Alam Victor Rodrigues, 38 anos, é apaixonado por bicicleta desde pequeno. Antigamente encarada como uma brincadeira, atualmente ele pedala grandes trajetos pelas estradas de Joinville, como a Dona Francisca e a do Oeste. O empresário já teve a bicicleta roubada duas vezes, mas não desistiu de continuar praticando. A bike é a válvula de escape que ele utiliza para aliviar o estresse do cotidiano. Mas nem todos os dias são de felicidade para quem pedala pela cidade.

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Em Joinville, a estatística que marca os acidentes envolvendo ciclistas, categoria cuja data é lembrada neste dia 19, chegou a 299 até julho deste ano, segundo dados do Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville. O número representa uma média de 1,6 acidente diariamente. O número ficou 11,7% menor do que o do mesmo período do ano passado, quando 339 acidentes foram registrados.

Mesmo que o índice tenha diminuído entre 2016 e 2017, Alam aponta que muitos ciclistas têm dificuldade em se deslocar pelas ruas de Joinville. A estrutura falha – pouca sinalização, ruas escuras e ciclofaixas escassas – e a falta de educação no trânsito são apontadas pelo empresário como as principais causas dos acidentes. Para ele, mesmo com a redução na incidência, a quantidade registrada ainda é alta.

— A falta de respeito é cada vez maior. Eu fui atropelado por um motorista em abril e também teve omissão de socorro — afirma.

À época do acidente, Alam trafegava na ciclofaixa da rua Tuiuti para encontrar os amigos para um pedal. Mas, antes de chegar ao destino, um motorista fechou a sua frente. O carro transitava no mesmo sentido que o empresário e convergiu para acessar um condomínio. O carro bateu na roda traseira da bicicleta. Com o impacto, o ciclista foi arremessado ao chão. Ele teve ferimentos no rosto, nas costas, nas mãos e no cotovelo.

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— Nem os primeiros socorros ele me prestou. Umas pessoas que estavam perto foram chamar ele dentro da casa que ele entrou… — conta.

Durante o acontecido, o ciclista colidiu em duas pessoas que andavam de bicicleta no sentido contrário da ciclofaixa. Nenhum dos dois se feriu. A ocorrência de acidentes envolvendo duas bicicletas cresceu de quatro casos entre janeiro e julho de 2016, para 16 no mesmo período deste ano. O presidente do Pedala Joinville, Roberto Andrich, acredita que haja desrespeito por parte dos motoristas, mas também há ciclistas que desconhecem ou não cumprem as leis de trânsito.

— Nós não podemos afirmar que seja somente o motorista que seja culpado, tem muito ciclista que também faz coisa errada — assegura.

A lei de trânsito brasileira prevê que as bicicletas precisam ter equipamentos para garantir a segurança. É obrigatório que possuam campainha, sinalização noturna dianteira, traseira, lateral e nos pedais e espelho retrovisor do lado esquerdo. Em locais onde não há vias próprias para ciclistas, o trajeto deve ser feito de forma compartilhada com os motoristas e seguindo o mesmo fluxo dos carros. Já os motoristas precisam respeitar a distância lateral de um metro e cinquenta centímetros ao passar ou ultrapassar uma bicicleta e dar a preferência aos ciclistas ao compartilhar a via.

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— Eu estava sinalizado durante o acidente, seguindo as regras. Quando vi que o motorista veio para cima de mim, eu gritei e tudo, mas não teve jeito. Ele me acertou na ciclofaixa — relembra Alam.

Lei do mais forte prevalece, diz ciclista

Roberto destaca que, pelo desconhecimento das regras de trânsito, tanto dos motoristas quanto de ciclistas, acaba prevalecendo a lei do mais forte, situação que prejudica o ciclista. A gerente da Escola Pública de Trânsito (Eptran) de Joinville, Ana Maria Dias da Costa, acredita que, além da educação e respeito na hora de transitar pelas vias, é essencial que as pessoas tenham consciência de que a responsabilidade de melhorar o trânsito é de todos.

Ana observa que a conscientização para a prevenção de acidentes é feita em épocas específicas, como a Semana Interna de Prevenção de Acidentes (Sipat) ou na Semana da Bicicleta, que ocorre na cidade em março. Mas, para ela, todo processo educativo é uma ação contínua e deve contar com o apoio de todas as esferas da sociedade.

Educação é um processo contínuo e lento, assim como o ensino regular.

Segundo a responsável pela Eptran, existem dois perfis de ciclistas em Joinville: aqueles que pedalam por lazer ou para se exercitar e os que usam para ir ao trabalho. Ela reforça a relevância de se conscientizar estes trabalhadores. Geralmente, não pertencem a grupos organizados e desconhecem a importância de utilizar equipamentos de proteção ao pedalar.

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Até julho de 2017, os bairros que mais registraram acidentes com bicicleta foram Boa Vista e Iririú, regiões apontadas por Ana como onde há grande concentração de trabalhadores indo para indústrias. Ela defende uma parceria entre a iniciativa privada, órgãos públicos e a sociedade civil para atingir diretamente esses públicos que, por falta de conhecimento, acabam sendo vítimas destes acidentes.

— Esses trabalhadores andam sem nenhuma sinalização, às vezes não fazem nenhuma manutenção na bicicleta. Nós precisamos dar as mãos para atingir mais pessoas e conscientizar esse públicos.

Gerente da Eptran defende foco na educação das crianças

A gerente da Eptran destaca a importância de se focar em campanhas educativas para crianças e adolescentes. De acordo com ela, esse público pode significar uma semente germinada para dar frutos no futuro.

— O adulto, infelizmente, é mais difícil de se conscientizar. Às vezes, tem que ocorrer uma tragédia para isso acontecer. As pessoas estão ficando cada vez mais impacientes e cada vez menos gentis — aponta.

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O ciclista Luiz Antonio Carletto, diretor do Pedala Joinville, também observa diariamente violações durante os pedais de que participa. Ele analisa que há uma expectativa em longo prazo de que exista mais respeito com os ciclistas, nas gerações que estão por vir. Mas, para tentar resolver o problema imediatamente, ele acredita que o poder público precisa estar mais presente, principalmente na fiscalização.

— O poder público é essencial nas campanhas, na estrutura de sinalização, na fiscalização e também na punição dos infratores. Se não seguir esse caminho, não irá melhorar — alerta.

Projetos que podem ajudar

Selo Empresa Amiga da Bicicleta: empresas que incentivarem o uso da bicicleta entre os funcionários podem receber este selo. É necessário que disponibilizem, aos funcionários e clientes, bicicletários integrados com banheiros, chuveiros, armários e vestiários adequados aos ciclistas;

Bike Anjo: O grupo de voluntários do Bike Anjo busca ajudar as pessoas que desejam começar a pedalar. De acordo com Genivaldo Lima, coordenador do projeto em Joinville, um ciclista experiente e treinado auxilia iniciantes a começar a andar de bicicleta nas ruas. Dentre os ensinamentos estão as regras de trânsito, noções básicas de mecânica e primeiros socorros. Quem quiser solicitar (ou ser) um Bike Anjo precisa entrar no site www.bikeanjo.org e preencher o formulário. O trabalho é todo voluntário.

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