A morte do líder do talibã afegão, mulá Akhtar Mansur, em um ataque aéreo com drones americanos no Paquistão pode repercutir com força nesta região instável, segundo especialistas.
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O serviço afegão de inteligência e fontes do talibã confirmaram neste domingo a morte de Mansur, líder rebelde e hostil às negociações de paz.
Luta de sucessão
O mulá Mansur tomou as rédeas do talibã em julho de 2015, após o anúncio tardio da morte do fundador desse movimento islâmico, o mulá Omar, ocorrida dois anos antes.
Muitos de seus rivais de então poderiam estar novamente na fila de sucessão.
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Entre eles figuram, como favoritos, o filho do mulá Omar, o mulá Yacub, considerado na época jovem demais e inexperiente para ocupar o cargo, assim como o irmão de Omar, o mulá Abdul Manan Akhund.
Os seguidores do mulá Mansur também poderiam ser sucessores potenciais, como o influente líder religioso Haibatullah Akhundzada ou Sirajuddin Haqqani, atual líder da rede Haqqani, um grupo aliado aos talibãs.
A rede Haqqani é considerada por Washington como responsável de alguns dos maiores e mais mortíferos atentados perpetrados no Afeganistão nos últimos dez anos.
“O momento de tentar se apoderar de todo o movimento pode ter chegado para os Haqqanis”, afirma o analista paquistanês Amir Rana.
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Os talibãs vão se dividir ainda mais?
É muito provável. Mansur se mostrou capaz de submeter os dissidentes e de eliminar seus rivais.
No ano passado, o mulá Dadullah, um importante líder dissidente, foi morto durante um tiroteio com partidários de Mansur. Outro rival, o mulá Rasul, criador de una facção talibã dissidente, teria sido detido pelas Forças Armadas do Paquistão, embora seus partidários continuem lutando em seu nome.
Com a confirmação da morte de Mansur, é muito provável que estas disputas sejam reacesas, segundo os especialistas.
Como a morte de Mansur influencia na segurança?
“Se isso permitir emergir a facção moderada, poderia ajudar nos processos de paz”, afirma o autor e especialista paquistanês Ahmed Rashid.
Uma retomada das lutas internas poderia trazer um descanso para as forças de segurança afegãs, atualmente sob forte pressão, mas também poderia ter consequências a longo prazo.
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“Primeiro, o mulá Omar, agora o Mansur. Quando se elimina o núcleo de um movimento, este pode começar a rachar”, aponta Imtiaz Gul, diretor do CRSS, um instituto de pesquisa paquistanês especializado em segurança.
Segundo Rana, a morte do mulá Mansur também poderia supor o fortalecimento de grupos como o Estado Islâmico ou o Movimento Islâmico do Uzbequistão.
Mas, visto o ocorrido após o anúncio da morte do mulá Omar e a nomeação do mulá Mansur, a morte deste também gera receios sobre uma nova onda de atentados.
Quais são as consequências para o Paquistão?
O Paquistão foi um dos principais aliados dos talibãs quando estes dominaram o Afeganistão entre 1996 e 2001, e mantém uma forte influência sobre o movimento.
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No último mês de março, o conselheiro de Assuntos Exteriores do Paquistão, Sartaj Aziz, reconheceu publicamente pela primeira vez que seu país dava asilo aos dirigentes dos talibãs afegãos, afirmando que isso permite a Islamabad pressionar os insurgentes para que negociem.
Mas os diálogos de paz parecem estagnados, apesar da entrada, em janeiro, de representantes dos Estados Unidos e da China na discussão do processo de paz junto ao Afeganistão e ao Paquistão.
Diferentemente da maioria dos ataques anteriores com drones no Paquistão, o ataque americano de sábado aconteceu no centro do território paquistanês, e não na zona da fronteira com o Afeganistão, o que gera especulações sobre uma possível autorização de Islamabad.
A última rodada das conversações, que aconteceu na capital paquistanesa na quarta-feira, terminou sem nenhum avanço claro. A obstinação do mulá Mansur poderia ter provocado a sua queda.
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“Havia um acordo que estabelecia que se os talibãs se negavam a negociar, então o Paquistão cooperaria nas operações contra eles. Algo com o que se comprometeu”, afirma o analista Amir Rana.
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