Berlim é uma só há quase três décadas (a reunificação da Alemanha, na prática, ocorreu apenas em 1990), mas as diferenças entre os lados ainda existem. Embora tenha havido um maciço investimento no lado oriental, principalmente quanto à infraestrutura, algumas questões que envolvem cultura e comportamento das pessoas ainda mostram diferenças. É isso que apontam catarinenses que vivem na capital alemã – mesmo aqueles que moram há pouco tempo por lá.

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É o caso do blumenauense Jean Pereira. Desenvolvedor de sistemas, ele se aproveitou de uma virtude do mercado no Vale do Itajaí para construir a carreira profissional e buscar espaço na Europa. Em Berlim, o jovem trabalha ao lado de outros estrangeiros e diz que percebe a diferença principalmente ao comparar os mais velhos com os mais novos. Pereira aponta que as pessoas com menos de 30 anos se mostram mais “receptivas, abertas e pró-ativas” em comparação àqueles que viveram os tempos do Muro de Berlim.

– Hoje vejo que o lado Leste é muito mais ativo culturalmente, tem mais opções de restaurantes, festas, com mais pessoas nas ruas, piqueniques. E o lado Oeste, que era capitalista, é mais parado, com pessoas mais reservadas, um pouco mais “chique”, digamos. É mais fácil ver essa Berlim cosmopolita do lado que era controlado pela União Soviética – aponta o blumenauense.

Jean Pereira, blumenauense que mora há um ano em Berlim.
Jean Pereira, blumenauense que mora há um ano em Berlim. (Foto: Rodrigo Fruc, Spry Vídeo)

O catarinense Günther Giese, que mora há quase 40 anos em na capital da Alemanha, tem uma visão mais ampla quando cita as duas Berlins do passado e a Berlim do presente. Ele explica que na cidade as instituições são duplas: desde teatros, até museus, embora alguns tenham sido fechados após a queda do muro. A orquestra onde Günther canta, por exemplo, tem sempre que fazer duas apresentações, uma no lado Ocidental, e outra no lado Oriental, mesmo nos dias de hoje. Uma questão de hábito:

É algo que muda entre os mais novos, mas com os mais velhos, não. Na ópera onde trabalho há muitas pessoas que foram socializadas na parte comunista, e percebo até hoje a maneira de eles se articularem, de se vestirem. Foram mantidos os costumes, mas não por falta de recursos, e sim por mentalidade.

De fato, dados do ano passado mostram diferenças entre os dois lados da capital alemã. Conforme a agência federal para o emprego, um funcionário do lado Ocidental ganhava, em média, 3,3 mil euros por mês, enquanto um trabalhador do lado Oriental, 2,6 mil euros. Até agosto, a taxa de desemprego era de 4,8% no Oeste, contra 6,4% no Leste. Na Alemanha como um todo, o desempenho econômico também mostra contrastes, com o lado antes controlado pela União Soviética representando apenas 74,7% do PIB do lado historicamente capitalista.

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