Traumas e transtornos após assaltos são comuns e podem ser evitados com técnicas preventivas. Diante do aumento da criminalidade urbana, cada vez mais a atuação nesse quesito é exigida de profissionais da área de psicologia.
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Para colaborar com o esclarecimento e a formação de colegas na área, a psicóloga Liane Pinto, especialista em programação neurolinguística (PNL) e em experiência somática (SE), falará sobre esse tema no 10º Congresso Latino-Americano de Programação Neurolinguística, que ocorre de quinta-feira a sábado, no Rio de Janeiro.
Há 12 anos, a psicóloga atende vítimas no consultório, além de ser acionada por bancos, lojas e outras instituições para dar apoio psicológico aos funcionários logo após a ocorrência. Liane explica que o trauma é a desorganização e sobrecarga neurofisiológica que se dá depois de um evento como um assalto. Quanto antes a pessoa buscar ajuda especializada, menores serão as chances dos sintomas tornarem-se crônicos.
Imediatamente após o assalto, a pessoa pode apresentar o estado agudo de estresse, cujos sintomas são agitação com hiperatividade, flashbacks, desorientação, estupor dissociativo, entre outros. Segundo Liane Pinto, isso é normal, e depois de dois ou três dias, os sintomas vão naturalmente diminuindo.
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– Para diminuir a possibilidade de desenvolvimento do transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), o ideal é que a pessoa consiga descarregar a fisiologia nas primeiras 24 horas – recomenda.
Ela relata que o estresse pós-traumático pode se expressar por meio de flashbacks, onde imagens intrusas perturbam a vítima e ela começa a evitar passar no lugar onde o trauma aconteceu ou em locais parecidos. Outros sintomas, como insônia ou hipersonia, depressão ou ansiedade também podem estar associados.
A psicóloga alerta que se a pessoa estiver com algum sofrimento emocional, cabe buscar ajuda especializada.
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– Assim como uma cicatriz física, quanto mais ela estiver profunda, mais cuidados ela deverá receber – alerta.
Dicas para lidar com o trauma
A especialista enumera algumas atitudes que ajudam a reduzir as consequências traumáticas, se praticadas nas primeiras 24 horas após o assalto. Confira:
:: Calar ou falar sobre o assunto?
A especialista explica que cada pessoa se sentirá melhor de uma forma. Há estudos que apontam que ficar falando muito sobre os fatos pode piorar os sintomas do trauma, potencializando a sensação de impotência e de insegurança. O ideal é observar se, ao contar, a pessoa vai ficando mais aliviada ou se fica mais tensa. Mesmo que as pessoas insistam para ouvir os detalhes, só vale continuar os relatos se isso der sensação de alívio. Cada pessoa tem um perfil diferente.
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:: Ressignificar a lembrança
Lembrar é importante para a estrutura da memória, para a defesa natural. Algumas técnicas são indicadas para que a pessoa consiga desorganizar menos o sistema nervoso. Primeiro, a pessoa deve observar o que sente quando surge o “flashback mental”. De zero a 10, quanto isso incomoda? Ao concluir esse exercício, a pessoa fica mais aliviada, mais segura.
:: Focar no alívio
A pessoa está viva e pode ficar melhor lembrando-se de um momento de alívio, que pode ser o momento em que o assaltante foi embora, ou quando uma pessoa se aproximou para lhe dar até mesmo um copo d’água. É natural que a partir de então a pessoa chore, trema ou tenha alguma outra reação de descarga. Quando a pessoa chora, descarrega a tristeza, a angústia, e isso faz parte da reorganização neurofisiológica. Aliando técnicas de programação neurolinguística à experiência somática, a psicóloga enfatiza que é importante observar o que acontece no corpo e buscar educar o paciente, ajudando-o a, posteriormente, ressignificar o fato.
:: Completar a estratégia de defesa
Obviamente, é indicado que a pessoa não reaja a nenhum assalto. Mas após o fato, já em local seguro, a pessoa pode mentalmente fazer o que gostaria de ter feito. Ela pode imaginar-se empurrando o assaltante, imaginar-se correndo, entre outras inúmeras possibilidades, que desejar longe dele. Ao completar essa estratégia de defesa com a imaginação, a pessoa pode obter o alívio mais rapidamente.
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:: Buscar apoio para crianças
Se a criança ficar agitada, correndo de um lado para o outro, chorando, gritando, por exemplo, deixe-a livre para completar a sua estratégia de defesa. Cabe ajudá-la a transformar o que houve de forma lúdica, sem nenhuma repreensão do que ela falar ou se expressar, sem nenhum juízo de valor. É recomendável pedir para ela desenhar livremente o que quiser, ou fazer um jogo teatral, sempre brincando e transmitindo para ela que já estão seguros. O apoio dos pais ou responsáveis é essencial para a criança conseguir elaborar o fato com mais facilidade. É importante acompanhar as reações da criança também no dia seguinte e, se necessário, buscar ajuda especializada o quanto antes.