“O brasileiro adora criticar tudo e todos, desde que não seja ele o objeto da crítica, que será sempre rebatida com mau humor. Herança portuguesa, dirá a atriz e escritora Maitê Proença.Norberto Elias, sociólogo alemão, no seu livro O Processo Civilizador, relata que durante o século 18, nos salões da aristocracia, a sátira, frases de múltiplos sentidos e os elegantes jogos com as palavras eram considerados de bom tom. Mas na nossa cultura, a crítica ou o simples fato de discordar de alguém é visto como falta de educação. Como consequência não se aprendeu a debater ideias e, menos ainda, a lidar com a oposição a elas.
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Uma das frases mais ouvidas depois do incidente na UFSC foi: “Se tivessem dialogado não teria ocorrido o confronto”. Também já ouvi muito: “Caí fora porque não queria brigar”. E ocorre porque não nos ensinaram a usar o diálogo e a negociação para resolvermos situações de conflito.
Ao contrário de Rousseau, que dizia que o homem nasce bom e é a sociedade que o degenera, Freud afirma que é a civilização que molda o homem impondo limites aos seus impulsos agressivos. Contardo Calligaris vai além ao dizer que “é a falência do simbólico que produz a violência”, ou seja, é a falência da Lei – representação simbólica das regras da sociedade – que produz a violência. Quando um pai estaciona o carro na calçada, está dizendo ao filho que a lei não precisa ser respeitada. Também Getúlio Vargas, quando dizia que “para os inimigos a lei e para os amigos tudo”, estava dizendo que ela não tem valor.
Só quando a lei deixar de ser uma palavra vazia conquistaremos uma sociedade verdadeiramente democrática. E só quando aprendermos a valorizar o diálogo, o confronto físico cederá lugar ao confronto de ideias.“
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