Há uma semana, um projeto que promete solucionar o descarte excessivo de celulares – e, quem sabe, revolucionar o mercado mobile – ganhou espaço na internet. O projeto Phonebloks prevê um celular modular, no qual seria possível trocar as peças individualmente (veja ao lado), como bateria, câmera, tela e processador. É como se fosse um smartphone atualizável.

Continua depois da publicidade

Além de diminuir o descarte de smartphones, seria possível personalizar os telefones de acordo com as necessidades de cada usuário. Em apenas sete dias, a ideia, ainda apenas conceitual, já ganhou mais de 624 mil apoiadores no Thunderclap – plataforma que funciona como uma espécie de abaixo-assinado digital.

Apesar de ter se popularizado rapidamente, a viabilidade da proposta é questionada. Farlei Heinen, professor do curso de Engenharia da Computação da Unisinos, explica que, tecnicamente, a fabricação do celular é possível.

– A tecnologia existe e é relativamente acessível, mas só se torna barato se o produto for usado por muita gente. É uma questão de escala – explica, complementando que o celular também teria de ser maior que os últimos lançamentos do mercado para suportar a tecnologia.

Para Jorge Monteiro, presidente da consultoria Superfones, além da necessidade ser produzido em grande escala, é preciso ser observado o aspecto legal.

Continua depois da publicidade

– Atualmente, todo celular que entra no país tem de ser aprovado pela Anatel, em um processo que custa milhares de reais – afirma.

Para Monteiro, seria impossível aprovar cada versão do Phonebloks e a lei teria que se adaptar, o que pode demorar anos. O celular, além de ser ecologicamente correto, chama a atenção pela possibilidade de economia a longo prazo e a facilidade de manutenção.

– Até o usuário mais comum iria comprar se houvesse um kit pré-configurado – prevê Heinen.

Em relação ao mercado e a participação de empresas no projeto, o professor não é tão otimista.

– Olhando para a indústria hoje dá para perceber que o Phonebloks é uma utopia, o mercado caminha para outro lado – avalia.

Continua depois da publicidade

Na avaliação de Monteiro, todo o tipo de possibilidade tem de ser avaliada com muita atenção.

– Eu não descartaria o modelo. Se você tem adesão do mercado, tem de estudar como tornar viável economicamente. O mercado é avido por novidade, algumas empresas poderiam apostar no modelo em uma escala de teste para avaliar as possibilidades – conclui.

Como funcionaria

– O Phonebloks é apenas um conceito e ainda não foi produzido industrialmente. Para que a iniciativa dê certo, as fabricantes de smartphones precisariam aderir à proposta, produzindo peças compatíveis com uma única base. Veja alguns exemplos de como o aparelho poderia funcionar:

– A base é a única parte fixa no Phonebloks. É o que une as peças e faz o telefone funcionar.

– As partes são destacáveis e podem ser trocadas individualmente em caso de danos. Se a tela quebrar, por exemplo, é possível trocar apenas essa peça, sem muito esforço.

– O aparelho é altamente personalizável de acordo com a demanda do usuário. Se você passa muito tempo na rua e precisa que a bateria dure mais, pode comprar uma mais potente, abrindo mão do espaço de outras peças.

Continua depois da publicidade

– Os blocos podem ter tamanhos diferentes. Se você armazena a maioria de seus arquivos na nuvem, por exemplo, não precisa de espaço para dados e pode abrir espaço para outra funcionalidade.

– Se a prioridade é tirar boas fotos, uma câmera mais potente, com uma lente melhor, poderia ser acoplada.

Veja o vídeo de apresentação do Phoneblocks