Mais de quatro anos após o assassinato da empresária Cátia Regina da Silva, de São Francisco do Sul, os acusados pela morte vão a júri popular em outubro. A definição traz um pouco de alívio às filhas da mulher, que convivem com a dor da saudade e aguardam por anos um desfecho.
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Ana Paula Cercal conta que a caçula tinha apenas 14 anos quando a mãe foi assassinada. Ela lembra que a irmã separava roupas para doar quando selecionou uma peça de Cátia, sem lembrar que pertencia a ela. O maior temor delas é de que as lembranças da mãe se apaguem com o tempo:
— Eu olhei para ela e disse que a camisa era da mãe. Ela parou e ficou uns dez minutos em silêncio olhando a roupa. Depois, falou “mana, eu não lembrava. Eu estou com medo de esquecer a minha mãe”. Aquilo acabou comigo.
Três pessoas são acusadas pelo assassinato. Foram identificados um casal e o compadre deles — para a polícia, os homens executaram o crime, que teria sido pensado pela mulher. A mulher indiciada era também comerciante e a polícia estabeleceu, à época, como principal linha investigativa a desavença entre os comerciantes com a empresária.
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A mulher e o compadre chegaram a ser presos, mas a justiça revogou as prisões preventivas em 2020 e, desde então, ambos aguardam julgamento em liberdade provisória. Já o esposo da comerciante apontada por arquitetar o homicídio, que estava foragido desde a data do assassinato, foi morto no ano passado.
O júri popular está marcado para o dia 25 de outubro, a partir das 8h30min, no tribunal de Araquari. A data, para além de um procedimento judicial, significa também o fim de uma espera cheia de angústias.
— Até hoje temos traumas, crises de ansiedade. Me sinto um pouco mais aliviada. Foram quatro anos de espera. Isso não vai trazer minha mãe de volta, mas vai aliviar um pouco essa sensação de injustiça e impotência. Minha irmã perdeu minha mãe como criança e agora ela está indo participar de um júri como adulta — afirma Ana Paula.
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Demora no julgamento e motivação do crime
Indiara Mesquita, advogada da família de Cátia, aponta alguns fatores atrasaram a data do julgamento. Dentre eles, a pandemia da Covid-19 e também a pluralidade de testemunhas e complexidade do caso.
— Acreditamos também no fato de que, durante a instrução processual, os réus presos foram beneficiados com a liberdade, deixando assim de ter prioridade na tramitação e julgamento do processo, além de provável dificuldade de pauta da vara em que os autos tramitam — explica.
Com relação à motivação do crime, as investigações apontaram que teria sido uma desavença entre os comerciantes, já que, conforme a polícia, Cátia já havia relatado em vídeos publicados na página da loja que estava sofrendo ameaças de órgãos como prefeitura e Receita Federal, além de outros comerciantes locais.
As intimidações tinham relação com a atividade comercial desenvolvida por Cátia, já que ela comprava roupas na capital paulista para revender em seu estabelecimento com uma margem baixa de lucro. O delegado Rafaello Ross explicou que a situação passou a incomodar alguns concorrentes.
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Atualmente, a loja de roupas de Cátia é administrada pelas duas filhas.
Já a defesa de um dos acusados complementa que o júri só foi marcado quatro anos após o ocorrido porque a polícia demorou dois anos para analisar imagens de câmeras de segurança da casa dos réus e entregar as provas, o que “acabou ensejando também a liberdade de todos, senão estariam presos até agora ou em prisão domiciliar, ou vice-versa”, destacou o advogado.
Além disso, o defensor afirma que os advogados não concordam com a data do júri, “marcada muito em cima”, que não fornece tempo hábil para analisar as teses apresentadas pela acusação e dificulta a protocolação do recurso de habeas corpus.
Relembre o caso
A empresária Cátia Regina da Silva, à época com 46 anos, foi morta na noite de 24 de julho de 2019. Ela havia desaparecido após voltar de uma viagem a São Paulo. O carro dela foi encontrado carbonizado na Praia do Ervino na manhã seguinte e o corpo foi localizado horas depois do mesmo dia, às margens da BR-280. Segundo apontou a polícia, a vítima estava algemada, à beira do rio e com marcas aparentes de tiros na nuca.
As apurações da Polícia Civil demonstraram que Cátia voltava de ônibus de São Paulo, onde foi adquirir mercadorias para revender em sua loja de roupas, em São Francisco do Sul. Ela desceu na rodoviária de Joinville por volta das 22 horas e depois embarcou no próprio carro para fazer o trajeto para casa.
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Cerca de 50 minutos depois da chegada, ela chegou a fazer contato com a filha mais velha, de 24 anos, por meio de mensagem de áudio. Ela disse à jovem que estava a caminho de casa, “no Trevo do Sinuelo”, e chegaria em cerca de 20 minutos. Desde então, não deu mais notícias.
Como ela não chegou, as filhas começaram a ligar, mas o aparelho celular estava fora de área. Durante a madrugada, os familiares foram às ruas para fazer buscas por Cátia. Pela manhã, quando o carro foi encontrado na Praia do Ervino, o irmão dela reconheceu o veículo. No entanto, não havia sinais de que Cátia teria estado no local.
Segundo a Polícia Civil, durante o trajeto, na BR-280, a vítima foi abordada por um veículo Golf com dois ocupantes. O automóvel, que já estaria seguindo a comerciante desde Joinville, estava parado às margens da rodovia com o pisca-alerta ligado. Os dois homens desceram e abordaram a vítima, portando um crachá falso da Receita Federal e um distintivo falsificado da Polícia Federal.
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