Pleito decidido por um voto, exagero de candidatos em comparação ao número de eleitores e uma virada histórica. Fatos curiosos marcaram o cenário político nos últimos 34 anos em Blumenau, Brusque, Camboriú, Indaial e Navegantes. Levantamento feito pelo Santa mostra que, às vezes, a política consegue nos surpreender

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Disputa decidida por um voto

Enfrentar o trânsito na volta para casa após um fim de semana de descanso nas praias catarinenses não é uma grande novidade para quem lida constantemente com a BR-470. Era justamente em um domingo, 3 de outubro de 2004, que um casal indaialense retornava do Litoral. O problema é que o dia era atípico, marcado por eleições municipais, e o trânsito na rodovia andava a passos de tartaruga. Os cônjuges, então, desistem de praticar a democracia com os seus votos, dão meia volta e retornam para o aconchego da casa de descanso na Praia de Gravatá.

Parece uma história comum. Sem novidades. E até seria, se não tivesse sido contada por Sérgio Almir dos Santos, o segundo colocado no pleito daquele ano. Serginho hoje é prefeito de Indaial, mas 12 anos atrás foi derrotado por um voto. Um. Unzinho. 9.133 contra 9.132. O casal destacado no início deste texto era eleitor do peemedebista e certa vez em uma festa contou a história para o atual chefe do Executivo indaialense.

Eles poderiam ter invertido o resultado naquele ano. Cômico se não fosse trágico. Ou trágico se não fosse cômico. Tanto faz.

Entre o rol de eleitores que não votaram em Serginho estão o próprio irmão, um grande amigo que havia marcado viagem para os Estados Unidos, outro que estava cuidando da mãe no hospital e alguns que optaram pelo frühstück da tarde com cucas e morcilhas em vez de ir às urnas. Cada uma dessas histórias se somou à lamentação do atual prefeito, na época derrotado.

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– Teve até um cara que me ligou dizendo que votaria em mim, mas para isso precisava da gasolina para ir e voltar a Pomerode. Não dei – lembra Serginho.

O atual prefeito até hoje não engole o que aconteceu naquela eleição. Imagine só: por rádio você recebe a informação de que é o novo mandatário da cidade. Instantes depois militantes se encontram na rua e iniciam uma festa com mais de 5 mil pessoas na região central de Indaial. Você então discursa como prefeito. Às 20h, porém, chega a informação de que uma urna havia travado e com ela vem uma derrota por conta de um voto. Essa foi a cronologia daquele 3 de outubro de 12 anos atrás.

– Minha autoestima caiu a zero. Não por ter perdido da forma que foi, mas por ter comemorado a vitória e depois ter recebido a ducha de água fria – conta.

Vitória do azarão

Lá se vão duas décadas desde que Décio Lima ergueu os dois polegares em frente à Macuca. "O PT chega à Prefeitura", estampava a capa do Santa no sábado, dia 5 de outubro de 1996. Uma vitória marcante, surpreendente, que até hoje é contada como uma das maiores viradas da política catarinense. Os adversários eram Wilson Wan-Dall (PPB), hoje supervisor de ouvidoria do Tribunal de Contas do Estado (TCE), e Dalírio Beber (PSDB), senador. E a chegada de Décio ao Executivo se tornou inesperada por conta de três pesquisas divulgadas antes do pleito: todas indicavam vitória do pepebista.

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Não precisa ser nenhum especialista para captar, superficialmente, claro, o que aconteceu há 20 anos. Basta perguntar para qualquer pessoa na rua que tenha vivido aquela época para perceber que todos apontam a troca de farpas de Wan-Dall e Beber durante a campanha eleitoral como motivo para o crescimento de Décio que, meses depois, era eleito. Para Clóvis Reis, colunista do Santa, o movimento que se transformou em virada aconteceu além da vontade dos petistas.

– Foi uma campanha sangrenta e as críticas do Dalírio sobre o Wan-Dall se mostraram extremamente eficazes, mas isso não se transformou em votos para o tucano e sim para o Décio – lembra.

Quando faltavam menos de 30 dias para as eleições, a última pesquisa apontava uma pequena queda dos candidatos do PPB e PSDB. Apenas Décio vinha crescendo – e muito. Passou de 8% para 17% entre agosto e setembro. O número de entrevistados brancos, nulos e indecisos, porém, ainda era alto: 27%.

