Uma nova ativista pela justiça climática, defensora dos povos indígenas e uma das vozes jovens que mais se destacam na luta pela proteção do planeta vem se destacando no cenário internacional. Trata-se da mexicana Xiye Batisda, de 22 anos. A jovem é formada em Estudos Ambientais com Concentração em Política e Estudos Latinoamericanos na Universidade da Pensilvânia e acredita que esta é a “geração da crise climática”. As informações são do Valor Econômico.
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— Todos os jovens da minha geração presenciaram ou viveram um desastre climático. E não apenas um, mas vários. Isso é o que nos define em todas as partes do mundo: somos uma geração da crise climática. É algo que herdamos e é algo que iremos combater — diz Xiye.
A mexicana foi uma das organizadoras da marcha pelo clima que reuniu mais de 300 mil pessoas em Nova York, em 2019, a maioria, jovens. Em abril de 2021 falou para 40 líderes durante a cúpula climática organizada pelo presidente Joe Biden. Meses depois, em Glasgow, na COP 26, discursou por quatro minutos a 126 presidentes e chefes de Estado. Em parte de seu discurso, Xiye diz:
“Hoje quero falar sobre a crise climática como uma injustiça geracional”, disse.
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“Em 2050 eu terei 48 anos. E quando olhar pela janela, vou ver o mundo que vocês estão negociando nesse exato momento. Como a Terra irá parecer? (…) E em vez de tentar consertar os danos que as antigas gerações causaram, os estamos aumentando a cada dia em que deixamos de agir, o que representa uma profunda imoralidade ética. Uma imoralidade de desconexão com o lugar que chamamos de casa.”
Perspectiva mudou aos 13 anos
Quando tinha 13 anos, San Pedro Tultepec, onde Xiye Batisda vivia no México foi devastada por um evento climático extremo. Os pais, que se conheceram na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio 92, decidiram se mudar para os Estados Unidos com a família.
— Minha cidade ficou debaixo d’ água. Foi a primeira vez que vi os impactos da crise climática, e minha história não é única. Mudou a minha vida e sei que essas histórias estão mudando a vida de jovens praticamente todos os dias (…) Foi a experiência que mudou a minha vida. A inundação mudou a minha perspectiva radicalmente. Eu sentia que tinha que começar naquele momento a agir — disse a jovem ao Valor Econômico.
Filha de Geraldine, de nacionalidade chilena, e de Mindahi, do povo indígena otomi, do centro do México, a jovem diz que é ativista do meio ambiente por influência dos seus pais, e por tudo que a família passou. O casal trabalhou no Center for Earth Ethics, na Universidade de Columbia, em Nova York, na intersecção de valores, espiritualidade, educação e engajamento cívico.
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Xiye Batisda visitou o Brasil
Cofundadora da iniciativa Re-Earth, que busca prover recursos e conhecimento sobre a crise climática às comunidades que estão na linha de frente, Xiye visitou o Pará e conheceu a floresta tropical. Depois, seguiu para São Paulo e ali visitou os guarani que vivem na Terra Indígena Jaraguá. A jovem diz ter sido uma experiência forte.
O motivo da vinda ao Brasil foi participar do evento que tornou o climatologista Carlos Nobre o primeiro brasileiro a integrar o seleto grupo dos Planetary Guardians, em maio deste ano. O grupo é um coletivo estelar, de 19 lideranças climáticas globais que se baseia na ciência que estuda os limites planetários. Xiye faz parte do coletivo desde a fundação, em 2023.
Ao ser questionada sobre o desastre climático que ocorreu no Rio Grande do Sul, Xiye diz que a comunicação é um importante ponto para as pessoas entenderem que se trata não apenas de uma crise ambiental, mas uma crise de saúde, humanitária, migratória.
— Quando as pessoas perdem suas casas e modos de vida, a última coisa que estão pensando é como contribuir para o ambiente. Estão preocupadas com o que perderam, em buscar comida, que estão perdendo dias no trabalho, receita, a escola dos filhos. A última coisa que estará nas suas cabeças é o conceito de que todos devemos trabalhar para proteger o ambiente. É por isso que a comunicação é tão importante (…) Precisamos estar engajados em contar a história inteira da crise climática. Quando se entender que aquilo foi um desastre climático, as pessoas poderão se envolver e questionar se sua comunidade é resiliente às inundações e ondas de calor, se há segurança alimentar.
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A jovem também falou sobre o conceito de ansiedade climática, que atinge sua geração:
— É por isso que é preciso envolver os jovens. E estimular histórias de um futuro bonito e que podemos participar dele.
Recado aos jovens brasileiros
Aos jovens brasileiros, a ativista incentiva a ocuparem cargos de liderança, e se levantarem para também fazer parte da conversa sobre como salvar o mundo.
— Queria dizer que jovens que lutam por justiça climática estão interconectados globalmente. Estamos nos comprometendo a vir à COP 30, no Brasil, para construir as raízes que faltam na discussão dos governos. São raízes de conexão, porque é assim que humanos são. Só trabalhamos juntos quando fazemos conexões. O legado que temos que deixar é que seremos todos protetores do planeta — diz Xiye.
*Sob supervisão de Andréa da Luz
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