Na primeira conversa, ainda por telefone, Zezinho Carriço adiantou o objeto que traria para homenagear o amigo Arnaldo Costa. E assim foi. 

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– Escolhi a camiseta 2020 do Marisco da Maria. É a forma que tenho de reverenciar nosso saudoso, uma lembrança da última participação dele com a gente. Por sinal, o Arnaldo tinha um jeito peculiar de se apresentar no grupo de mensagens da diretoria do bloco e que nestes tempos faz uma falta enorme para todos nós: “Bom dia, marisqueiros!” – recorda Carriço, ao falar de Carocha, 69 anos, vencido pela Covid-19 em 31 de agosto.

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O apelido veio dos tempos de juventude, quando ele foi picado por uma carocha (inseto) numa pelada com amigos. O inchaço no rosto não tirou Arnaldo do campo, mas quando o juiz apitou o final da partida ninguém mais lembrava do verdadeiro nome dele. Saído da comunidade da Mariquinha, no Maciço do Morro da Cruz, Arnaldo começou a se envolver com o Carnaval de Florianópolis nos tempos das chamadas Grandes Sociedades, mais especificamente na Granadeiros da Ilha, onde começou a fazer os charmosos carros de mutação.

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Nos últimos anos, desfilava com a Velha-Guarda da Os Protegidos da Princesa e no Marisco da Maria. Carocha estava radicado em Tubarão. Sempre que vinha a Florianópolis, ele desafiava Carriço para uma partida de dominó. O último encontro foi num bar da antiga rodoviária, na Avenida Mauro Ramos, Centro da cidade: 

– Jogamos, tomamos cerveja e conversamos muito, inclusive sobre a pandemia. Como já tinha certa idade, ele estava preocupado em ser infectado – recorda Carriço. 

A companheira de Carocha, Simone Salgado, também se contaminou e precisou ser internada na UTI. Depois de dois meses de tratamento, ela conseguiu ter alta. Quando soube da ideia desta reportagem, Simone concordou que Zezinho Carriço estivesse presente.

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Carriço contou-lhe que a Covid-19 tinha sabotado um sonho de Carocha: o de construir um carro para o Marisco da Maria. Foi um momento de emoção. Lembra que este período de pré-Carnaval sempre é de muita aproximação com as pessoas, de correria nos barracões, busca por material, aglomero nos ensaios e eventos, ajuntamento nos bares e ruas. O samba propicia estes encontros que, independente das cores e bandeiras das agremiações, fortalece os laços de amizade.

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– Aquela batida do surdo ecoando no nosso peito deu lugar a um vazio trazido pela perda de pessoas queridas, como do amigo Carocha, a quem quero prestar uma singela amizade. Fique em paz amigo, mas saiba que você faz falta entre nós…

Familiares e amigos relembram personagens do Carnaval vítimas da Covid-19 em vídeo:

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