O mais recente livro do catarinense Godofredo de Oliveira Neto, “Esquisse”, ainda não tem data para o lançamento no Brasil. A obra foi publicada em junho, na França, pela editora Envolume, a mesma que já traduziu outras duas publicações dele. O conjunto do trabalho como romancista e contista – com cerca de 20 livros – é marcado pela relação da literatura com a história. A publicação mais representativa dessa associação é “O Bruxo do Contestado” (1996), que apresenta fatos que seriam inéditos da Guerra do Contestado, conhecidos pelo autor por meio dos relatos de um familiar que participou do combate.
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No ano seguinte, lançou “Pedaço de Santo” (1997) abordando as adversidades vividas pelas minorias, tema bastante particular para o escritor na compreensão da própria identidade. Ele é descendente de imigrantes alemães e italianos no Brasil, que sofreram com os impactos da Segunda Guerra Mundial, como a proibição de falarem na língua materna.
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Oliveira Neto nasceu em Blumenau, em 1951. Quando criança, gostava das aulas de literatura e ainda se recorda da professora “dona Frida”, que apresentou as obras de Machado de Assis, quando tinha por volta de 10 anos. Na adolescência, passou a escrever – inicialmente, poesias e, depois, prosa. Quando ingressou no curso Clássico (correspondente ao Ensino Médio atual), participou do movimento estudantil, despertando a visão crítica para questões sociais e sentindo-se mais motivado a ler, apesar da maioria dos colegas não manter esse hábito.
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Mudou-se para o Rio de Janeiro para fazer a faculdade. Por causa de alguns textos, foi intimado a prestar depoimento na época da ditadura. O desaparecimento de amigos na mesma situação o fez exilar-se na França, onde morava uma amiga com quem se casaria mais tarde. Em Paris, formou-se em Letras e cursou mestrado na Universidade de Sorbonne. De volta ao Brasil, fez o doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde é professor desde os anos 1980.
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Além de “Esquisse”, outros dois romances foram traduzidos para o francês: “Menino oculto” (2005) e “Amores Exilados” (2011), este sobre os exilados políticos durante a ditadura no Brasil, que recebeu destaque da crítica literária. “Ana e a margem do rio” (2002) foi publicado na Bulgária e recomendado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil.
O escritor catarinense recebeu premiações como a Medalha Euclides da Cunha da Academia Brasileira de Letras e a Medalha Cruz e Sousa do Estado de Santa Catarina, além do segundo lugar no Prêmio Jabuti (2006) para a obra “Menino Oculto”. É membro desde, 2018, da Academia Catarinense de Letras e também integra a Academia Carioca de Letras.
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No último dia 25, o escritor catarinense concorreu a uma das cadeiras da Academia Brasileira de Letras (ABL). A cadeira 39, que pertencia a Marco Maciel, acadêmico e vice-presidente da República nos dois governos de Fernando Henrique Cardoso – falecido no dia 12 de junho deste ano –, ficou com o romancista e advogado José Paulo Cavalcanti.
*Texto de Gisele Kakuta Monteiro
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