Anos de PIB magro esvaziam o bolso de qualquer um, seja pessoa física ou jurídica. Com menores receitas, as empresas são obrigadas a implantar programas de redução de custos, o que se traduz em restrições de viagens, hotéis, almoços de negócios, eventos, treinamentos, cursos de línguas e reembolso educação, assim como extensões no prazo de troca de veículos, computadores e celulares, só para citar os procedimentos mais comuns.
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Outra medida adotada com frequência é o famoso facão, apelido carinhoso dado pela rádio-peão às demissões em massa. Anos de casa, altos salários, baixa performance e reestruturação são as justificativas encontradas na hora do desligamento, sempre traumático para quem entrega a carteira de trabalho, devolve o crachá, esvazia a gaveta e diz adeus aos colegas, os quais apesar da comoção e dos abraços de despedida, dão graças a Deus por terem escapado.
Com cadeiras sobrando é hora de organizar as caixinhas ou o organograma da empresa, fundindo áreas, otimizando atividades, extinguindo cargos e agregando funções, cujo objetivo é tornar a empresa mais produtiva e eficiente, fazendo mais com menos. Esta etapa, também conhecida como fase de transição traz trabalho adicional, incerteza, desconforto e as chamadas áreas cinzas: atividades sem responsáveis ou processos definidos.
Cada colaborador reage de maneira diferente. Para ilustrar seu comportamento recorro a conhecidas analogias do mundo animal:
O avestruz, mesmo tendo sobrevivido ao facão, adota uma postura reativa e cautelosa, preferindo esconder-se a se envolver nos comitês e projetos que surgem em decorrência da nova configuração. O porco-espinho torna-se agressivo, questionando e duvidando das mudanças que o afetarão, sem contudo apresentar os motivos ou soluções.
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O galinha cacareja, faz barulho, sobe no poleiro, bota ovos e cisca ao redor das novidades, sem, contudo se aprofundar ou assumir responsabilidades. O polvo compra e adota as mudanças, liderando de maneira proativa as iniciativas mesmo quando não há respostas a todas as perguntas. Assume riscos e atua nas áreas cinzas, coordenando avestruzes, galinhas e porcos espinhos em projetos e comitês. Como faz muita coisa ao mesmo tempo parece ter vários braços, razão da analogia com o molusco.
Assim como sugere o próprio nome, esta etapa de transição um dia terminará, da mesma maneira que o grande dilúvio. Analisando o comportamento, o engajamento e as atitudes de seus colaboradores, será tarefa fácil aos dirigentes listarem os escolhidos para entrarem na arca quando a próxima estação de chuvas vier, até porque polvo já vive dentro d`água.