O governo de Carlos Moisés (PSL) enfrenta um desafio duplo: controlar o avanço do coronavírus no Estado e também uma crise política causada pela polêmica compra de respiradores com pagamento adiantado de R$ 33 milhões, em que os equipamentos até o momento não foram entregues.
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Desde que a polêmica compra veio à tona, no fim de abril, quatro secretários ou membros de primeiro escalão já deixaram o governo Moisés por conta dos efeitos da crise dos respiradores. A investigação já apontou até mesmo menções ao governador em conversas de um dos investigados, negadas por ele em depoimento à CPI, mas que fizeram com que a apuração fosse remetida ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília.
Confira abaixo todos que deixaram o governo até agora na crise dos respiradores e por quê:
Helton Zeferino
Ex-secretário de Estado da Saúde

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Zeferino foi o primeiro a deixar o governo por causa da crise dos respiradores, ainda em 30 de abril. Ele pediu exoneração do cargo dois dias após a reportagem do portal The Intercept Brasil revelar as suspeitas de irregularidades sobre a compra dos respiradores, feita pela Secretaria de Saúde. Zeferino chegou a ser alvo de um pedido de afastamento feito por deputados estaduais, mas não acatado pelo governo. Havia sido na gestão dele que o Estado enfrentou os primeiros 45 dias de pandemia do novo coronavírus.
Douglas Borba
Ex-secretário de Estado da Casa Civil

Dez dias depois, foi a vez do então chefe da Casa Civil, Douglas Borba, pedir exoneração do posto, em 10 de maio. O cargo é considerado uma espécie de braço direito do governador por articular o trabalho de todas as secretarias. A saída de Borba do governo ocorreu após o ex-secretário ter o nome envolvido na investigação que apura as irregularidades na compra dos respiradores.
Na ocasião, Borba disse que pedia para deixar o cargo para que pudesse “cuidar de sua defesa e seguir colaborando com as investigações”. Borba foi preso preventivamente em 6 de junho, e permanece detido em cela especial no Centro de Ensino da Polícia Miltar, em Florianópolis. Ele é suspeito de ter indicado um dos intermediários que atuaram em nome da empresa Veigamed, que vendeu os respiradores ao Estado. O ex-secretário nega as acusações.
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Amandio João da Silva Junior
Ex-secretário de Estado da Casa Civil

Quem assumiu a chefia da Casa Civil no lugar de Douglas Borba ainda no início de maio foi Amandio João da Silva Junior. E ele deixou o governo depois de apenas um mês e meio à frente da pasta. A exoneração de Amandio foi publicada no dia 26 de junho. A saída do governo ocorreu depois que Amandio foi citado em um depoimento da CPI dos respiradores, que analisa a polêmica compra na Assembleia Legislativa (Alesc). Segundo o relator, o deputado estadual Ivan Naatz, Amandio teria participado de uma videochamada com um dos investigados no caso dos respiradores, o empresário Samuel Rodovalho.
Em nota, Amandio disse que a conversa ocorreu antes de ele assumir o cargo e que se referia a um possível negócio envolvendo um projeto de drive thru para testes de covid-19. “Um negócio privado, transparente e que acabou não acontecendo”, alegou, em nota, no dia 23 de junho, três dias antes de deixar a secretaria. O atual titular da Casa Civil é Juliano Chiodelli.
Luiz Felipe Ferreira
Ex-controlador-Geral do Estado

A queda mais recente do governo Moisés foi a do agora ex-controlador-geral do Estado, Luiz Felipe Ferreira. Ele pediu exoneração em ofício no dia 29 de junho, alegando motivos “de caráter pessoal”. O então controlador prestou dois depoimentos à CPI dos respiradores, que também chegou a aprovar um requerimento pedindo o afastamento dele do cargo.
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Responsável pelo controle interno de processos e compras do governo, Ferreira foi cobrado pelos deputados sobre por que a Controladoria Geral do Estado (CGE) não agiu para evitar o pagamento dos R$ 33 milhões na compra dos respiradores. O órgão foi criado na gestão de Carlos Moisés para esse monitoramento interno dos processos. O então controlador alegava que o órgão não havia sido acionado pela Secretaria de Saúde. A CGE também fez um relatório em que apontou possível conduta de improbidade de dois ex-secretários – Zeferino e Borba – e infrações de mais seis servidores envolvidos com a compra.
Um dos servidores é o atual secretário de Estado da Saúde, André Motta Ribeiro, secretário-adjunto da pasta na época da compra dos respiradores. Ele chegou a ser alvo de um pedido de afastamento aprovado pelos deputados estaduais, mas não atendido pelo governo, e permanece no cargo. Motta Ribeiro também prestou depoimento à CPI sobre o que sabia da compra dos respiradores.
O novo controlador-geral do Estado é o auditor de carreira Cristiano Socas da Silva.
Baixas em outros escalões
Além das baixas no primeiro escalão, o governo do Estado também amargou outras baixas em cargos auxiliares, adjuntos ou de segundo escalão por causa da crise dos respiradores. Um dos casos foi o da servidora Márcia Geremias Pauli, então superintendente de Gestão Administrativa e responsável por conduzir a compra dos respiradores. Ela foi exonerada do cargo no dia em que as acusações sobre o contrato dos respiradores veio à tona, em 28 de abril. Ela é servidora de carreira e permanece em outra função.
Outro servidor da Secretaria de Saúde que participou do processo de compra, Carlos Charlie Campos Maia, e que chegou a depôr como testemunha na CPI dos respiradores, também foi exonerado em junho.
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Na Secretaria de Estado da Casa Civil, junto com o secretário Amandio João da Silva Junior, deixou o cargo o assessor especial da pasta, Sandro Yuri Pinheiro. Sandro também participou da videochamada com um dos investigados na compra dos respiradores divulgada pelos deputados estaduais na CPI dos respiradores.
Na Controladoria-Geral do Estado, nove servidores pediram exoneração de cargos de confiança e chefia da CGE, incluindo a controladora-geral adjunta, Simone Becker. O pedido ocorreu no último dia 26. As saídas também têm relação com a polêmica sobre a falta de ação do órgão no processo de compra dos respiradores.