Um ano depois do sequestro de um helicóptero que caiu e causou a morte de três pessoas na zona Sul de Joinville, ainda há investigações sobre o acidente em andamento. O processo judicial já teve sentença no final do ano passado, com a condenação de quatro pessoas envolvidas no crime, mas ainda falta a conclusão do trabalho realizado pelo 5º Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa).

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O órgão representa regionalmente o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) e esteve no local no dia do acidente para retirar partes da aeronave para análise, além de reunir documentos e relatos de testemunhas. O objetivo é apurar as prováveis causas da queda com objetivo de reunir subsídios que ajudem na prevenção de novos acidentes nestas circunstâncias. O Seripa concluiu o trabalho e repassou o relatório ao órgão nacional para análise, antes da divulgação dos documentos.

Envolvidos no crime já foram julgados

Mesmo sem o resultado da análise do que causou a queda do helicóptero, a Polícia Federal concluiu o inquérito porque avaliou que o laudo não mudaria o rumo das investigações. Os indiciados foram Bruna Talita Iastrenski, Creuzinei Artmann Cunha e Roni Telmo Teixeira, que teriam ajudado a planejar o resgate de Paulo Henrique Artmann dos Santos (conheci Calango), preso por tráfico de drogas na Penitenciária Industrial de Joinville.

Eles teriam participação na ocultação de provas, falsificação de documentos, planejamento e apoio à tentativa de libertação do detento. Segundo a Polícia Federal, todos eles tinham ligação familiar ou de amizade com Paulo Henrique, que também foi denunciado, assim como Daniel da Silva (único sobrevivente da queda).

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A investigação apontou que Paulo Henrique contratou Daniel e Ivan Alexssander Zurman Ferreira (morto no acidente) para resgatá-lo na penitenciária. A dupla foi até Penha, onde contratou um voo panorâmico para Joinville usando a desculpa de sobrevoar um terreno.

Eles tinham a intenção de que o piloto pairasse sobre a penitenciária e, por meio de uma corda e uma cadeira de alpinista, fariam o içamento do Paulo Henrique. Ele seria levado até um local próximo, onde uma outra equipe o levaria para um esconderijo. O processo seguiu para o Ministério Público, que denunciou os cinco envolvidos ao Judiciário. Em dezembro, a Justiça Federal condenou quatro pessoas.

Paulo foi condenado a 14 anos, oito meses e 20 dias de reclusão pelo sinistro da aeronave e confecção de documento falso; Daniel pegou pena de 12 anos de reclusão pelo sinistro da aeronave e porte ilegal de arma de uso restrito; Roni e Creuzinei foram condenados a dois anos de reclusão, mas as penas foram convertidas a dois anos de prestação de serviços à comunidade e pagamento de dez e 15 salários mínimos, respectivamente.

Em relação a Bruna Iastrenski, foi realizado acordo com a Justiça para a suspensão condicional do processo por dois anos, já que a pena prevista para o crime ao qual ela foi denunciada era igual ou inferior a um ano de reclusão. Com isso, ela se comprometeu à comparecer trimestralmente ao Judiciário e ao pagamento de uma quantia estipulada pelo juiz.

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O trajeto

A aeronave, de prefixo PR HBB, modelo Bell 206B, da operadora Avalon Táxi Aéreo, que presta serviços de voo panorâmico para o parque Beto Carrero World, foi contratada para um passeio por dois homens: Daniel da Silva, de 18 anos, e Ivan Alexsander Zurman Ferreira, de 24. Eles informaram que gostariam de visitar um terreno em Joinville e efetuaram o fretamento do voo. A partida ocorreu em Penha, no Litoral Norte, por volta das 15h20 do dia 8 de março e deveria retornar ao mesmo local em cerca de 50 minutos.

O acesso dos suspeitos

As informações repassadas pela Polícia Federal revelam que, no dia do acidente, Daniel e Ivan foram até o posto da empresa, que fica no parque de diversões, e fizeram o fretamento. Foram pagos R$ 3,1 mil em dinheiro. Eles chegaram no local a bordo de um Honda Civic, conduzido por uma terceira pessoa, que não teve a identidade revelada pela polícia.

Os ocupantes

Dois funcionários contratados da operadora da aeronave estavam no voo: o piloto, Antônio Mário Franco Aguiar, de 57 anos, e o auxiliar de pista, Bruno Siqueira, de 20. Ambos morreram no local. Bruno trabalhava na Avalon há três meses e costumava a ajudar o piloto, mas raramente voava com o colega de trabalho.

Além deles, os contratantes do serviço, Daniel e Ivan, também embarcaram. O primeiro sobreviveu e está preso na Penitenciária Industrial. Segundo a polícia, Daniel tem passagens por tráfico de drogas.

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Luta na aeronave

Em depoimento à PF, Daniel disse que estava apenas acompanhando Ivan. O sobrevivente ainda teria dito que o sequestro foi anunciado ao piloto e ao auxiliar de pista apenas em Joinville. De acordo com o depoimento, houve uma luta dentro da aeronave entre os três mortos no acidente e que resultou em um disparo de arma de fogo, que não atingiu ninguém.

Duas armas foram encontradas no local da queda: um revólver com a numeração apagada e uma pistola fabricada no Brasil, que havia sido exportada para as Forças Armadas do Paraguai. A suspeita é de que ela foi extraviada em algum momento e acabou parando na posse de alguém que estava dentro do helicóptero.

A queda

Por volta das 15h45, a aeronave caiu nas proximidades da Penitenciária de Joinville, no bairro Paranaguamirim, na Zona Sul da cidade. Um vídeo registrou o momento da queda e mostrou que o helicóptero “despencou”, explodindo em uma fração de segundos. A derrubada da aeronave aconteceu a cerca de dois quilômetros distante da unidade prisional.

Aviso de sequestro

O Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta 2) não recebeu nenhum aviso de sequestro. De acordo com a Polícia Federal, mesmo que o piloto tivesse emitido o sinal, o Cindacta não receberia, já que o helicóptero normalmente sobrevoa abaixo da linha do radar.

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Câmera de segurança registrou momento da queda: