Apontado como possível causador da morte da família catarinense em um apartamento na cidade de Santiago, no Chile, o monóxido de carbono é um tipo de gás altamente tóxico e letal. Segundo especialistas, o maior fator de risco é que ele não tem cheiro e, por isso, pode levar à morte sem que a pessoa se dê conta da intoxicação.

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De acordo com o médico Pablo Mortiz, que atua no Centro de Informações e Assistência Toxicológica (Ciatox) de Santa Catarina, em geral, em edificações como a alugada pela família no centro de Santiago, a fonte mais comum desse tipo de gás é o sistema de aquecimento.

— O monóxido de carbono é gerado na fonte de calor. Geralmente, o que acontece em prédios mais antigos, é a liberação dele por vazamento nos canos do sistema de calefação. Esse tipo de sistema não é comum no Brasil, mas em países onde ele é, como os Estados Unidos, por exemplo, há uma preocupação enorme com a possibilidade de intoxicação, tanto que prédios mais antigos costumam possuir alarmes para detectar vazamentos — explica o médico.

A professora Cláudia Regina dos Santos, que é supervisora do Ciatox, complementa que esse tipo de gás pode ser gerado a partir de qualquer queima.

— Ele é proveniente da combustão incompleta. Então, toda vez que há qualquer queima, há a liberação dele. Há tipos de aquecedores, por exemplo, em que você precisa acender uma chama, então há uma queima ali. Às vezes, se o aparelho está desregulado, e se o ambiente está completamente fechado, a liberação de monóxido de carbono pode ser muito alta e acabar consumindo o ar — ressalta Cláudia.

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A exposição ao componente, ainda de acordo com a professora, altera a estrutura da hemoglobina, que tem a função de transportar o oxigênio no corpo, e passa a comprometer o sistema nervoso caso a pessoa continue no ambiente contaminado.

— É altamente letal, porque não tem cheiro nenhum, e justamente por isso é tão perigoso, é muito difícil que a pessoa se dê conta de que está sendo intoxicada. Já vi casos de pacientes que estavam em tratamento psiquiátrico e, depois, chegou-se à conclusão de que, na verdade, estavam sendo expostos ao monóxido de carbono — acrescenta o médico Pablo Mortiz.

Outra possibilidade é que a família tenha sido intoxicada pelo gás usado para a cozinha ou para a o aquecimento de água no imóvel. Ainda de acordo com a professora Cláudia Regina dos Santos, essa também é uma hipótese plausível.

A supervisora do Ciatox esclarece que, embora a maioria dos tipos de gás libere um cheiro – adicionado justamente para que as pessoas percebam o vazamento -, há o que ela chama de "limiar de odor", o que significa dizer que, após algum tempo, este cheiro torna-se imperceptível.

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— Quando a pessoa chega ao ambiente onde há o vazamento, certamente irá perceber o odor. Porém, caso fique por muito tempo no local, ela acaba se acostumando e não o sente mais.

Perícia foca em calefação, cozinha e fogão de apartamento

Na quarta-feira (22), o apartamento onde a família foi encontrada morta passou por perícia, conforme o jornal chileno La Nación. Os peritos focaram os trabalhos na calefação, na cozinha e no fogão do imóvel, localizado na área central da capital do Chile.

Ainda na noite de quarta, quando a notícia da tragédia veio à tona, os bombeiros chilenos informaram ter encontrado concentração de monóxido de carbono no local, mas não descartaram outras hipóteses para a morte. Já a polícia informou que todas as janelas estavam fechadas.

Por meio da assessoria de imprensa, o Ministério das Relações Exteriores informou que Consulado-Geral do Brasil em Santiago segue acompanhando os procedimentos investigativos, que estão a cargo das autoridades chilenas, e ressaltou também que é necessário aguardar os laudos para saber o que de fato aconteceu.

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Família de Biguaçu morta em Santiago, no Chile
Família de Biguaçu, na Grande Florianópolis, passava férias em Santiago, no Chile (Foto: Reprodução Instagram)

Relato de vítima indica provável causa

Embora ainda seja cedo para respostas, informações reveladas por familiares das vítimas podem ajudar a descobrir a causa das mortes. Em entrevista à reportagem, Noemi Fortunato Nascimento, que é prima de duas das vítimas, afirmou ter recebido mensagens de áudio com pedidos de ajuda durante a tarde de quarta-feira.

Segundo Noemi, Débora, uma das catarinenses que morreu na tragédia, teria relatado nas mensagens que a família se sentia mal e que ela suspeitava que eles tivessem sido intoxicados por algum alimento ou mesmo envenenados. Alguns deles teriam apresentado vômitos e desmaios. Ainda de acordo com Noemi, Débora parecia confusa nos áudios.

Os sintomas descritos são comuns aos da intoxicação por monóxido de carbono. Conforme a professora Cláudia Regina dos Santos, uma pessoa intoxicada pelo gás geralmente apresenta náuseas, tontura e dores de cabeça. Caso a exposição continue, a contaminação pode levar à perda da consciência e à morte. Os fatores determinantes para isso são a quantidade de gás e o tempo de exposição.

— Se eles apresentaram esses sintomas e não citaram cheiro de gás, a hipótese de monóxido de carbono é muito provável — completa o médico Pablo Mortiz.

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