“O aumento constante do número de mortos durante as mais de seis horas de resgate na Serra Dona Francisca ia confirmando o que estava estampado no rosto de cada bombeiro, médico, enfermeiro ou voluntário: lá no fundo do vale havia mais mortos do que sobreviventes. E alguns deles eram crianças.
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Cheguei com o repórter-fotográfico Salmo Duarte no fim da tarde, cerca de uma hora depois do acidente. Quando nos posicionamos atrás do cordão de isolamento montado pela Polícia Militar, logo saiu uma equipe do Samu do meio da mata. Em vez de responder a perguntas, o médico começou a recrutar motoristas, moradores da região, curiosos e quem tivesse força e disposição para entrar na mata e ajudar a tirar as vítimas com vida. Joguei o bloco de anotações para o colega de reportagem e segui o caminho indicado.
Caminhar na mata fechada, com lama e terreno escorregadio, na contramão de socorristas e voluntários carregando macas com vítimas, é uma sensação que expande o tempo. Minutos se transformam em horas. Metros, em quilômetros. Os passageiros estavam sendo retirados em macas por uma trilha fechada, cheia de lama e – o pior – a noite caía rapidamente. Sem iluminação, seria impossível aos médicos trabalhar.
– Pega minha mochila. A vermelha. Preciso intubar duas crianças – dizia um dos médicos do Samu a menos de cinco metros de onde o ônibus estava literalmente cravado.
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Quando eu cheguei no ônibus, já não havia os mesmos gritos e gemidos dos feridos que passavam pela trilha. Só o barulho provocado por socorristas, desencarceradores, policiais, bombeiros e voluntários tentando puxar as últimas pessoas com vida, mas desacordadas. Ajudei a carregar uma das macas que estava do lado de fora. Éramos seis homens, todos desconhecidos, fazendo força para tirar um jovem que ainda gemia de dor. Entregamos a uma equipe na ambulância posicionada perto da rodovia e voltamos para a mata. A dor de ver tantas mortes só era aplacada pela esperança e a alegria de ver mais uma vida salva.”