“No dia 8 de julho de 1983, as rádios estavam anunciando que o nível do Rio Itajaí-Açu chegaria aos 14 metros. Moramos na mesma casa desde 1968, e nunca havia entrado enchente e a cota é de 13 metros. Levantamos os móveis para a parte superior da casa, e o que não conseguimos, colocamos em cima de mesas. Às 3h do dia 9, as águas começaram a entrar na minha casa. Às 8h, já cobriam dois degraus da escada. Mas foi depois do meio-dia, que a situação ficou preocupante.
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As águas atingiram o descanso da escada e começaram a subir em direção ao piso superior. Então decidimos sair daqui, pois as águas ultrapassavam os 14,50 metros e chovia forte. Saímos pela janela lateral, onde fica o descanso da escada, e fomos de bateira até outra rua. Fomos até um galpão que estava ao lado da antiga estação ferroviária, mas já estava cheio. Subimos à Rua Lages, para a casa de uma conhecida da minha mãe, mas não encontramos ninguém.
Então, meu irmão deu a ideia de irmos à casa do meu primo, que ficava na Rua Afonso Pena, uma transversal da Rua Joinville, que ficava na parte alta. Seguimos pelo leito da antiga estrada de ferro até a Rua Indaial e pegamos a Rua São Paulo e chegamos até à Rua Des. Oscar Leitão, que já estava com água que chegou a bater em nossas canelas.
Andamos pelo antigo leito da estrada de ferro que estava coberta de mato. Muita gente já havia passado por ali e o chão estava uma lama só. Minha avó caiu, e meu irmão também. Era inacreditável o que estava acontecendo ali, parecia um filme de catástrofe ou pesadelo. Saímos atrás da Panificadora Benkendorf, que também já estava com água por cima da calçada. Aproveitamos para tirar o barro dos nossos pés e seguimos, entrando pela Rua Engenheiro Paul Werner. Então subimos a rua do morro da Cremer.
Chovia torrencialmente, estávamos carregando sacolas e mochilas, e eu estava com o cachorro poodle debaixo do braço. Chegamos à casa do meu primo, e a mãe dele nos recebeu chorando. Ficamos lá por seis dias. Quando chegava a noite, começava a chover novamente, e a enchente ficou naquele sobe e desce, castigando os nossos nervos. Passados os seis dias, quando o rio já havia baixado para 11,50 metros, decidimos voltar para casa”.
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