A pouco mais de dois meses, chega o verão. Acompanhado dele, vem também o calor intenso que tira muitos animais de suas tocas e ninhos, inclusive, as temidas cobras. Em Joinville, a maior cidade de Santa Catarina, elas aparecem com maior incidência entre os meses de novembro e abril e, também, em bairros mais próximos de áreas de matas. Com o período cada vez mais próximo, é importante saber o que fazer caso dê de cara com uma delas e, principalmente, conhecer os benefícios de manter esse animal vivo na mata.
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Em Joinville, são os bombeiros voluntários que costumam realizar capturas e resgates de cobra. Jairo Machado é bombeiro voluntário e chefe de equipe. Por conta do trabalho, circula por toda Joinville fazendo diversos tipos de salvamentos, inclusive, os de animais. Ainda que o socorrista seja chamado para fazer a captura de cobras em vários bairros, há regiões que recebem a visita das cobras com mais frequência.
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Segundo Jairo, é justamente nestas localidades mais próximas à área de mata que as serpentes costumam aparecer. No ano passado, os bombeiros foram chamados para fazer resgates principalmente no Aventureiro e Jarivatuba, com 10 chamados em cada bairro. Até setembro deste ano, o primeiro lugar foi ocupado pelo bairro Costa e Silva, com nove chamados em nove meses. Veja os 10 bairros com mais resgates em 2024:
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- Costa e Silva: 9
- Aventureiro: 7
- Saguaçu: 7
- Vila Nova: 7
- Floresta: 5
- Nova Brasília: 5
- Adhemar Garcia: 4
- Anita Garibaldi: 4
- Glória: 4
- Jardim Sofia: 4
Em 2023, por exemplo, o mês com mais ocorrências de captura de cobras para o Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville foi março, com 27 serpentes resgatadas e devolvidas para o habitat natural. Até setembro deste ano, abril foi o período com maior número de resgates, somando 24.
— Verão é aquecimento e a cobra em si, ela gosta da parte úmida, e no verão é um momento que ela sai para, às vezes, fazer a reprodução, capturar o alimento, que fica um pouco mais fácil para ela e aí tem uma movimentação maior no verão. No inverno, normalmente, ela tem a questão dos filhotes, dos ovos, onde ela fica concentrada. Esse aumento maior no verão é por conta disso, quando nasce e ela busca alimento. E, também, os acidentes acontecem porque há uma atividade de maior frequência de turistas nas matas fazendo caminhadas — explica Jairo Machado, bombeiro voluntário e chefe de equipe.
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O bombeiro também conta que, em alguns casos, cobras aparecem em locais onde não há mata porque são transportadas por alguns veículos. As serpentes são capazes de subir em motores de carros, motos e em carga de caminhões. Este tipo de caso ocorre também com outros animais como os escorpiões, cita Jairo.
O bombeiro destaca que, outro fator que contribui para o aparecimento das serpentes é a presença de alimentos em certos territórios. No bairro Nova Brasília, por exemplo, há passagem da linha férrea, onde os trens derrubam grãos, ratos são atraídos e, consequentemente, as cobras que predam os roedores. No percurso da caça, por vezes, elas se “perdem” e vão parar perto de casas, dentro de gavetas de talheres, motores de carros e até de sapatos.
— O que os bombeiros sempre falam é dos cuidados com o teu ambiente de casa. Quanto mais limpo você mantém, com menos entulho, menos tem proliferação de rato, sapo, barata. E elas [as cobras] vão atrás — destaca Jairo.
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O que fazer se encontrar uma cobra?
Caso o morador se depare com uma cobra, gambá ou outro animal silvestre em casa ou no terreno, por exemplo, o procedimento correto é acionar os bombeiros voluntários. A equipe é preparada para fazer a contenção e resgate de diversos animais. Os socorristas possuem ferramentas que não geram danos aos animais e fazem a captura com segurança tanto para os moradores, quanto para o bicho “invasor”.
As cobras presentes na região abarcam serpentes sem peçonha, como as caninanas, dormideiras e cipós, assim como as que são peçonhentas, como as jararacas e as corais. Ambas podem ser confundidas com cobras sem peçonha e, por isso, estes animais não devem ser pegos. A recomendação é de, caso o morador encontre alguma serpente, ligue para o bombeiro fazer o resgate.
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Em casos em que já houve a picada, a vítima não deve pegar a cobra na mão, mesmo se já tiver sido picado. Jairo esclarece que não é necessário levar o animal até o pronto atendimento de saúde para poder tomar o antídoto. O máximo que pode ser feito é tirar uma foto.
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— Qual é o maior problema? A gente leva picada, fica nervoso, aumentam os batimentos e a circulação […]. Esse veneno começa a percorrer o corpo. Claro que me movimentar não teria grande problema, porque o veneno é muito rápido para ele se espalhar, mas quanto menos me movimento, menos veneno pelo meu corpo. Então, picado, ligue 193, lave o local com água e sabão, deixe bem limpo o local e fique acomodado, sentadinho ou deitado até a chegada da equipe de bombeiros para que a gente possa transportar o mais rápido para o hospital para receber o soro e ter uma uma chance de vida maior — orienta Jairo.
Além disso, o bombeiro afirma que é importante, em todos os casos em que há mordida do animal, ligar para o Corpo de Bombeiros Voluntários para que sejam feitas as orientações de acordo com cada necessidade.
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Isso porque, mordidas de cobras sem peçonhas ou de outros animais como os gambás, podem infeccionar, mesmo que não seja injetado o veneno. Estes animais costumam possuir bactérias na boca, que são transferidas aos humanos em caso de mordidas.
— [Cobras sem peçonha] ficam na mata, ela come rato, muitas coisas que podem te trazer uma infecção. É importante ir ao hospital fazer limpeza, lavar, tomar algum medicamento porque, se não for o veneno, são as bactérias que podem da mesma forma atingir a saúde. O gambá também, como come bastante dejetos, se ele te morder, da mesma forma, ou o cachorro. Se te morder, precisa ir lá tomar a vacina antitetânica. Foi mordido por qualquer tipo de animal, vai até o hospital fazer uma avaliação — orienta.
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Não mate, chame o resgate
Apesar de causar temor, as cobras não costumam ser animais agressivos e atacam apenas para se defender, aponta o bombeiro. Acidentes normalmente acontecem porque as pessoas tentam manusear o animal ou, ainda, trabalham sem o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), como as perneiras, e acabam sendo mordidas pela serpente.
Além de não ser um animal agressivo, as cobras fazem controles de outras espécies presentes na região. Por isso, a presença dela é muito importante para que não haja infestações.
— Porque se a gente começar a matar acaba não tendo mais predação no ecossistema daquela região, ele também vai ser fragilizado. Se não tem mais cobras, pode ser que tenha um índice muito grande de ratos. Então, existe um controle nisso tudo e matando gera esse desequilíbrio — destaca Jairo.
O mesmo vale para outras espécies de animais, como os gambás. Por conta do famoso mau cheiro, eles acabam sendo mortos, mas também fazer controles de pragas como escorpiões e outros insetos.
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Além disso, o bombeiro também lembra que é crime ambiental matar animais da fauna local. O artigo 29 da Lei 9.605, de 12 de Fevereiro de 1998, indica que matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida” é crime com penas de seis meses a um ano de prisão e o pagamento de multa.
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