Dois judeus discutem sobre quem tem razão em uma discussão. Sem chegar a uma conclusão, procuram o rabino. Depois que o primeiro judeu expõe sua fala, o rabino diz: “Tu tens razão”. Contrariado, o segundo judeu diz seus motivos, ao que o rabino responde: “Tu também tens razão”. Mais tarde, a mulher do rabino chama sua atenção para o fato de ter dado razão a dois argumentos opostos. O rabino conclui: “Tu também tens razão.”
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Esta é a piada favorita do psicanalista Abrão Slavutzky, que a contou em um congresso no qual se discutia a melhor linha psicanalítica para entender um paciente. A coordenadora da mesa disse que não estava de acordo com a visão exposta na piada. Então, Slavutzky tascou:
– Tu também tens razão.
O psicanalista acredita que o humor é rebelde, e esse foi um dos motivos que o levaram a escrever o livro Humor É Coisa Séria (editora Arquipélago), que será lançado nesta terça-feira (25/03), às 19h, na Livraria Cultura do Bourbon Shopping Country, em Porto Alegre. É um ensaio voltado ao público amplo, com passagens autobiográficas, que procura traçar uma breve história cultural do humor. O autor recorda que sua atração pelo tema vem da infância, ao assistir aos filmes de Chaplin. No livro, enfrentou a velha máxima de que refletir sobre o humor nunca é tão engraçado quanto contar uma piada. Slavutzky explica:
– Tinha a preocupação de não fazer um livro pesado. Por isso, procurei contar uma história aqui, outra ali. Temos que trabalhar pela leveza. Aliás, esta é uma das recomendações do escritor Italo Calvino expostas no livro Seis Propostas para o Próximo Milênio.
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Entre uma história e outra, o psicanalista passeia por assuntos improváveis – como o humor dos judeus no Holocausto – e complexos – como o humor infantil, tema sobre o qual teve dificuldade de encontrar bibliografia.
– O humor no Holocausto era um tabu, quase não tinha sido estudado. Nos últimos anos, surgiram livros sobre isso. Os sobreviventes relatam que, sem humor, teriam morrido imediatamente, pois tudo os conduzia para o extermínio. Criaram uma espécie de humor negro.
Implícito no título – Humor É Coisa Séria – está um desafio à história das ideias. Não foram muitos os grandes pensadores que se debruçaram sobre o tema, que se constituiu como uma área de pesquisa marginal. Freud e Bergson estão entre os que nadaram contra a corrente.
– Antes deles, o romantismo alemão tinha uma simpatia pela espirituosidade. Isso influenciou Freud. Por incrível que pareça, ainda há preconceito. Não se vê muitos congressos psicanalíticos sobre o humor – diz Slavutzky.
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Assim, o autor espera que o livro ajude a continuar despertando novas pesquisas. Sua avaliação é que historiadores e antropólogos têm se dedicado mais ao humor do que filósofos e psicanalistas. Os países que se destacam pelo estudo do tema, segundo ele, são Estados Unidos, Canadá, Espanha e Israel.
– O humor nos faz duvidar das certezas. É por esse motivo que o fanatismo ou qualquer sistema autoritário não gosta disso.
HUMOR É COISA SÉRIA
> De Abrão Slavutzky.
> Ensaio. Editora Arquipélago, 344 páginas, R$ 39,90.
> Sessão de autógrafos nesta terça-feira (25/3), às 19h. Haverá debate com e escritora Cíntia Moscovich e psiquicanalista Mário Corso.
> Livraria Cultura do Shopping Bourbon Country (Túlio de Rose, 80), fone (51) 3028-4033, em Porto Alegre.
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> Onde estacionar: no Shopping Bourbon Country, a R$ 2,50 (motos) e R$ 7 (carros).
> O livro: traça um panorama da presença do humor na história da cultura em uma perspectiva psicanalítica.