Ilse Maria Mantovani tem 55 anos, é autônoma em Blumenau e faz parte do grupo de mais de 650 mil catarinenses infectados pelo coronavírus em Santa Catarina desde o início da pandema.

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A seguir, você confere o depoimento de Ilse sobre a luta contra o coronavírus:

Tudo começou com uma dor de cabeça que aumentava, era muito forte, insuportável. Foram alguns dias com essa dor. Achei que não era nada. Ela foi aumentando, até que começou a faltar ar. Achei que pudesse ser bronquite, já que tenho problemas respiratórios. Aí começou a febre. Fui ao posto de saúde e me encaminharam à Vila Germânica. Foi quando começou o tormento.

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Na Vila Germânica a médica viu que eu estava provavelmente com infecção e com os pulmões já comprometidos. Ela disse que eu teria que ser hospitalizada com urgência. Lutei um pouco, achei que não seria tão sério, mas ela não me deixou ir embora. De lá, fui de ambulância para o Hospital Santa Isabel, onde fui prontamente atendida. Me examinaram, fizeram tomografia, raio-x, e disseram na hora que eu estava com pneumonia, Covid-19 e uma bactéria no sangue. Me internaram e dali não vi mais ninguém da minha família.

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Quando fui internada não havia vaga em quartos. Foi no auge da pandemia, final de junho, começo de julho. Tive que aguardar e escutei o médico dizendo que precisava de uma vaga na UTI para mim. Foi um dia de tristeza. Vi pessoas passando mal, doentes. Vi uma morte. A gente não sabe nem o que pensar. “Quem vai ser o próximo? Eu?”. Um dia depois, meu estado já era grave.

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Me avisaram que eu seria entubada. Iriam fazer uma ligação para a minha família para que eu pudesse me despedir deles. O médico ligou com o telefone dele. Eu só tinha de dar adeus, sabendo que provavelmente não voltaria à vida. Entrei em desespero, mas consegui falar com meus filhos e meu marido. A sensação é de perda. É uma tristeza que ninguém sabe como é, em um lugar isolado, com estranhos que de repente se tornam sua família.

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O médico olhou para mim e disse: “Vamos contar até cinco, e a senhora vai dormir”. Dali em diante não lembro mais de nada. Acordei 10 dias depois com um anjo me olhando, falando comigo. Eu tentava responder, mas não conseguia. Tudo era estranho. Pensei que estava no céu. Até que ele disse que eu havia sido acordada do coma e que teria de comemorar duas datas de aniversário.

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Dali em diante tudo é lento. Você tem que aprender a falar, a ler, a comer. Tudo. É uma criança nascendo. Tudo devagarinho foi voltando, com muita paciência de toda equipe que cuidou de mim. Depois de 21 dias, consegui ter alta. Mas a recuperação em casa é muito difícil. Oito meses depois, ainda não caminho direito. Minha vida é do médico para casa, da casa para o médico. Ninguém sabe o tempo que essas sequelas ficarão comigo. Vivo em pânico, isolada, com medo de pegar o vírus novamente. Eu só quero a vacina para poder viver.

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