Os catarinenses começaram 2018 desembolsando mais dinheiro para andar de ônibus municipais. Entre dezembro de 2017 e janeiro deste ano, quatro das sete capitais regionais do Estado aumentaram o preço das passagens entre 3,8% e 9,21%, percentual acima da inflação dos últimos 12 meses de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de 2,70%. A maioria das cidades havia reajustado a tarifa no mesmo período de 2017 e 2016.
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O bilhete mais caro continua sendo o de Joinville, que desde 2 de janeiro, após reajuste de 7,26%, custa R$ 4,30 – o comprado dentro do ônibus está R$ 4,65. Já em Chapecó, onde a passagem não aumenta desde novembro de 2016, a viagem sai por R$ 2,98.
O prefeito da cidade do Oeste, Luciano Buligon, explica que há muitos anos a tarifa está entre as mais baixas do Estado. Ele entende que o valor pode estar relacionado ao custo de vida mais baixo, mas afirma que o preço deva ser reajustado em breve.
A Procuradoria do município já recebeu um pedido do sindicato das empresas concessionárias para aumentar, mas argumenta que isso deve ser feito com o novo processo licitatório, a ser publicado até fevereiro. Buligon admite que o serviço precisa de adaptações e inovação.
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Em Joinville, a prefeitura não quis se manifestar sobre o assunto. Diz apenas, em nota, que o “reajuste segue o cumprimento de decisão judicial, que tem como base o valor técnico de tarifação, baseado nos custos do serviço de transporte coletivo urbano”. A cidade também não oferece meia passagem para estudantes, como a Capital.
Entre os reajustes aplicados entre dezembro de 2017 e início deste ano, o mais significativo foi o de Lages, de 9,21%, fazendo a tarifa subir para R$ 3,64. Por nota, a prefeitura explica que a primeira proposta da empresa Transul era de 24,55% de aumento, o que levaria a uma passagem de R$ 4,18. Além disso, o município demorou mais do que os outros para fazer o reajuste.
O último foi em maio de 2016.
No texto, o prefeito Antonio Ceron explica que considerou “o percentual solicitado excessivo” e, depois de uma análise da equipe técnica da prefeitura, optou pelos 9,21%. Aumento do preço do diesel, das peças e dos próprios ônibus, assim como o dos salários, estão entre as justificas da prefeitura.
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Diesel corresponde a 23% do custo do bilhete
O presidente executivo da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), Otávio Cunha, afirma que o diesel é um dos principais componentes relacionados ao custo do transporte. No caso da tarifa de ônibus, corresponde a cerca de 23% do custo. Para ele, a alta do combustível – acima da gasolina e da inflação – é uma das justificativas para os reajustes, que costumam acontecer em boa parte das cidades brasileiras entre janeiro e maio. Cunha afirma que o aumento tem ficado entre 3% e 8% na maioria das cidades.
Além do aumento do preço do diesel e de salários de funcionários, as empresas concessionárias justificam a nova tarifa devido à queda do volume de passageiros. Em Joinville, por exemplo, segundo as empresas concessionárias, houve uma redução de mais de 5% no número de usuários de 2016 para o ano passado.
Atualmente, o serviço transporta o equivalente a 60% do que transportava há 20 anos. Já em Lages, a queda foi de 4,88%. Em Florianópolis, de 3,57%. Porém, segundo o Consórcio Fênix, a expectativa na Capital é que com o uso de câmeras de videomonitoramento, GPS e o Floripanoponto, aplicativo de informação em tempo real, a demanda volte a crescer.
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Especialista defende sociedade menos individual
O coordenador do Observatório de Mobilidade Urbana da Universidade Federal de Santa Catarina, Werner Kraus Júnior, explica que a queda de usuários do transporte coletivo ocorre em todo o mundo desde o início dos anos 2000. Segundo o especialista, os dois principais fatores relacionados a esse cenário são o aumento do tempo de viagens dos ônibus e, em paralelo, a maior possibilidade de compra de automóveis pela população. Otávio Cunha, presidente executivo da NTU, acrescenta que atualmente um ônibus trafega em média a 12km/h, antes era 25 km/h.
– A combinação de tarifas e tempo de viagem subindo colocou as pessoas em automóveis e piorou ainda mais o tempo das viagens. É um ciclo vicioso que só consegue se romper com faixas exclusivas para ônibus – diz.
Ele acrescenta que a sociedade ainda não investe em transporte público e tem uma mentalidade muito voltada para o individual. Cunha defende ainda que o desemprego também influencia na queda do número de usuários.
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Confira como estão os preços nas cidades e qual a justificativa para o aumento:
Joinville
Preço da passagem: R$ 4,30 (antecipada) e R$ 4,65 (embarcado).
Reajuste: 7,26% (média) em 2 de janeiro de 2018
Justificativa do aumento: aumento médio no preço do diesel de 18%; compra de 19 novos ônibus, começo da operação de ônibus com ar-condicionado, redução de mais de 5% no número de passageiros. A cidade não tem meia tarifa para estudantes, como a Capital, por exemplo.
Passageiros: 2,5 milhões por mês
Queda no volume de passageiros em 2017: mais de 5%
Frota: 356 ônibus.
Florianópolis
Preço da passagem: R$ 3,99 (cartão) e R$ 4,20 (dinheiro).
Reajuste: 7,39% em 1º de janeiro de 2018
Justificativa do aumento: reajuste salarial de motoristas e cobradores de 7,13% e aumento do óleo diesel em 15,74%.
Passageiros: 220 mil por dia útil
Queda no volume de passageiros em 2017: 3,57%
Frota: 537 ônibus.
Criciúma
Preço da passagem: R$ 3,90 (cartão) e R$ 4,25 (dinheiro).
Reajuste: 8% em julho de 2017
Justificativa do aumento: alta dos insumos componentes dos valores da tarifa
Passageiros: não informado
Queda no volume de passageiros em 2017: não informado
Frota: 117 ônibus
Itajaí
Preço da passagem: R$ 3,63 (antecipado) e R$ 4 (embarcado)
Reajuste: 11% em dezembro de 2016
Passageiros: 270 mil passageiros por mês
Queda no volume de passageiros em 2017: 100 mil passageiros
Frota: 38 ônibus
Chapecó
Preço da passagem: R$ 2,98 (antecipada) e R$ 3,25 (dinheiro)
Reajuste: 11,61% em novembro de 2016
Passageiros: 1 milhão por mês
Frota: 82 ônibus
Lages
Preço da passagem: R$ 3,64 (antecipada) e R$ 3,80 (embarcado)
Reajuste: 9,21% em 1º de janeiro de 2018
Justificativa do aumento: alta de 17,6% no óleo diesel, 9,78% nos pneus, 7% nas peças, 8,39% no preço dos ônibus, aumento dos salários em 6,8% e 4,88 de diminuição do volume de passageiros
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Passageiros: 2,5 milhões por mês
Queda no volume de passageiros em 2017: 4,88%
Frota: 60 ônibus
Blumenau
Preço da passagem: R$ 4,05
Reajuste: 3,7% em 16 de dezembro de 2017
Justificativa do aumento: correção monetária, variação do preço do combustível e do salário dos funcionários
Passageiros: cerca de 2 milhões por mês
Queda no volume de passageiros em 2017: não informado
Frota: 246 ônibus