A Polícia Civil concluiu o inquérito sobre o incêndio em um caminhão da coleta de lixo em Jurerê Internacional, em Florianópolis, em março deste ano. Quatro pessoas foram indiciadas, três delas com conexão ao Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Florianópolis (Sintrasem), segundo o responsável pelo caso, delegado Verdi Furlanetto. O anúncio foi feito na tarde desta segunda-feira (9), em coletiva de imprensa.

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Um envolvido ainda não foi identificado. Esta pessoa teria dirigido o carro alugado pelo sindicato até Jurerê Internacional, onde o incêndio ocorreu. Lá, o executor do crime, que não teria ligação direta com o sindicato, teria jogado um galão de gasolina embaixo do veículo, detido os funcionários que atuavam na coleta com uma arma de fogo, e ateado fogo no veículo.

Os outros envolvidos foram indiciados por associação criminosa. Apesar de não terem participação direta no incêndio, segundo o delegado, eles teriam colaborado para a execução do crime. Já o executor foi indiciado por incêndio, associação criminosa, porte ilegal de arma de fogo, e constrangimento por uso de arma.

Ao todo, segundo o delegado, o inquérito policial, que levou seis meses para ser concluído, tem mais de 800 páginas. Foram 14 laudos periciais, e 15 oitivas, para chegar às conclusões. O relatório final, com mais de 200 páginas, será agora encaminhado ao Judiciário.

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Como o crime ocorreu

Segundo o delegado, para chegar até os envolvidos, foram analisados celulares e computadores, assim como imagens de câmeras de segurança, que mostram parte da ação, como a saída do carro alugado que seguiu o caminhão da coleta até Jurerê.

A investigação revelou que, por volta das 21h, um dos envolvidos sai do sindicato e faz contato com o executor, que sai da Lagoa da Conceição em direção à sede da Comcap, no Itacorubi. Lá, o executor pega o carro alugado em nome do sindicato, um HB20, volta para a Lagoa da Conceição, onde, segundo o delegado, pode ter pego as roupas pretas usadas por ele na noite do crime, a arma e o combustível usado para atear fogo no caminhão.

Trajado de preto, portando uma arma e com um galão de gasolina, ele e outro envolvido vão novamente até a Comcap, de onde o caminhão sairia, por volta das 22h40. Eles seguem o veículo até o Norte da Ilha.

— Eles vão seguindo o caminhão até encontrar um local mais tranquilo, onde não tem tanta gente, não tem tanta residência, para praticar esse delito — afirma o delegado Furlanetto.

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Lá, na Avenida dos Dourados, por volta das 23h, uma dupla (o executor e uma pessoa ainda não identificada) rende os trabalhadores e ateiam fogo ao caminhão. Na época, segundo o delegado, servidores da Comcap estavam em greve. No entanto, o veículo atingido foi de uma empresa terceirizada, que faz a coleta de resíduos no Norte da Ilha.

O que diz o Sintrasem

Em nota, o Sintrasem informou que “foi surpreendido nesta segunda-feira (9) com a farsa orquestrada a partir do inquérito”. O sindicato considera que “não há nada além de uma coleção de ilações e suspeitas frágeis. E, pior: com elementos que beiram o absurdo e que serão devidamente desmontados nas nossas defesas”.

Leia a nota na íntegra:

“Resposta ao inquérito policial que tenta criminalizar o Sintrasem e a luta dos trabalhadores
A direção do Sintrasem foi surpreendida nesta segunda-feira (9) com a farsa orquestrada a partir do inquérito que busca apurar as circunstâncias do incêndio do caminhão de lixo da empresa terceirizada, no dia 12 de março – primeiro dia de greve unificada da PMF e Comcap.
Em entrevista coletiva hoje, às 14h, no auditório da Delegacia-Geral, a Polícia Civil de Santa Catarina apontou para o indiciamento de quatro pessoas ligadas ao sindicato.
Apesar da conclusão do inquérito, não há nada além de uma coleção de ilações e suspeitas frágeis. E, pior: com elementos que beiram o absurdo e que serão devidamente desmontados nas nossas defesas.
Por que somente agora, a menos de 30 dias do primeiro turno das eleições, é apresentado o relatório sobre o fato ocorrido há seis meses?
Para o Sintrasem, trata-se de um objetivo claro de interferir no processo eleitoral, tentando criminalizar trabalhadores que lutam no sindicato contra a política de terceirizações e os desmandos de governos.
A direção do Sintrasem colaborou com as investigações desde o início. Foram entregues à polícia registros de câmeras e aparelhos celulares.
Como não temos nenhum vínculo com o fato, nada foi encontrado – e nem será – que pudesse criminalizar nossa entidade.
Todos conhecem os métodos de luta que usamos há mais de 35 anos: mobilizações de rua e greves na defesa da democracia, dos direitos dos trabalhadores e de um serviço público de qualidade para população e contra qualquer tipo de coação ou assédio a qualquer trabalhador, inclusive terceirizados.
Enfrentaremos mais esta batalha com a firmeza e a tranquilidade que sempre fizemos – pois não cometemos crime algum.”

Veja fotos do caminhão incendiado

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