Ele viveu ao lado do maior narcotraficante da história. Nascido Juan Pablo Escobar, por questão de sobrevivência, mudou seu nome para Sebastían Marroquín. Morando em Buenos Aires, Sebá vive um dia de cada vez. Em 2015, com a estreia de Narcos, o nome de Pablo Escobar voltou ao holofote. Isso incomodou Marroquín, que considera a série do Netflix uma mentira. Hoje, o homem de 38 anos tem dias de paz. Condena o passado violento de Escobar, mas não o condena como pai, amigo e companheiro. Diretamente da Argentina, ele conversou com a equipe do ATL Paper sobre Narcos, infância e drogas.
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Não sei como tu vives hoje. Bom, escreveste um livro, todas as pessoas sabem que és filho de Pablo Escobar. Como vives o dia-a-dia? Como vives com isso? A troca do nome foi por causa disso, pelo preconceito? Como aconteceu?
A troca de nome aconteceu por uma razão muito clara. Nos queriam mortos na Colômbia. Na época em que meu pai recentemente havia falecido, a pressão de nosso próprio governo para que os outros países do mundo não nos recebessem nos obrigou a trocar a identidade para recuperar o direito de viver a ter educação. A troca do nome nunca deve ser interpretada como uma renúncia ao parentesco, nem ao afeto que há em relação ao meu pai. Simplesmente, trocamos de nome porque o mundo estava nos excluindo e discriminando. E não nos dava a oportunidade de termos um lugar para viver em paz e tranquilidade. Esse é o único motivo, no fundo, para trocarmos de nome.
Qual a lembrança afetiva mais importante que sentes em relação aoteu pai?
Meu pai foi um grande amigo, uma pessoa que sempre falou de frente, que nunca me disse mentiras sobre suas atividades, nem sobre suas ações. Sempre me educou com muito amor, apesar de ter sido um homem muito violento fora de casa. No interior da família, ele se comportava como um bom pai. Eu não tenho questionamentos a respeito da figura de pai, e sim à figura de bandido, narcotraficante, que decidiu seguir. Mas tenho grandes sentimentos por meu pai, porque me educou com muito amor.
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Narcos é um fenômeno mundial, mas não gostaste do que viste na tela. O que há de verdade e o que há de mentiras em Narcos?
Teria que escrever um livro sobre todas as mentiras que mostram em Narcos. Mas uma coisa que principalmente me chateia é que eu não estou morto. Vocês puderam me contatar facilmente e creio que a produção do Netflix poderia ter entrado em contato comigo para poder entender a história em sua verdadeira dimensão. Me parece que sair a vender ao mundo uma história como a verdadeira, sem consultar a viúva e os filhos do homem sobre o qual estão fazendo uma biografia não autorizada, é um ato de irresponsabilidade frente ao público que quer saber a verdade. Nas letras pequenas dos contratos eles dizem que esta é a história verdadeira, mas que qualquer semelhança com a realidade é uma simples coincidência. O que é claramente uma estratégia para não responder à família. Neste caso, a nós. Pelos direitos que correspondem ainda ao meu pai e, se não ao meu pai, por ser uma pessoa pública, perante a minha própria vida, da minha irmã e da minha mãe. Estamos vivos e não autorizamos ninguém a falar de nossas vidas.