ele apresentava diversos atestados médicos na instituição de ensino e não participava de trabalhos universitários.

Entre os presos nesta primeira fase da Operação Venefica estão dois médicos, nutricionistas e biomédicos suspeitos de fazer parte do esquema criminoso. Enquanto acontecia a coletiva, de acordo com o delegado regional Rafaello Ross, outros nutricionistas foram detidos em flagrante e levados à sede da Divisão de Investigação Criminal (DIC) para prestar esclarecimentos.

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Além dos mandados de prisão preventiva em Joinville (4), Garuva (1) e Blumenau (1), foram cumpridos 50 mandados de busca e apreensão em Santa Catarina, Paraná e em São Paulo. As clínicas em Joinville e Balneário Camboriú foram fechadas temporariamente, assim como duas farmácias de manipulação instaladas em Balneário Camboriú e Itapema.

Como funcionava esquema

De acordo com o delegado Ross, após a prisão em 2017, Felipe teria sofisticado o esquema criminoso para fugir do radar da Justiça. Para não levantar suspeitas, portanto, começou a fazer parcerias com nutricionistas, médicos e biomédicos para conseguir fazer as prescrições indevidas de anabolizantes, emagrecedores e fitoterápicos. Ele também contava com esses profissionais para fazer a aplicação de injetáveis dentro da própria clínica.

Ainda conforme a promotora Elaine, o coach, em muitas ocasiões, criava as próprias fórmulas sem base científica, visto que não possuía formação na área.

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— Ele contratava e pagava médicos para prescrever medicamentos, sempre com documentos falsificados. Ele fez aliança com farmácias de manipulação pra fazer a venda casada de medicamentos superfaturados, enganando os compradores — explica a promotora.

Esses medicamentos, segundo o Ministério Público, eram trazidos de forma clandestina de outros países e também por outros meios. As investigações apontam que as farmácias de manipulação sabiam que o medicamento era modificado.

Inclusive, a maior parte dos lucros da organização criminosa vinha da venda desses remédios. Para faturar mais, as receitas eram prescritas por um preço e se cobrava um valor mais alto por determinado remédio, porém nem sempre era utilizado o rótulo da receita, ou o composto era adicionado em menor quantidade.

Na maioria das vezes, os clientes não tinham acesso a essas receitas e não tinham direito a escolher onde comprar o produto, já que as guias eram enviadas pela própria clínica aos envolvidos no esquema.

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Além das clínicas em Balneário e Joinville, segundo a promotoria, Felipe tinha filiais em Pirabeiraba, Brusque e o objetivo era expandir ainda mais.

Carros de luxo e outros bens em nome de laranjas

O delegado Rafaello Ross citou que o coach começou o esquema com a ex-esposa, no entanto, após a separação, ele colocou amigos e parentes na organização, incluindo a própria mãe. Os bens raramente estavam no nome do suspeito e essas pessoas teriam sido utilizadas como laranjas pelo empresário, que passou carros de luxo e imóveis no CPF delas.

Após a ação, os veículos e as contas bancárias com os CPFs e CNPJs presentes na investigação foram bloqueados pela Justiça, incluindo valores em criptomoeda.

A apuração inicial mostra que a empresa lucrava, pelo menos, R$ 200 mil mensais. Porém, de acordo com o delegado Neto Gattaz, responsável pelo caso, Felipe sonegava impostos.

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— Esse valor era o que ele lançava, mas acredita-se que o faturamento era muito maior — destacou o investigador.

Taquicardia e disfunção erétil

A Polícia Civil diz que ainda não é possível saber quantas pessoas foram lesadas, mas clientes que denunciaram o empresário ao longo das investigações relataram taquicardia, disfunção erétil e manchas pelo corpo após consumirem os medicamentos prescritos no estabelecimento do coach.

Além de remédios irregulares, a polícia diz que eram comercializados medicamentos vencidos e não refrigerados corretamente.

A F Coaching, inclusive, funcionava sem licença sanitária, segundo o Ministério Público, e foi interditada pela vigilância municipal. Só nesta tarde, em uma das unidades do coach, havia 112 pacientes agendados para atendimento.

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Nas redes sociais das clínicas, há publicações sobre emagrecimento, além de fotos com supostos resultados de clientes que adquiriram os serviços da rede e promessas de “transformação”.

Agora, as investigações seguem a fim de analisar documentos, aparelhos telefônicos, substâncias e medicamentos de receita controlada e sem procedência que foram apreendidos, a fim de identificar outros possíveis parceiros do esquema.

Inicialmente, há pelo menos 25 investigados.

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