O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), anunciou nesta terça-feira uma série de medidas para rebater as denúncias envolvendo políticos do partido em esquema de corrupção e formação de cartel na construção do metrô de São Paulo.

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Em entrevista coletiva, ao lado de dirigentes da legenda, os tucanos pediram a demissão do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que diz ter encaminhado à Polícia Federal um documento no qual um ex-diretor da Siemens apontaria envolvimento dos tucanos em uma empresa de consultoria que intermediaria o esquema do cartel.

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– Acho que ele (Cardozo) perdeu as condições de ser o coordenador dessas investigações como ministro da Justiça, pelo açodamento e omissão nesse processo. O PT faz um mal enorme para a democracia, ao fazer do poder sua razão de existir – disse Aécio.

Os colegas do mineiro, contudo, foram mais contundentes ao compararem o imbróglio envolvendo o envio do dossiê à PF ao escândalo dos “aloprados”. Nesse episódio anterior, petistas teriam comprado um dossiê na eleição de 2006 para comprometer o candidato José Serra ao governo paulista.

Em um primeiro momento, a PF informou que o relatório havia sido recebido do Cade. Depois, porém, Cardozo admitiu que foi ele o responsável pelo envio do material à Polícia Federal. Até agora, no entanto, o ministro da Justiça não apresentou protocolo ou outra forma de registro comprovando que foi ele quem protocolou tal documento na PF.

O PSDB encaminhará uma representação à Comissão de Ética Pública da Presidência da República envolvendo Cardozo por causa desse episódio. Também tentará convocar o ministro da Justiça para depor na Câmara e no Senado e irá representar contra Cardozo no Ministério Público Federal por improbidade administrativa.

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Para os tucanos, o ministro não poderia encaminhar à PF um documento apócrifo, que ele teria recebido em casa e não oficialmente, no ministério. O Ministério da Justiça confirma essa versão. Para os tucanos, o caminho correto seria enviar o documento à Procuradoria-Geral da República (PGR), uma vez que há parlamentares citados, com direito a foro privilegiado.

Os dirigentes do PSDB também acusaram o PT de ter adulterado o relatório original do ex-executivo da Siemens Everton Rheinheimer, que apontava o pagamento de propinas aos governos do partido em São Paulo. Os tucanos distribuíram cópias do documento, em inglês e em português, que mostram que a tradução não corresponde ao original.

Cardozo nega motivação política

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, rebateu as acusações do PSDB.

– Quero lamentar uma tentativa de transformar a investigação em disputa política e eleitoral. Não existe nada que possa mostrar perseguição – afirmou Cardozo, durante entrevista coletiva, ao lado do diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello, e o presidente do Cade, Vinícius Carvalho.

O ministro relatou que, em maio, recebeu em sua casa, em São Paulo, o deputado estadual Simão Pedro (PT), que lhe entregou um conjunto de informações que continha as denúncias de envolvimento dos tucanos em uma empresa de consultoria que intermediaria o esquema do cartel. Esse encontro teria ocorrido em um domingo, provavelmente no dia 12 de maio.

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Segundo Cardozo, ele, por dever de ofício, entregou pessoalmente as informações, já no início daquela semana, para o diretor da Polícia Federal examinar. Ele disse que pediu “o máximo de cautela” na análise dos documentos porque “tinha amigos pessoais, pessoas que respeita” citadas e não gostaria de ter riscos de vazamento das informações.

Por essa razão, ele disse que preferiu entregar os documentos em mãos para Daiello para que não houvesse vazamento durante a tramitação do ministério para a Polícia Federal. Ao analisar o material, conforme o ministro, a PF relacionou outra investigação, aberta desde 2008. Por essa razão, o documento teria sido anexado no inquérito.

O ministro afirmou que não há, até o momento, nenhum indício de pessoas com foro privilegiado envolvidas em irregularidades. Cardozo também saiu em defesa do Cade e da PF:

– Reputo inaceitável a afirmação de que instituições como o Cade e a PF são instrumentalizadas. É ofensivo. É triste ver órgãos respeitados chamados de aparelhos políticos. Aqueles que acham que denúncias devem ser rasgadas, não sabem que acabou o tempo do engavetador.

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