Chovia muito em julho de 1983 e as capas dos jornais davam atenção total ao desastre que ocorria em várias cidades de Santa Catarina. Joinville era uma delas. Sofria com alagamentos, e várias famílias estavam desabrigadas. Mesmo assim, o jornal “A Notícia” garantiu espaço para o registro do primeiro dia daquele que se tornaria o mais importante evento de dança do País. Entre 10 e 15 de julho de 1983, foram publicadas três matérias sobre o Festival de Dança de Joinville — uma delas, noticiando que os bailarinos premiados estavam doando a quantia em dinheiro que receberam aos joinvilenses desabrigados pela chuva.

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Em poucos anos, não só o espaço aumentaria, mas também o número de páginas, que se tornariam cadernos especiais sobre o Festival de Joinville. Atual presidente do Instituto Festival de Dança, o jornalista Ely Diniz da Silva Filho recorda de, ao chegar à cidade no fim dos anos de 1980, já encontrar muitas páginas dedicadas ao evento no jornal “A Notícia”.

— O “A Notícia” já tinha uma cobertura muito forte nos primeiros anos, que foi aumentando à medida que o evento ia crescendo também. Tanto que, há algum tempo, o primeiro dia do Festival de Dança é a capa do jornal — analisa Ely.

Pelas páginas do “AN” passaram as maiores estrelas da dança nacional e internacional – algumas delas quando ainda eram jovens alunos que demonstravam seus talentos no palco joinvilense. A evolução da arte da dança, que podia ser vista ano a ano no mês de julho em Joinville, foi eternizada em fotos, entrevistas e críticas especializadas na maior parte dos 35 anos de existência do Festival.

Além deste registro importante para as artes, Ely salienta que, desde a primeira edição, o jornal dedicava-se a explicar o Festival para os joinvilenses. Com o tempo, também explicava Joinville e seu festival para os participantes.

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— Ele sempre foi fundamental para os turistas, pessoas que ficam nos hotéis e procuram, no jornal local, as informações que precisam enquanto estão em Joinville — afirma o presidente do instituto.

Assista o vídeo do aniversário de 95 anos do “A Notícia”

Passo a passo com o Bolshoi

Não é exagero dizer que o jornal “A Notícia” acompanha cada passo da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil. O impresso está presente no dia a dia da instituição desde que ela foi anunciada, em 1999, e a partir de sua abertura, há 18 anos, registra dos movimentos mais delicados até os grandes saltos da escola e de seus alunos. 

— O “AN” mostrou antecipadamente as vantagens de Joinville receber a Escola Bolshoi e as possibilidades de crescimento que ela poderia trazer. Agora, quase diariamente há alguma menção no jornal ou no site — lembra o atual presidente do Bolshoi Brasil, Valdir Steglich.

 JOINVILLE,SC,BRASIL,15-02-2018.Jornal A Notícia Comemora 95 anos.Jaekel Antonio de Souza,comandante do bombeiros voluntário de Joinville.E-D.Valdir Steglich e Pavel Kazarian Presidente e Diretor Geral da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil.(Foto:Salmo Duarte/A Notícia)
Valdir Steglich e Pavel Kazarian falam da parceria Bolshoi e “AN” Foto: Salmo Duarte / A Notícia

Notícias como o primeiro dia de aula, no início do ano, e a formatura dos estudantes da oitava série, em dezembro, são festejadas com a noção de que, para Joinville e para o Brasil, mesmo os eventos mais rotineiros são conquistas importantes para a sede da única filial educacional da mais tradicional companhia de dança do mundo. Por isso, datas importantes como aniversários de 10 e 15 anos e estreias de espetáculos completos foram alçados a coberturas de destaque e ganharam cadernos e reportagens especiais. 

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Jovens que saíram da escola para atuar em companhias profissionais pelo mundo também dificilmente partem de Joinville sem antes ter sua história contada em “A Notícia”. E a instituição corresponde, como uma companheira, sempre disponível para parcerias em produções fotográficas para reportagens na Capital da Dança.

— O jornal é um grande parceiro por mostrar não só o que acontece no palco, nos espetáculos, mas por ter este lado de contar o que há por trás dos sonhos. É uma combinação perfeita — avalia o diretor-geral da Escola Bolshoi, Pavel Kazarian.

A relação do Bolshoi com Joinville começou em 1995, quando o diretor artístico do Teatro Bolshoi, Alexander Bogatyrev, desenvolveu um projeto que reproduzia as mesmas características da Escola Coreográfica de Moscou. Em 20 de julho de 1999, na abertura do 17º Festival de Dança, Alla Mikhalchenko, primeira-bailarina do Teatro Bolshoi, assinou o protocolo de intenções com o então prefeito Luiz Henrique da Silveira. Entre os fatores decisivos para a escolha de Joinville estava a profunda ligação da cidade com a dança, em função de seu tradicional festival. Além disso, o então prefeito empenhou-se pessoalmente nos processos institucionais entre o Brasil e a Rússia.

A inauguração ocorreu em 15 de março de 2000, com o diretor do Teatro Bolshoi Vladimir Vasiliev e o prefeito de Joinville, Luiz Henrique da Silveira, sendo os patronos fundadores da instituição.  

