A distância aumentou nesta quarta-feira (25) entre Madri e Barcelona com a negativa do presidente separatista catalão, Carles Puigdemont, de se pronunciar ante o Senado, que se dispõe a intervir diretamente no autogoverno desta região.
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“Não irá nem na quinta-feira (26), nem na sexta-feira (27)” à Câmara Alta, indicou à AFP uma porta-voz do presidente catalão, explicando que a negativa se deve ao fato do governo espanhol estar decidido de todas as formas a tomar o controle da Catalunha para enfrentar o desafio secessionista.
Ao contrário, Puigdemont comparecerá ao Parlamento catalão em Barcelona, que na quinta-feira abrirá uma plenária às 16h00 locais (12h00 de Brasília).
A sessão poderia se prolongar até sexta-feira e nela serão apresentados todos os cenários, incluindo a declaração unilateral de independência com a qual o governo separatista catalão ameaça há semanas.
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Carles Puigdemont foi convidado para ir ao Senado expor os seus argumentos contra as medidas anunciadas sob a proteção do Artigo 155 da Constituição espanhola.
Estas incluem o encerramento em bloco de seu governo, a convocação de eleições regionais em um prazo máximo de seis meses e a tomada de controle da Polícia catalã e dos meios públicos locais.
O possível comparecimento do líder independentista acendeu a esperança de uma aproximação. No entanto, nesta quarta, o presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, assegurou ante a Câmara Baixa que a intervenção na Catalunha é “a única” resposta possível para enfrentar o desafio separatista.
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“Me disse que as instituições catalãs pediram diálogo e a minha resposta foi o (Artigo) 155, e é verdade”, declarou Rajoy ao deputado independentista Joan Tardà, insistindo que essa resposta – a intervenção da autonomia – “é a única possível”.
– Um cenário imprevisível –
Em qualquer caso a aplicação do Artigo 155 abrirá um cenário inédito, em uma região que representa 19% do PIB espanhol e na qual a economia está se ressentindo pela incerteza política.
Desde o início do mês, cerca de 1.500 empresas decidiram tirar da Catalunha o seu domínio fiscal, entre elas os dois maiores bancos, CaixaBank e Sabadell, segundo os últimos dados do Colégio de Registradores.
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Também pode-se prever que haja resistência às diretrizes do governo central tanto nas ruas, onde os separatistas estão muito mobilizados, como nas instituições, onde seria exposto no dia a dia o boicote de milhares de funcionários públicos.
Ante este panorama caótico, muitos membros do governo catalão sugeriram a Puigdemont a antecipação das eleições regionais na esperança de evitar o que as fileiras separatistas chamam de “liquidação” do autogoverno, indicou à AFP uma fonte do governo. O presidente ainda está avaliando as opções.
“Ele está consciente das consequências de tudo”, tanto da aplicação do Artigo 155, como da convocação de eleições, o que implicaria acatar a ordem constitucional que Puigdemont precisamente quer romper, explicou essa fonte.
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Até agora, Puigdemont vem repetindo que se deve respeitar o “mandato” do referendo ilegal de autodeterminação realizado em 1º de outubro.
O seu governo assegura que o “sim” à independência venceu com 90% dos votos e contou com a participação de 43% da população em uma consulta que não foi validada por nenhuma autoridade eleitoral independente.
– Pressão nas ruas –
Os setores mais obstinados do independentismo se agarram a esta promessa e não param de exigir a Puigdemont que coloque sobre a mesa uma declaração unilateral de independência.
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Nesta quarta-feira, diversos grupos que participaram da defesa do referendo de 1º de outubro organizaram uma marcha até a Câmara catalã como forma de pressão para exigir uma declaração unilateral.
Após as 18h00 locais (14h00 de Brasília), centenas de pessoas se reuniram na praça Sant Jaume de Barcelona, em frente à Presidência do governo catalão.
Entre elas viam-se muitos professores segurando cartazes escritos “Não toquem na educação”, um setor em que há anos se pratica a chamada política de imersão linguística, em virtude da qual quase todas as horas de aulas são dadas usando a língua catalã.
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Também estão sendo preparadas mobilizações de duas grandes associações separatistas, a Assembleia Nacional Catalã e a Òmnium Cultural.
* AFP