Cansado, mas de alguma forma também mais aliviado.

Assim o governador Raimundo Colombo nos recebeu no início da tarde desta sexta-feira para uma entrevista exclusiva no seu gabinete na Casa d’Agronômica. Por 45 minutos, falou sobre o suposto caixa 2 na campanha eleitoral, o desgaste político por conta da Lava-Jato e reafirmou sua inocência.

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O Visor falou com uma fonte que teve acesso ao processo com a transcrição do texto do delator da Odebrechet que cita Colombo. No depoimento, o executivo diz que conversou com o então senador e pré-candidato ao governo de SC no saguão do aeroporto em São Paulo. O encontro foi em 2010. Questionou se Colombo seria candidato ao governo e se tinha interesse em receber apoio financeiro. Ouviu que ainda não estava 100% certo, mas se confirmada a candidatura poderiam tratar sobre a doação via direção do partido. O delator finaliza dizendo que o diálogo encerrou-se ali sem contatos posteriores.

“É um relato tão simplório que deveria estar no pequenas causas”, diz a fonte com trânsito em Brasília.

Apesar da contundente declaração de inocência, ainda não está claro se ocorreu algum tipo de doação não contabilizada. Em conversas reservadas de lideranças do PSD, o discurso é aquele de praxe do “todo mundo sempre fez”.

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Agora caberá ao Superior Tribunal de Justiça analisar a manifestação da Procuradoria-Geral da República. Ainda não está definido qual magistrado receberá a delação contra Colombo no STJ. Em tese, pelo princípio processual da prevenção, poderá ficar com o ministro Luis Felipe Salomão, que já analisa a situação de André Agostini Moreno, comissionado do governo do Estado também envolvido com suposto recebimento dinheiro da Odebrechet. Isso na teoria, porque está tudo sob segredo de Justiça e ainda nem saiu do STF.

Confira abaixo a entrevista com o governador Raimundo Colombo:

O senhor já foi notificado ou intimado a prestar esclarecimentos oficialmente à Justiça sobre caixa dois na Lava Jato?

Não, nunca fui notificado de nada. Hoje (sexta-feira) constitui um advogado para que possa, inclusive, buscar informações. O que se tem até agora são estes vazamentos que incluem o meu nome e repercutem na imprensa. Nunca recebi um ofício e nem ninguém me procurou sobre este assunto.

E teve caixa 2 na sua campanha?

Primeiro é preciso esclarecer que a Odebrechet não tem nenhuma obra em SC desde que a gente assumiu o governo. Não tem nenhum contrato. O Estado nunca fez nenhum pagamento a esta empresa. Ela sequer disputou concorrência aqui. Portanto, não há nenhuma relação entre empresa e governo. A possibilidade de venda da Casan nunca existiu. Nós tínhamos no início do governo uma ideia de agilizar o setor de saneamento. Mas a Casan tinha um passivo trabalhista e previdenciário que tornava a companhia pouco atrativa. Depois nós conseguimos recuperar a saúde financeira da Casan com financiamentos. Aí não havia mais porque vender. Isso já foi resolvido em 2011.

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Mas foi ou não utilizado dinheiro não contabilizado?

As pessoas sabem que candidatos pedem recursos para bancar a campanha. Procurei ver todos os relatos que nós temos e não consta nenhuma doação da Odebrechet. Agora, claro, qualquer candidato na legislação anterior pedia ajuda. E assim foi na nossa campanha. Mas os recursos utilizados estão lá na prestação de contas.

Como o senhor encara o desgaste

político?

A pior parte é o desgaste emocional, porque você não sabe nem do que se trata. Quando você tem ciência do que está sendo acusado pode ser defender. E faz um ano que a gente tem sido citado. Algumas pessoas aproveitam isso. Mas acho este o melhor momento, porque está chegando no fim. Quando tivermos conhecimento oficial, poderemos dar os esclarecimentos necessários. Não houve obra nem pagamento nem venda da Casan. A verdade é que isso tudo está dentro de um processo de mudança do processo político. E eu apoio isso. Vai ser bom para o país. O modelo está errado. Eu não sou adversário dessa correção. Pelo contrário, vou me empenhar pra ajudar nestas mudanças.

