Cuidado profissional, acolhimento e sinceridade com os sentimentos. Essas são as sugestões da psicóloga Catarina Gewehr sobre como os envolvidos do ataque a creche de Blumenau podem amenizar a dor após o caso, principalmente para as famílias das quatro crianças que morreram.

Continua depois da publicidade

Receba notícias de Santa Catarina pelo WhatsApp 

Moradora da cidade, ela diz que apesar de todos serem impactados, a atenção para superar os traumas deve ser redobrada entre as crianças. Apesar da dificuldade em explicar a situação, a psicóloga afirma que, ao lidar com crianças até um ano e meio, é necessário manter a rotina de alimentação e higiene e a tranquilidade. Já a partir dos dois anos é possível usar palavras, não inventar histórias e conversar com calma. 

— Criança é feita de percepção, isso vai organizar o comportamento dela. Tudo precisa ser dito com acolhimento, “olho no olho”. Caso o adulto chore, explicar que é uma situação triste, nunca dizer que é “nada” — destaca. 

Para as crianças que presenciaram o crime, Catarina diz ser importante o retorno à escola com questões sentimentais.

Continua depois da publicidade

— Se está triste, sugere fazer um desenho, por exemplo. Se elas estão brabas, precisam falar sobre. Também é necessário que os adultos exponham o que sentem para as crianças mais velhas que passaram por casos como este — analisa. 

Após a tragédia, a psicóloga ressalta que a creche Cantinho Bom Pastor deve promover formas de celebrar a vida e a memória de quem estudou no local, ressignificando o espaço com novas cores,  promover círculos de cuidados e diálogos com familiares que perderam uma criança. 

— É importante que o espaço demonstre efetivos de segurança para todos, mas no campo das emoções é necessário um trabalho de reorganização das expressões sobre o acontecido. São esses processos que ajudam a passar por esses momentos dilacerantes — aponta. 

Ainda conforme a profissional da área de saúde mental, não basta colocar um policial armado, câmeras e cercas elétricas, é necessário que pais, responsáveis e educadores pensem em projetos relacionados à infância. 

Continua depois da publicidade

— Uma boa alternativa é aumentar a cooperação e o compromisso comunitário com a instituição. Não deixar que casos como esse mantenham o sentimento de medo no local — pensa. 

Impacto em toda cidade

Para Catarina Gewehr, experiências de ataques como a de hoje geram sentimentos de desolação nas pessoas.

— Blumenau está um silêncio. Não é normal nem para o horário, nem para o dia da semana. É um peso, uma sensação de que algo muito irregular aconteceu — conta.

Fotos mostram como ficou a creche de Blumenau após ataque com quatro mortes

Nas crianças, conforme ela, o fato causa impasses primeiro na linguagem, sendo que a percepção delas é alterada conforme o adulto repassa a informação, mesmo entre as que presenciaram o crime. 

Continua depois da publicidade

— Geralmente, o adulto chora e dá resposta sem nexo para criança. É necessário entender que é legítimo estar triste, necessário manifestar, não fingir que está tudo bem. Assim, as crianças tendem a superar de maneira melhor casos devastadores como o ataque à creche — explica. 

“Serão muitos ciclos de perda de força”, diz psicóloga

Conforme a profissional, é normal que a população sinta desolação nos próximos períodos, sentindo tristeza, raiva, depois querer justiça, em seguida pensar o que poderia ter feito para evitar e, em seguida, novamente tristeza. 

— Serão muitos ciclos de perda de força. Todos os envolvidos vão precisar de ajuda profissional até que a situação perca a força de tirar a força das vítimas. Esses acontecimentos impactam por muito tempo — lamenta. 

Catarina reforça ser necessário que o país pense em ferramentas e políticas públicas com objetivo de promover uma cultura de paz, de diferenças e de valorização da vida, em vez de promoção de ideias a favor de armas, por exemplo. 

Continua depois da publicidade

Crianças feridas em ataque a creche de Blumenau estão fora de perigo, diz hospital

— Produzir um enfrentamento pela vida, mudar perspectivas que nos últimos tempos tiveram muito valor: a cultura bélica, “do que eu quero e o outro que se aguente”. É preciso desenvolver um pensamento coletivo, de que valor primordial da vida seja o cuidado com todos os cidadãos — finaliza.

Leia também

“Já, já, vocês vão saber” disse autor do ataque em creche de Blumenau ao se entregar à PM

Professora trancou bebês no banheiro ao saber de ataque com quatro mortos em Blumenau

“Vou honrar a memória do meu filho todos os dias”, diz pai de menino morto em Blumenau