Enquanto quase 1 bilhão de pessoas no mundo usam o Facebook para tentar tornar a vida mais fácil – buscam romance, amenizam a solidão, reencontram lembranças, procuram emprego -, investidores de Mark Zuckerberg só pensam em ganhar dinheiro. Desde a estreia na bolsa de valores, a pressão aumentou. As ações, vendidas em maio a US$ 38, fecharam na terça-feira em US$ 19.
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Explorar publicidade direcionada, em um ambiente em que cada usuário é conhecido em detalhes, tem sido a aposta do Facebook para gerar receita. Em sua primeira aparição pública depois da abertura de capital, Zuckerberg reconheceu na terça-feira o fraco desempenho das ações e destacou que a trilha agora passa pelos dispositivos móveis: publicidade em celulares e tablets resolveria o problema. Aperfeiçoar os anúncios, porém, levanta questionamentos de empresas e de usuários. Luciano Palma, consultor de novas mídias, vê necessidade de mudança de estratégia, já que a rede social não teria como competir com a mídia tradicional.
A maioria dos usuários – desde julho contabilizados em 955 milhões, número que já deve ter cruzado a barreira de 1 bilhão – só quer que o site funcione. Quando o assunto é privacidade, no entanto, o alerta se acende.
– A perda de privacidade é um dos impactos negativos do Facebook. Não há como saber agora quais são as coisas de que vamos nos arrepender ao longo da vida. As pessoas estão começando a se preocupar – avalia Raquel Recuero, pesquisadora de redes sociais da Universidade Católica de Pelotas.
Nada que ameace a hegemonia do Facebook hoje no Brasil ou no mundo. Conforme o socialbakers.com, que reúne estatísticas sobre redes sociais, mais de 70% dos internautas brasileiros usam o site de Zuckerberg. O país já é o segundo em usuários no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Para conquistar ainda mais gente, é preciso seguir inovando. Não há concorrente à altura no horizonte, mas não é impossível que o Facebook desapareça com a mesma velocidade com que surgiu: basta que as pessoas comecem a migrar para um serviço novo e levem junto seus amigos. Analista de internet do Ibope, José Calazans confirma que, por enquanto, o site reina:
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– Todo mundo usa Facebook, que é grande e generalista, e Twitter, Tumblr, Pinterest e Instagram são sites de nicho. Se aparecer outra coisa mais apropriada, aí poderia haver uma migração. O grande passo seria descobrir alguma coisa nova para smartphone ou tablet.
Enquanto cada um deles equilibra erros e acertos no uso diário da rede, Mark Zuckerberg se esforça para não perder nenhum amigo ao transformar esses relacionamentos em dinheiro.
Rede social vira aliado de Adriane com as filhas
De forma sutil, a história de Adriane Bender Gomes, 52 anos, teve seu rumo alterado por Mark Zuckerberg. Vivendo em Porto Alegre com o marido, ela tem no Facebook um aliado para estar mais próxima das filhas. Mariana, 28 anos, mora em Montpellier, na França, onde faz doutorado. Débora, 25, vive em Pelotas.
– Há 10 anos, a Mariana morou nos Estados Unidos e nos falávamos muito menos. O Face mudou muito as nossas vidas – conta.
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Além de estar mais próxima das filhas, Adriane é uma das milhares de pessoas surpreendidas ao ser procuradas por amigos de infância que não esperavam mais encontrar. Da época de escola, colegas apareceram entre as solicitações de amizade.
– Imagina, uma amiga de quando eu tinha 11, 12 anos me achou. É muito legal – celebra.
Apesar dos benefícios trazidos pela rede, Adriane se policia para não ficar tempo demais no computador.
-Tem gente que fica muito tempo, aí não dá. Tem de sair de casa, passear, ir ao cinema- conclui Adriane.
Por meio de pesquisa, Mateus encontra o pai
Algumas pessoas definem que suas vidas são classificadas em antes e depois do Facebook. Mais do que servir como aliado para perseguir ex-namorados ou lembrar do aniversário dos colegas de trabalho, o Facebook pode transformar a história da vida das pessoas.
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Relatos mirabolantes sobre como a rede social interferiu na trajetória de seus usuários se multiplicam pelo mundo e poderiam render roteiros de filme. Sem conhecer o pai, Mateus Pereira, 24 anos, morador em Santa Maria, é um exemplo disso.
Roraimense, natural de Boa Vista, o estudante de publicidade teve uma reviravolta causada pelo Facebook. Três anos com o perfil no Face, Mateus digitou no campo de busca, letra por letra, o nome indicado pela mãe como sendo de seu pai. Apareceram cinco pessoas com o mesmo nome. Um por um, Mateus contatou os possíveis pais e esperou.
A resposta emocionada veio de um venezuelano que mora em Miami e passou pelo Brasil no fim dos anos 1980.
– Ele me respondeu, conversamos, e na mesma noite ele me ligou e conversou com a minha mãe também – lembra Mateus.
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Hoje, os dois se comunicam pelo Facebook com frequência e combinaram de se encontrar no final deste ano.
Além de redescobrir o pai, Mateus teve outra grande força do Facebook em sua história recente. Conseguiu um estágio ao entrar em contato, pela rede social, com uma empresa que procurava estudantes de publicidade. Tudo ocorreu com a agilidade virtual que é própria de sua geração.
Mateus soube da oportunidade, descobriu o nome da pessoa que estava contratando, e encontrou amigos em comum. De um deles, veio a indicação que o levou a uma entrevista. Depois de uma conversa e currículo enviado, a vaga e os R$ 500 mensais oferecidos pela empresa eram dele.
– O Face mudou minha vida. A gente nunca acha que essas coisas vão acontecer em uma rede social, mas acontecem – impressiona-se.
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