Há 30 anos, a implementação do Plano Real marcou o que seria o começo do fim da hiperinflação no Brasil. Contudo, antes de ser colocado em prática e atingir os objetivos com sucesso, outros projetos foram adotados no país com a mesma intenção, mas sem os mesmos resultados.
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Entre os termos que fizeram parte da vida dos brasileiros nas décadas de 80 e 90, estavam corte de zeros, tablitas de reajuste, congelamento de preços, gatilho salarial, indexadores e confisco. Na época, a hiperinflação esmagava o poder de compra dos trabalhadores, e dificultava o planejamento financeiro, já que a moeda flutuava constantemente.
Assim que recebiam o salário, os brasileiros iam aos supermercados estocar produtos, já que os preços mudavam constantemente nas prateleiras. O Brasil vivia um período de alto grau de endividamento externo, além de baixo crescimento e déficits públicos elevados.

Antes da implementação do Plano Real, que começou a ser desenhado em 1993 e foi concretizado em 1994, no governo de Itamar Franco, os presidentes José Sarney e Fernando Collor de Mello tentaram executar seis planos econômicos, que não tiveram sucesso.
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Plano Cruzado I e II
O Plano de Estabilização Econômica (PEE) foi lançado em 1986 durante o governo de José Sarney e ficou conhecido como Plano Cruzado devido a troca da moeda cruzeiro pelo cruzado, cortando três zeros na antiga moeda (Cr$ 1000=Cz$ 1).
O plano previa o congelamento da taxa de câmbio oficial e dos preços e a criação do gatilho salarial. O gatilho funcionava determinando que sempre que a inflação atingisse o patamar de 20% ao mês, ou superasse esse número, os salários deveriam ser corrigidos pelo mesmo índice. Já a “tablita” convertia o valores de dívidas durante o período em que a inflação estava muito elevada.
O plano até conseguiu garantir queda na inflação nos primeiros meses, mas logo o congelamento de preços provocou desequilíbrio financeiro para os produtores, provocando escassez de produtos, especialmente alimentos.
Em 1986 foi lançado o Plano Cruzado II, que descongelou o preço de alguns produtos e serviços, e também aumentou impostos e tarifas. A medida buscava suprir déficits do governo. Com o congelamento da taxa de câmbio oficial, houve uma valorização artificial do cruzado, que prejudicou as exportações brasileiras e valorizou as importações.
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O nível das reservas internacionais caiu muito, e em fevereiro de 1987 o Brasil declarou moratória da dívida externa, suspendendo o pagamento dos juros por tempo indeterminado. A inflação voltou a subir, e alcançava 14,15% no final daquele ano.
A Obrigação do Tesouro Nacional (OTN), sem correção monetária garantida por um ano, substituiu a Obrigação Reajustável do Tesouro Nacional (ORTN), criada em 1964, que havia institucionalizado a indexação da economia, ou correção monetária generalizada de preços.
Plano Bresser
Lançado em 1987, a principal premissa do Plano Bresser era um novo congelamento de preços. Além disso, o gatilho salarial foi extinto. As ações adotadas no Plano Cruzado II resultaram em uma taxa de câmbio oficial desvalorizada. O projeto previa ainda a criação da Unidade de Referência de Preços (URP), que era usada como base de reajuste de preços e salários. A inflação chegou a cair entre junho e agosto, mas voltou a subir porque o congelamento não era respeitado, e os preços eram remarcados.
Plano Verão
A implementação do Plano Verão trazia como medida, novamente, o corte de três zeros na moeda (Cz$ 1000 = NCz$ 1) e a mudança do cruzado para o cruzado novo, além de um novo congelamento de preços. A Unidade de Referência de Preços (URP), criada no Plano Bresser, foi extinta, assim como a Obrigação do Tesouro Nacional (OTN).
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Inicialmente, as medidas conseguiram desacelerar a inflação, porém nos meses seguintes ela voltou a crescer desenfreadamente, chegando ao 1.972,91% de taxa anual em 1989.
Planos Collor I e II
Chamado de Plano “Brasil Novo”, porém mais conhecido como Plano Collor, o projeto foi implementado em 1990, um dia após a posse do primeiro presidente escolhido em eleições diretas após a ditadura. O projeto ficou marcado por uma medida que gerou controvérsias: o confisco de depósitos à vista e de poupança pelo prazo de 18 meses. Ficaram liberadas somente retiradas e resgates de até NCz$ 50 mil.
A moeda voltou a se chamar cruzeiro, porém sem corte de zeros, e houve novos congelamentos de preços e salários. Outras medidas adotadas foram a flexibilização do regime cambial, a abertura comercial gradual da economia brasileira e a redução da máquina administrativa do governo.
O país entrou em recessão severa, e não conseguiu conter a inflação, que chegou ao patamar de 1.621% ao ano em 1990.
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No ano seguinte, a fase dois do plano foi anunciada, novamente com congelamento de preços e salários, e com o fim das contas indexadas de curtíssimo prazo para pessoas físicas (remuneradas por aplicações de um dia em títulos públicos – o chamado overnight).
Teve início a adoção da Taxa de Referência (TR), utilizada até hoje. As ações contiveram a inflação por pouco tempo, que logo voltou a acelerar.
Em 1992, Collor sofreu impeachment, o que trouxe instabilidade política junto à já presente instabilidade macroeconômica. Itamar Franco trocou diversas vezes de ministro da Fazenda no início do governo, e em agosto de 1993 determinou que o cruzeiro fosse trocado para cruzeiro real, com corte de três zeros (Cr$ 1000 = CR$ 1).
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