– Acho que consolidei o voto de quem não sabia em quem votar e consegui captar algo dos outros candidatos também. Tive muita felicidade nos debates em uma época em que o blumenauense estava muito atento à política – pondera Décio.

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O petista sempre teve a fala mansa, tranquila, raramente levantava o tom e considera o jeito como fator determinante para a inesperada vitória, com 50,4% dos votos válidos:

– Achei que nós (o PT) levaríamos mais tempo para ganhar a principal prefeitura do Vale do Itajaí. Talvez mais três ou quatro eleições, mas não. Logo na primeira vez que concorri, ganhei.

A "briga" entre Wan-Dall e Dalírio que terminou com o então terceiro colocado vencendo a disputa foi, segundo Clóvis Reis, algo que fez escola em Blumenau:

– Principalmente no quesito propaganda gratuita. O eleitor percebeu a crítica e mudou o voto, mas não para aquele que estava criticando.

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Poucos eleitores, muitos candidatos

Em 15 de novembro de 1982, 58 milhões de eleitores foram às urnas para escolher prefeitos e vereadores em mais de 4 mil municípios brasileiros. Foi o último pleito durante o Regime Militar e o único realizado durante o governo de João Figueiredo. Essa eleição foi marcada por alguns fatos curiosos, como a presença de mais de um candidato por partido e excesso de aspirantes ao cargo mais importante de municípios com nem tantos eleitores assim.

É o caso de Camboriú. Na cidade litorânea, por exemplo, o PMDB indicou três pretendentes: Andronico Pereira Filho, João Moraes Filho (primeiro e segundo lugar, respectivamente) e José Pedro Heizen. Do Partido Democrático Social (PDS) – que depois virou PPR, PPB e atualmente PP – mais três: Luis Manoel Cruz, Fernando Garcia e Anacleto Testoni. Completaram a corrida Gerônimo Cardoso, do PDT, que conseguiu 32 votos, e Sebastião Amorim, do PT, com dois votos. Eram tantos candidatos, que o prefeito eleito conquistou apenas 1.798 (26,5%) dos 6.932 eleitores camboriuenses.

Na vizinha Navegantes, no mesmo ano, a situação era parecida. Três candidatos do PDS, três do PMDB, um do PDT e outro do PT para apenas 9.301 eleitores. Assim como em Camboriú, a lanterna ficou com um candidato petista, Waldemir Borba Júnior, com 20 votos. O penúltimo colocado foi o pedetista Manoel de Souza, com 22.

Uma confusa Brusque

Confusão, vaivém e troca-troca são palavras que podem resumir a política de Brusque nos últimos anos. Tudo começou em dezembro de 2012, quando Paulo Eccel (PT), então prefeito reeleito, teve o mandato cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SC) por extrapolar limites legais para gastos com publicidade institucional, abuso de poder e autoridade. O fato desenrolou uma série de outros capítulos que mexeram na cidade berço da fiação catarinense. Após a cassação, Eccel obteve uma liminar que o permitiu tomar posse e iniciar o segundo mandato enquanto recorria, mas foi obrigado a entregar o cargo. Roberto Prudêncio Neto (PSD), presidente da Câmara de Vereadores, assumiu a prefeitura.

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Em 1º de abril de 2015, o Legislativo de Brusque deu início ao processo de eleição indireta para eleger o novo prefeito. Após 29 dias, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinou a suspensão desse pleito que estava marcado para ocorrer no dia seguinte. Mais de um ano depois, o TSE ratificou a queda de Eccel e determinou a retomada do processo para que os vereadores pudessem escolher o novo mandatário da cidade.

Em junho deste ano, a eleição contava com apenas um candidato pois a coligação PSD-PMDB havia conseguido suspender a inscrição do candidato José Luiz Cunha (PP), o Bóca, com um mandado de segurança expedido pela Justiça Eleitoral de Brusque. Os pepistas conseguiram reverter a decisão com uma liminar do TRE. Por nove votos contra seis, a chapa composta por Bóca e Rolf Kaestner (PP) venceu a eleição indireta e assumiu o comando do Executivo.

Em 10 de junho deste ano, PSD e PMDB obtiveram uma liminar da Vara da Fazenda Pública e recolocaram Prudêncio como prefeito. Dois dias depois, o PP apresentou um agravo de instrumento que anulou a liminar concedida e Bóca reassumiu a prefeitura. Hoje? O pepista ainda é prefeito da cidade.