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Uma festa que virou marca

Da mesma forma que outras tradições de Joinville, a Festa das Flores é assunto que, anualmente, figura nas páginas do jornal “A Notícia” desde sua fundação. “Nascida” há 82 anos, ainda sob o nome Exposição de Flores e Artes Domiciliares (EFA) e acontecendo na Sociedade Harmonia-Lyra, ela já era um evento que mobilizava a comunidade tanto na organização quanto na programação e, por isso, contava com a cobertura da imprensa local. O evento começou em 1936 e só não teve periodicidade ininterrupta porque foi interrompida nos anos de 1942 e 1943, período da Segunda Guerra Mundial.   

 JOINVILLE, SC, BRASIL (10-11-2016) - Primeiro dia  na 78° Festa das Flores em Joinville. (Foto: Maykon Lammerhirt, Agencia RBS)Indexador: Maykon Lammerhirt
Festa das Flores começou em 1936 e só não teve periodicidade ininterrupta porque foi interrompida nos anos de 1942 e 1943, período da Segunda Guerra Mundial Foto: Maykon Lammerhirt / Agencia RBS

Além de acompanhar os preparativos e cobrir a festa, “AN” também aproveita o período em que ocorre a festa para incentivar leitores a deixar em sua casa e a cidade — que tinha por tradição os jardins bem cuidados que deram a ela o apelido de “Cidade das Flores” — mais coloridas. Para isso, mostra os contemplados nos concursos de jardins e convida leitores a enviarem suas fotos preferidas ao lado das flores.

Com o passar dos anos, houve a preocupação do jornal “A Notícia” de, além de divulgar o evento aos leitores, também apresentar as motivações e paixões da Agremiação Joinvilense de Amadores de Orquídeas (Ajao), a responsável pela idealização da festa que ocorre em novembro. Reportagens sobre a movimentação na economia, as técnicas de agricultura e as inovações em sustentabilidade passaram a fazer parte do leque de matérias publicadas no período da festa. 

– Todos os anos, antes mesmo do evento, o “A Notícia” procura a agremiação e começa a dar a oportunidade de destacarmos algum colecionador e divulgar nosso hobby — conta o presidente da Ajao, James Hasselmann. 

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 JOINVILLE,SC,BRASIL,15-02-2018.Jornal A Notícia Comemora 95 anos.Jaekel Antonio de Souza,comandante do bombeiros voluntário de Joinville.James Hasselmann,presidente da agremiação joinvilense de amadores de orquídia.(Foto:Salmo Duarte/A Notícia)
James lembra que os associados da Ajao sempre tiveram suas histórias contadas pelo jornal Foto: Salmo Duarte / A Notícia

Segundo ele, é muito importante para os organizadores — que começam a planejar a festa com pelo menos dez meses de antecedência — ter as plantas e o evento divulgados no jornal. Dessa forma, cria expectativas no público, garante boa parte do movimento da Festa das Flores e promove a autoestima do orquidófilo.

— Quase todos os associados já tiveram sua história contada pelo A Notícia. Com isso, ele passa a se sentir importante e é incentivado a continuar cultivando as orquídeas — analisa James.  

Juarez, um artista joinvilense

A primeira vez que uma obra do artista joinvilense Juarez Machado apareceu sobre uma página do jornal “A Notícia” foi ele mesmo que a desenhou, a lápis, em uma edição que o pai levara para casa. Tinha três anos e via as fotografias nas notícias sobre a Segunda Guerra Mundial, em 1944. Por isso, “rabiscou” um tanque de guerra, tão detalhado e bem-feito que ficou guardado, primeiro como relíquia da mãe orgulhosa. Atualmente, está enquadrado como primeira obra do artista de maior destaque de Joinville. Levaria alguns anos, mas não muitos, para a primeira publicação de verdade: ele estava no início do ensino médio quando a participação em uma exposição da Festa das Flores rendeu a primeira foto de Juarez no “AN”.

 JOINVILLE,SC,BRASIL,15-02-2018.Jornal A Notícia Comemora 95 anos.Jaekel Antonio de Souza,comandante do bombeiros voluntário de Joinville.Juarez Machado.(Foto:Salmo Duarte/A Notícia)
O tanque de guerra detalhado que desenhou quando criança está em exposição no Instituto Jaurez Machado Foto: Salmo Duarte / A Notícia

Quando os anos de 1960 chegaram, o artista partiu para, como gosta de repetir, “se tornar Juarez”. Foi trabalhar na TV, primeiro fazendo cenários e, mais tarde, como o “mímico” que animava as noites de domingo em um quadro do “Fantástico”. Preencheu páginas de outro impresso, o “Jornal do Brasil”, com uma coluna de humor nos anos de 1970 e, depois de viajar o mundo, voltou a Joinville — com um pé aqui e outro em Paris. 

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Nesta trajetória, apareceu em dezenas de capas e reportagens, tanto pelas façanhas no Brasil e pelo mundo quanto em parcerias do artista, que criou ilustrações e obras exclusivas para edições especiais do “A Notícia” — entre elas, a capa do especial de 90 anos. Entre 2013 e 2014, assinou uma coluna na revista de fim de semana do jornal. Em colagens, desenhos e fotografias, Juarez expressava suas ideias criativas semanalmente, fazendo humor com arte. E quando realizou o sonho de criar um instituto na cidade natal, em 2014, ganhou caderno especial apresentando sua história e suas conquistas, que colocaram Joinville no mapa das artes. Por isso, não hesita em comparar os papéis da arte e do jornalismo.

— Joinville precisa se exibir mais. Há anos tento chamar atenção para a cidade, e acho que é o papel do jornal também.