A reforma política, por exemplo, voltou à pauta como espécie de tábua de salvação da classe política. Como fazer esta mudança de rota?

Defendo o voto distrital há muitos anos, porque não precisa dinheiro pra conseguir o voto, mas propostas e serviços prestados à população. A melhor forma de fazer política é ser reconhecido pela comunidade pelo seu trabalho. O voto proporcional fortalece exatamente o dinheiro, aí vem os financiamentos de campanha e este cenário que está posto. E para qualificar o parlamento eu defendo o voto em lista. É claro que este mundo de partidos precisa ser revisto. Uma democracia não suporta essa confusão imensa. Tem que impor uma cláusula de barreira, proibindo as coligações proporcionais para que a gente tenha um número de partidos menor e democracia mais organizada. Do contrário, nós seremos as grandes vítimas. É preciso deixar claro também o financiamento de campanha. Antes você tinha recurso oficial e não oficial e era uma prática generalizada. Agora se limitou ao quase nada, tornando impossível fazer campanha. Então tem de construir um consenso: ou vai ser financiamento público, ou vai ser voto em lista. Alguma coisa que tire a gente dessa situação, porque senão o quadro tende a se agravar.

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E o projeto da anistia geral e irrestrita do Congresso. O senhor é a favor?

Eu acho essa discussão desnecessária, porque a doação de campanha não era crime até a eleição de 2012 e isso está dito por todos os juristas e até pelas autoridades do poder judiciário. Não há a necessidade de anistiar porque não é crime. Corrupção e enriquecimento ilícito é outra coisa. Aí sim a Lava-Jato está prestando um grande serviço ao país.

O senhor pretende ser candidato ao Senado em 2018?

Não tenho dúvida que a hora em que a gente puder explicar e mostrar o que de fato aconteceu não haverá impacto negativo porque não houve nada que comprometa o governo de Santa Catarina. Isso eu garanto e ficará muito transparente. Agora, a classe política brasileira vive um momento muito difícil, mas se tem um sentimento para quem acredita no Brasil que não pode ter é covardia. Nós políticos precisamos dar mostras que temos capacidade de fazer boa política e com resultados para a população. É preciso que a sociedade participe mais do processo e não fugir dele. É claro que este desgaste é muito sofrido e muito doloroso. Mas a dor faz parte da evolução pessoal. Eu estou disposto a dar a minha contribuição. Tenho a consciência tranquila e preciso continuar tocando o governo sem deixar que isso afete a gestão. Nós temos um grande compromisso com Santa Catarina, com a recuperação da economia e geração de empregos.

O senhor já definiu se e quando pretende se licenciar do cargo?

Eu ainda não tenho definição sobre isso. Neste momento, toda a minha energia tem de ser para o governo vencer a crise. Estou me dedicando intensamente para superar esse processo pessoal, que é muito doloroso, e não deixar que ele afete o dia a dia do nosso trabalho. O segundo aspecto é garantir que a gente continue pagando salários em dia, toque as obras e mantenha a estabilidade do Estado. Evidente que o processo político está em curso, mas este é um ano para os pré-candidatos e partidos se prepararem. Essa disputa interna dos nomes vai no mínimo até o final do ano.

E o senhor acredita na manutenção da tríplice aliança?

A eleição mais importante de 2018 é para presidente da República. Ela vai influenciar decisivamente em todas as coligações. Cada partido tem a liberdade de defender o seu projeto. Nós estamos numa democracia. Lá na frente nós temos de ter pontes construídas e diálogo para ver qual o melhor caminho para SC e para o nosso grupo. Agora é hora de deixar todo mundo trabalhar, deixar as pessoas que querem se apresentar como candidatos detalharem seus projetos para lá na frente decidir com bom senso.

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Muitos entenderam que em recente evento do PSD o senhor defendeu a ruptura com o PMDB. É isso?

Eu dei uma declaração de que nosso partido pode ter candidato ao governo do Estado, é uma aspiração legítima e o deputado Gelson Merísio tem meu apoio. Mas nunca declarei que romperíamos. As conversas continuam. Nos últimos 30 anos todas as eleições aconteceram assim. Cada partido deve escolher seu candidato e se preparar a eleição. Em junho do ano que vem a gente vai ter um cenário claro. Agora com tudo o que está acontecendo no Brasil, ninguém pode prever o que vai acontecer lá na frente.

Como explicar o envolvimento de André Agostini Moreno no suposto recebimento de dinheiro?

Fui informado pelo advogado que eles têm todas as condições de provar a inocência. E isso já estaria inclusive bem encaminhado, porque nem foi aberto inquérito. Eles têm segurança de que isso não ocorreu e que é uma situação que tem todos os elementos para provar a inocência e a Justiça. O senhor já foi notificado ou intimado a prestar esclarecimentos oficialmente à Justiça sobre caixa dois na Lava Jato?

Não, nunca fui notificado de nada. Hoje (sexta-feira) constitui um advogado para que possa, inclusive, buscar informações. O que se tem até agora são estes vazamentos que incluem o meu nome e repercutem na imprensa. Nunca recebi um ofício e nem ninguém me procurou sobre este assunto.

E teve caixa 2 na sua campanha?

Primeiro é preciso esclarecer que a Odebrechet não tem nenhuma obra em SC desde que a gente assumiu o governo. Não tem nenhum contrato. O Estado nunca fez nenhum pagamento a esta empresa. Ela sequer disputou concorrência aqui. Portanto, não há nenhuma relação entre empresa e governo. A possibilidade de venda da Casan nunca existiu. Nós tínhamos no início do governo uma ideia de agilizar o setor de saneamento. Mas a Casan tinha um passivo trabalhista e previdenciário que tornava a companhia pouco atrativa. Depois nós conseguimos recuperar a saúde financeira da Casan com financiamentos. Aí não havia mais porque vender. Isso já foi resolvido em 2011.

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Mas foi ou não utilizado dinheiro não contabilizado?

As pessoas sabem que candidatos pedem recursos para bancar a campanha. Procurei ver todos os relatos que nós temos e não consta nenhuma doação da Odebrechet. Agora, claro, qualquer candidato na legislação anterior pedia ajuda. E assim foi na nossa campanha. Mas os recursos utilizados estão lá na prestação de contas.

Como o senhor encara o desgaste

político?

A pior parte é o desgaste emocional, porque você não sabe nem do que se trata. Quando você tem ciência do que está sendo acusado pode ser defender. E faz um ano que a gente tem sido citado. Algumas pessoas aproveitam isso. Mas acho este o melhor momento, porque está chegando no fim. Quando tivermos conhecimento oficial, poderemos dar os esclarecimentos necessários. Não houve obra nem pagamento nem venda da Casan. A verdade é que isso tudo está dentro de um processo de mudança do processo político. E eu apoio isso. Vai ser bom para o país. O modelo está errado. Eu não sou adversário dessa correção. Pelo contrário, vou me empenhar pra ajudar nestas mudanças.

A reforma política, por exemplo, voltou à pauta como espécie de tábua de salvação da classe política. Como fazer esta mudança de rota?

Defendo o voto distrital há muitos anos, porque não precisa dinheiro pra conseguir o voto, mas propostas e serviços prestados à população. A melhor forma de fazer política é ser reconhecido pela comunidade pelo seu trabalho. O voto proporcional fortalece exatamente o dinheiro, aí vem os financiamentos de campanha e este cenário que está posto. E para qualificar o parlamento eu defendo o voto em lista. É claro que este mundo de partidos precisa ser revisto. Uma democracia não suporta essa confusão imensa. Tem que impor uma cláusula de barreira, proibindo as coligações proporcionais para que a gente tenha um número de partidos menor e democracia mais organizada. Do contrário, nós seremos as grandes vítimas. É preciso deixar claro também o financiamento de campanha. Antes você tinha recurso oficial e não oficial e era uma prática generalizada. Agora se limitou ao quase nada, tornando impossível fazer campanha. Então tem de construir um consenso: ou vai ser financiamento público, ou vai ser voto em lista. Alguma coisa que tire a gente dessa situação, porque senão o quadro tende a se agravar.

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E o projeto da anistia geral e irrestrita do Congresso. O senhor é a favor?

Eu acho essa discussão desnecessária, porque a doação de campanha não era crime até a eleição de 2012 e isso está dito por todos os juristas e até pelas autoridades do poder judiciário. Não há a necessidade de anistiar porque não é crime. Corrupção e enriquecimento ilícito é outra coisa. Aí sim a Lava-Jato está prestando um grande serviço ao país.

O senhor pretende ser candidato ao Senado em 2018?

Não tenho dúvida que a hora em que a gente puder explicar e mostrar o que de fato aconteceu não haverá impacto negativo porque não houve nada que comprometa o governo de Santa Catarina. Isso eu garanto e ficará muito transparente. Agora, a classe política brasileira vive um momento muito difícil, mas se tem um sentimento para quem acredita no Brasil que não pode ter é covardia. Nós políticos precisamos dar mostras que temos capacidade de fazer boa política e com resultados para a população. É preciso que a sociedade participe mais do processo e não fugir dele. É claro que este desgaste é muito sofrido e muito doloroso. Mas a dor faz parte da evolução pessoal. Eu estou disposto a dar a minha contribuição. Tenho a consciência tranquila e preciso continuar tocando o governo sem deixar que isso afete a gestão. Nós temos um grande compromisso com Santa Catarina, com a recuperação da economia e geração de empregos.

O senhor já definiu se e quando pretende se licenciar do cargo?

Eu ainda não tenho definição sobre isso. Neste momento, toda a minha energia tem de ser para o governo vencer a crise. Estou me dedicando intensamente para superar esse processo pessoal, que é muito doloroso, e não deixar que ele afete o dia a dia do nosso trabalho. O segundo aspecto é garantir que a gente continue pagando salários em dia, toque as obras e mantenha a estabilidade do Estado. Evidente que o processo político está em curso, mas este é um ano para os pré-candidatos e partidos se prepararem. Essa disputa interna dos nomes vai no mínimo até o final do ano.

E o senhor acredita na manutenção da tríplice aliança?

A eleição mais importante de 2018 é para presidente da República. Ela vai influenciar decisivamente em todas as coligações. Cada partido tem a liberdade de defender o seu projeto. Nós estamos numa democracia. Lá na frente nós temos de ter pontes construídas e diálogo para ver qual o melhor caminho para SC e para o nosso grupo. Agora é hora de deixar todo mundo trabalhar, deixar as pessoas que querem se apresentar como candidatos detalharem seus projetos para lá na frente decidir com bom senso.

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Muitos entenderam que em recente evento do PSD o senhor defendeu a ruptura com o PMDB. É isso?

Eu dei uma declaração de que nosso partido pode ter candidato ao governo do Estado, é uma aspiração legítima e o deputado Gelson Merísio tem meu apoio. Mas nunca declarei que romperíamos. As conversas continuam. Nos últimos 30 anos todas as eleições aconteceram assim. Cada partido deve escolher seu candidato e se preparar a eleição. Em junho do ano que vem a gente vai ter um cenário claro. Agora com tudo o que está acontecendo no Brasil, ninguém pode prever o que vai acontecer lá na frente.

Como explicar o envolvimento de André Agostini Moreno no suposto recebimento de dinheiro?

Fui informado pelo advogado que eles têm todas as condições de provar a inocência. E isso já estaria inclusive bem encaminhado, porque nem foi aberto inquérito. Eles têm segurança de que isso não ocorreu e que é uma situação que tem todos os elementos para provar a inocência e a Justiça.