“Quando menina, foi molestada dos oito aos 12 anos pelo próprio pai. Na vida adulta, não conseguia manter vínculos de relacionamento afetivo com homens. No início dos namoros era sempre envolvente e sedutora, mas quando despertava o interesse sexual no parceiro acabava desistindo.
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A paciente em questão procurou tratamento psicológico aos 30 anos de idade. Após longo período de desconfiança, consolidou-se um vínculo que oscilava entre o amor e o ódio. Em determinado momento do processo psicoterápico, os mecanismos de defesa se tornaram mais expressivos, em especial a “transferência”. Por meio de um processo mental chamado “projeção”, a paciente passou a deslocar material relacionado ao pai em direção ao psicoterapeuta.
No transcorrer de uma sessão, ainda sem entender, desnudou-se rapidamente. Neste momento, foi dito a ela que se comportava de maneira ridícula e infantil. Paralisada, imediatamente se vestiu e com muita fúria abandonou o consultório.
Na semana seguinte continuamos trabalhando. Surgiram sentimentos de culpa. Ela se responsabilizava por aquilo que julgava ser provocação aos homens. Aos poucos, foi alinhavando as vivências da infância com a vida adulta. O exemplo que tinha em casa com o pai como modelo provocava culpa, raiva, confusão e muita insegurança. Assim, para ela, todos os homens eram iguais, “farinha do mesmo saco”.
O vínculo terapêutico possibilitou refazer a figura paterna doentia da infância, oferecendo um novo modelo, ao qual a paciente se sentiu entendida e acolhida com segurança. A psicoterapia seguiu por mais um tempo. Após alguns anos, chegou um cartão informando que ela havia casado e tivera um filho. No final, escreveu: “Você foi o melhor homem que conheci”.
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O processo psicoterápico oferece possibilidades de esclarecimentos que permitem a pessoa reorganizar seu mundo interior trabalhando o passado, o presente e as perspectivas de futuro. O psicoterapeuta pode ser coadjuvante no pensar a vida. Sem dúvida, todos podem se beneficiar, seja recebendo um apoio psicológico ou trabalhando na reeducação.“