A copa de uma árvore de folhas bem verdes e flores roxas que avança delicadamente sobre a calçada da Ponte Desembargador Pedro Silva, próximo ao Biergarten, anuncia que a Páscoa está prestes a chegar. A quaresmeira – cientificamente chamada de Tibouchina granulosa – é uma espécie nativa da Mata Atlântica que pode ter até 8 metros de altura e, ao longo dos anos, se adaptou ao meio urbano. As flores roxas que desabrocham entre janeiro e abril – passando pelos 40 dias antes da Páscoa, a quaresma – são responsáveis pelo nome popular da árvore.
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Além desta, o professor e mestre em Biologia Vegetal Oscar Benigno Iza dá outra explicação para o batismo da espécie. Segundo Oscar, os católicos remeteram a cor da planta às vestes dos padres. Na linguagem litúrgica o roxo simboliza penitência e por isso é usado no tempo da quaresma e do advento.
:: Confira a ficha técnica da árvore
:: Floração das quaresmeiras no Vale está dentro da normalidade
No Brasil existem, no mínimo, outras 10 espécies que são chamadas de quaresmeiras. Um desses 10 exemplares, que pode ser visto com frequência na região, é um arbusto que mede cerca de 1,5 metro e se cria às margens de rodovias e em barrancos. Em geral, as quaresmeiras não apresentam grandes distinções físicas:
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– A espécie mais comum aqui é a Tibouchina granulosa mesmo. Ela chama atenção pela beleza da copa e, por causa do tamanho, também é muito usada para compor paisagens. Essa espécie já se adaptou ao meio urbano e, se receber a poda correta, se torna mais resistente a fungos e chega a viver 25 anos.
Pólen é fonte de energia para insetos
Além de embelezar as ruas da cidade, as quaresmeiras são um verdadeiro banquete para os insetos. Oscar conta que o pólen produzido por essas flores é abundante devido à floração expressiva e, por ser altamente energético, atrai principalmente abelhas e borboletas.
É o caso das mais de 50 milhões de abelhas africanas criadas no sítio do blumenauense Gilson Martins, 27 anos. Com 22 colmeias, o pesquisador de permacultura mantém mais de 10 quaresmeiras – de diferentes tamanhos e idades – na propriedade localizada no bairro Glória para ajudar no sustento dos insetos.
– Acredito que a quaresmeira mais antiga que tenho aqui deve ter mais de 30 anos já. Ela estava aqui quando comprei o terreno e eu não arranquei. O bom dessa espécie é que ela não agride o solo, diferente do eucalipto. Outro ponto positivo é que a flor alimenta os insetos e a fruta alimenta os pássaros – conta o jovem, que chegou a cursar Engenharia Florestal, ao ressaltar que as flores da quaresmeiras são melíferas, ou seja, contribuem para a produção do mel por causa do pólen em abundância.
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O mel produzido na propriedade é tirado dos favos duas vezes ao ano e rende cerca de 25 litros. Martins explica que nunca retira todo o líquido para não prejudicar o desenvolvimento das abelhas:
– Elas chegam a fazer 40 viagens por dia e visitam uma média de 30 flores por minuto.