A temporada de verão no Litoral Norte catarinense vai começar com a balneabilidade em xeque. O último relatório feito pela Fundação do Meio Ambiente (Fatma) mostra que quase 44% dos 57 pontos analisados na região estão impróprios para banho – as análises anteriores a esta, que são feitas semanalmente, apresentaram índices semelhantes.

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O percentual é considerado expressivo, principalmente porque o litoral pouco avançou em saneamento básico nos últimos anos e os impactos desse atraso se refletem diretamente nas praias. O diretor de proteção dos ecossistemas da Fatma, Márcio Luiz Alves, explica ainda que é preciso considerar uma série de fatores na análise.

– Quando há vento forte e chuva a tendência é que a situação da balneabilidade piore, já que todo material depositado incorretamente nas ruas e córregos acaba chegando ao mar. Além disso, a contaminação da praia não necessariamente é feita pelo município litorâneo. No caso de Balneário Camboriú, há rios que trazem esses resíduos de outras cidades que não têm tratamento de esgoto para a praia – afirma.

Balneário foi um dos municípios que apresentou situação pouco satisfatória, com quase metade dos pontos analisados impróprios para banho. Já Porto Belo é campeã nesse quesito, com todos os seis pontos analisados impróprios. Em seguida vem Penha com cinco pontos e Itapema com quatro pontos inadequados.

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– Também temos que considerar o desenho da costa, pois isso dificulta que as correntes marítimas entrem e levem embora esses materiais poluentes. Porto Belo e Penha são áreas com muitos recortes e quanto mais calma a praia mais propícia da água estar imprópria – observa Alves.

De acordo com o diretor, a balneabilidade é avaliada pela quantidade de coliformes fecais em cada 100ml de água – quando a amostra tiver mais de 800 coliformes o ponto é considerado impróprio. Um dos problemas que agrava essa situação é a destinação incorreta do esgoto sanitário. Porém, segundo Alves, a falta de ação do poder público não exime a responsabilidade do cidadão, que pode adotar sistemas alternativos para fazer o tratamento.

– Nós temos muitas sazonalidades e épocas em que aumenta significativamente a população do litoral. Com isso também aumenta a produção de material contaminante. Eu diria que a situação atual de balneabilidade é considerada satisfatória, mas podemos e devemos melhorar principalmente na questão do esgoto – avalia.

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Chuvas teriam provocado mau desempenho

Cidade com pior balneabilidade da região, Porto Belo culpa as chuvas recentes pelo desempenho ruim nas análises da Fatma. O procurador jurídico da Fundação do Meio Ambiente do município, Adilson Machiavelli, explica que o grande volume de chuva fez com que o lençol freático ficasse elevado, o que dificulta o funcionamento correto dos sistemas de esgotamento individuais dos moradores.

– No ano passado tivemos problema com a seca, por isso não afetou tanto. Neste verão a gente vai reforçar a fiscalização para melhorar a balneabilidade – afirma.

A falta de saneamento básico na cidade também virou caso de justiça. A prefeitura moveu uma ação contra os antigos gestores do município em função do cancelamento de um convênio com o governo federal para construir a rede de esgoto. Segundo o procurador-geral do município, Valmor Guerreiro Filho, o ex-prefeito foi chamado para dar explicações sobre o que foi construído com os R$ 8 milhões recebidos do governo.

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Em Penha, o prefeito Evandro Eredes dos Navegantes assinou o contrato e deu a ordem de serviço para o início imediato das obras de saneamento básico. Com a assinatura, o governo cede a concessão do serviço pelo prazo de 35 anos ao Grupo Aegea Saneamento em troca da injeção financeira de R$ 181 milhões no setor. A transição para a nova gestão, agora Águas de Penha, começou na terça-feira. A meta é implantar a solução para o tratamento de água a curto prazo e o sistema de tratamento de esgoto a partir do quarto ano de contrato.

Balneário Camboriú recebeu multa pela destinação incorreta de esgoto

Balneário Camboriú conta com 95% de cobertura da rede de esgoto no município. Apesar disso, no fim de setembro o prefeito Edson Piriquito, o diretor-geral da Emasa, André Ritzmann, e os ex-diretores da companhia, Eduardo Hamond Regua e Valmir Pereira, foram multados pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) em R$ 2,4 mil cada pela destinação incorreta do esgoto – eles recorreram da decisão.

André Ritzmann explica que na época das medições a estação não trabalhou com 100% da capacidade e houve problemas nas bombas de retorno. De acordo com ele, as manutenções necessárias já foram feitas.

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– Os nossos índices químicos de saída estavam um pouco acima da portaria do Conselho Nacional do Meio Ambiente, porém são índices considerados bons e já fizemos os ajustes emergenciais – esclarece.

O novo projeto para estender a rede de esgoto às praias agrestes ainda está sendo avaliado pela Caixa Econômica Federal.

Relatório de balneabilidade*

– Balneário Camboriú – 6 impróprios / 8 próprios

– Balneário Piçarras – 2 próprios

– Bombinhas – 1 impróprio / 7 próprios

– Itajaí – 1 impróprio / 4 próprios

– Itapema – 4 impróprios / 4 próprios

– Navegantes – 2 impróprios / 2 próprios

– Penha – 5 impróprios / 6 próprios

– Porto Belo – 6 impróprios

*Dados divulgados na sexta-feira

Confira online como está a balneabilidade das praias da região: