Chegar de uma longa viagem, procurar o melhor lugar no mato para erguer o acampamento, limpar a área, montar as barracas, estender a lona, subir nas árvores para amarrar tudo bem firme, cozinhar no chão e caminhar na lama. Para muitos turistas que vêm todos os verões para Florianópolis, não existe férias melhores do que essa.

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Para entender melhor por que algumas famílias e grupos de amigos preferem ficar acampados ao invés do conforto das pousadas e hotéis da cidade, a Hora foi até dois campings da Ilha, um no norte e outro no leste, para conversar com os campistas. E constatamos que a escolha é muito mais um estilo de vida do que uma iniciativa econômica.

Por exemplo, o casal de argentinos Horácio Maggi, 77 anos, e Marcela Ferro, 67, completou em 2019 duas décadas seguidas acampando no mesmo camping de Canasvieiras.

— Este camping é um lugar único. É do lado da praia, tem uma estrutura boa para cozinhar, e sempre vem bastante argentino, embora neste ano tenha vindo poucos — comenta o médico aposentado.

— A cada verão, nós vimos Canasvieiras crescer. Ali onde estão aqueles prédios, era tudo parte do camping — lembrou a esposa dele, apontando para mais um empreendimento no bairro.

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O casal veio numa camionete rebocando um pequeno trailer cheio de tralha para ficar dois meses acampados. Para os hermanos, o estilo de vida sai bem mais caro do que vir de avião e ficar numa pousada: a diária lá é de R$ 45 por pessoa.

No mesmo camping estava a professora Elaine de Oliveira Lemes, 43, que veio de Curitiba (PR) com o marido e a filha de 17 anos. Enquanto eles estavam na praia, ela fazia as unhas embaixo da barraca.

— Eu gosto é dessa convivência com as pessoas, aqui a gente conhece gente do mundo inteiro. Até na hora de cozinhar é uma experiência gastronômica. Uma hora é churrasco uruguaio, tem drink do Chile, comida mineira. Numa pousada você não tem isso — compara a turista, que também prefere gastar um pouco mais e dormir numa barraca.

Os perrengues fazem parte

Diferente do camping de Canas, onde há zonas separadas para cada família instalar seu acampamento, no Campo Escoteiro Paulo dos Reis, no Rio Vermelho, a estrutura é mais raiz, às margens da deserta praia do Moçambique. Lá, pínus e eucaliptos proporcionam bastante sombra aos acampados e ainda dão um aspecto de floresta exótica.

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É um local família, mas também de jovens viajantes, como um grupo de amigos de Farroupilha, na Serra Gaúcha. Na verdade cada um veio de um canto e todos se encontraram ali. Rodrigo da Costa, 37, mora na Alemanha e veio passar as férias acampado com os camaradas de infância Marcelo Razzera, 32, e Léo de Paula, 21. Ele trouxe o amigo italiano Mirko Piçarro. Eles estavam na dúvida entre o camping e um hostel na Barra e, mesmo a segunda opção saindo mais barato, preferiram acampar a R$ 38 a diária por pessoa.

— O cara vai passar perrengue, é certo, mas só de acordar com o cheiro do mato, o barulho do mar e dos pássaros, vale a pena.

A poucos metros deles, estava acampando o professor Roberto Anagnostopoulos, grego de nascença e criado em Porto Alegre. Ele já acampa há quatro décadas e esse ano veio sozinho para Floripa. O acampamento dele era de longe o mais completo e preparado do local.

— Sou biólogo, eu gosto de estar em contato com a natureza. Estou aqui sozinho. Tenho luz dentro da barraca, ventilador. Quer mais mordomia que isso?!

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