“Desempregado, endividado, nervoso, aporrinhado à beça, Domingos Tertuliano Tive abriu a janela de sua quitinete, escarrou em Florianópolis” e reclamou da cidade, onde “não encontra um miserável emprego”. Bastante atual, ele é um famoso personagem de crônicas publicadas em jornal nos anos 1980, que depois foram reunidas em um livro e, 30 anos mais tarde, protagonista de um curta-metragem. O criador, o escritor Jair Francisco Hamms, retratou o perfil do ilhéu astuto em sequências de diálogos, histórias e cenários representativos da Ilha de Santa Catarina.

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Mas Domingos poderia apresentar bem outros sotaques. O autor explora a ironia e o hilário de situações do cotidiano. Criatividade e perspicácia se estendem pelas 32 crônicas reunidas no livro “O detetive de Florianópolis”. Por falta de alternativa de emprego, Domingos Tertuliano Tive se aventura a desvendar “causos” como o “Segredo da viúva Quinha” e “Os dólares de Chapecó”. Inspirado nessa obra, o curta-metragem “D.T.Tive” foi lançado em 2013, com financiamento de lei de incentivo à cultura e exibição gratuita.

Outra publicação do escritor, “A Sobrinha da Senhora Dodsworth”, já havia sido adaptada para o cinema, em 2002, com o premiado curta-metragem “Alumbramentos”. Retrata o fascínio do autor pela palavra, como um novo mundo a descobrir. Do encantamento representado no livro e filme pelo menino Francisco, Hamms se tornou um escritor habilidoso no uso das palavras e grande conhecedor dos regionalismos catarinenses, sendo colaborador de Aurélio Buarque de Hollanda para a elaboração do Grande Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa.

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Escreveu oito livros e participou da coletânea “13 Cascaes”, que reuniu 13 contistas, como os renomados Salim Miguel, Eglê Malheiros e Silveira de Souza. Estreou na literatura com “Estórias de Gente e Outras Histórias”, lançado em 1971. A última obra – em parceria com Flávio José Cardozo – foi  “Batuque bem temperado”, publicada em 2009, três anos antes de seu falecimento, aos 76 anos.

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Bisneto de imigrantes alemães, ele nasceu em 1935, em Florianópolis. Formou-se em Direito e atuou em diversas áreas: além de escritor, como jornalista, publicitário e professor na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde também foi chefe de gabinete da reitoria e exerceu outras funções administrativas. Colaborou ainda no governo do Estado. Tornou-se membro da Academia Catarinense de Letras em 2004. Morreu em 2012.

*Texto de Gisele Kakuta Monteiro

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