“Quando vou ao Centro, deixo o carro em um estacionamento e ando a pé, como a maioria das pessoas que vão para o trabalho, para o consultório, para as compras etc., que passam falando ao celular, caminhando rápido sem parar ou olhar para os lados. São pessoas anônimas que andam indiferentes à cidade cujas ruas deixaram de ser lugar de encontro, de convivência, tornando-se espaços imprecisos, sem significados. São “lugares nenhum”, como observa Jane Jacobs em Morte e Vida de Grandes Cidades.
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O aumento do tráfego de automóveis e a falta de políticas públicas voltadas ao pedestre estão acabando com a vida nas cidades. Uma boa cidade para se viver e passear é aquela em que as pessoas se sentem convidadas a caminhar, pedalar ou permanecer nela. E, para isso é necessário que tenhamos boas calçadas. Viajando por diversas cidades da Europa percebi que todas possuem bons espaços urbanos para o pedestre, que suas calçadas são largas e cheias de vida. Mas não precisamos ir tão longe, Balneário Camboriú – apesar da praia lotada e dos arranha-céus de gosto duvidoso – é uma cidade onde se anda a pé, que permite o encontro entre pessoas e desperta o desejo de nela permanecer. É também uma cidade que tem vida. Enquanto que em Florianópolis, como nas demais, é só nos shoppings que podemos andar com segurança, encontrar pessoas, e é para lá que vamos muitas vezes em busca do nosso direito de caminhar.
Mas a riqueza e a diversidade de experiências só encontramos nos espaços urbanos das ruas e praças. Enquanto esses são democráticos, o shopping é o lugar da segregação social, da discriminação. Para o arquiteto dinamarquês Jan Gehl, em Cidades para Pessoas: “Reforçar a função social dos espaços da cidade contribui para uma sociedade mais democrática e aberta”.