Vestidos de verde e amarelo, milhares de brasileiros foram às ruas neste domingo exigir a saída da presidente Dilma Rousseff, fartos da crise econômica, política e institucional que atinge o país. É a terceira grande manifestação contra o governo em seis meses. Ainda não há números oficiais do total de participantes.
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Em Porto Alegre, 30 mil pediram o impeachment da presidente
Agitando bandeiras do Brasil ou vestidos com a camisa verde e amarela da seleção de futebol, os manifestantes cantaram o hino nacional, gritaram “Fora PT! Fora Dilma!” e levantaram cartazes que diziam “Não à corrupção”.
Na Avenida Paulista, milhares fizeram ato pró-impeachment de Dilma
– Vamos marchar até o fim. Até que a presidente saia do governo. Tem que sair definitivamente e deixar este país em paz e livre dessa máfia do Partido dos Trabalhadores – disse à AFP Patricia Soares, uma funcionária pública de 43 anos que marchava em Brasília.
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Com boneco gigante de Sérgio Moro, milhares protestaram no Nordeste
Pela primeira vez, o senador e líder da oposição Aécio Neves, que perdeu em outubro a eleição contra Dilma por uma margem de 3%, participou dos protestos em Belo Horizonte, vestido com uma camisa polo amarela. Os manifestantes, em sua maioria de classe média e convocados por meio das redes sociais, esperavam superar o número dos protestos de março (entre um milhão e três milhões, segundo diferentes cálculos). Outro protesto em abril reuniu cerca de 600 mil pessoas.
30 mil em Porto Alegre
No lugar de cartazes contra a corrupção e os desvios na Petrobras, os manifestantes que se reuniram em Porto Alegre carregavam cartazes em sua maioria contra o PT e o governo da presidente Dilma Rousseff. Apesar do tempo instável, a manifestação reuniu cerca de 30 mil pessoas, de acordo com a Brigada Militar, e 70 mil, segundo o MBL, público maior do que o de 12 de abril e menor do que a do dia 15 de março.
Líder do MBL ironiza participação de Aécio em Belo Horizonte
Nitidamente mais organizado, o protesto contou com pelo menos duas faixas gigantes com pedido de impeachment e três carros de som. Além do verde e amarelo característico, havia caixão vermelho (para enterrar o PT) e cartazes de apoio ao juiz Sérgio Moro, que conduz as investigações da Operação Lava-Jato. Entre os caminhões de som que davam suporte ao evento, um deles era da Força Sindical, que criticava os cortes na educação e as políticas econômicas adotadas pelo governo federal.
Adversário de Dilma, Cunha não vai a protesto no Rio de Janeiro
Às 15h05, a manifestação saiu do Parcão e seguiu em direção à Avenida Ipiranga. Depois, percorreu a Erico Verissimo e retornou pela Ipiranga novamente até o Parque Moinhos de Vento. O protesto se encerrou por volta das 17h40min.
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“Estão saqueando o Brasil”
No Rio de Janeiro, sede dos Jogos Olímpicos de 2016 e onde se disputou neste domingo o evento de teste olímpico de ciclismo de pista, milhares de manifestantes tomaram a avenida Atlântica frente à praia de Copacabana. Alguns protestavam vestidos com roupas de banho, outros carregando suas pranchas de surf ou andando de skate.
O que está por trás e o que esperar da crise política brasileira
– Estão saqueando o Brasil, estão roubando tudo – afirmou Jorge Portugal, um aposentado de 63 anos que antes trabalhava com marketing. Os manifestantes pedem a renúncia ou o impeachmen” da presidente, uma opção que pode ocorrer se o Tribunal de Contas julgar que Dilma usou de maneira indevida recursos de bancos públicos para tapar buracos no orçamento. Um impeachment requer a aprovação de dois terços dos deputados e um processo especial no Senado.
Em Brasília, manifestantes pedem renúncia de Dilma e nova eleição
– Nosso objetivo é mudar o Brasil. Já não aguentamos mais esta corrupção, os níveis de miséria e sofrimento. Não poder haver milhões de reais desviados ao ano – disse à imprensa Rogério Chequer, líder do Vem pra Rua, um dos organizadores dos protestos, durante a marcha em São Paulo.
Em meio à crise, há partidos que abandonaram a coalizão do governo, enquanto vários legisladores são investigados pelo Procuradoria-Geral da República pela rede de corrupção na Petrobras, incluindo os presidentes de ambas câmaras do Congresso. A justiça investiga também se Dilma financiou sua campanha com recursos ilegais provenientes do escândalo que estourou na maior empresa do Brasil, o que poderia resultar em uma anulação das eleições de 2014.
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– Os protestos não foram tão fortes, mas pelo menos aumentaram. É muito bom que as pessoas saiam, protestem e até que peçam a saída da presidente, mas para colocar quem no lugar? Para fazer novas eleições? No empresariado e na elite há uma ideia de que seria ainda pior se ela saísse. Não é que estejam a favor de Dilma, mas neste contexto, tirá-la seria ainda mais arriscado – ponderou André Perfeito, economista chefe da consultora Gradual Investimentos em São Paulo.
Sete meses após ter começado seu segundo mandato, a popularidade de Dilma caiu para um dígito após quatro anos de frágil ou nulo crescimento econômico e o esquema de corrupção de escala épica na Petrobras. De acordo com as previsões, a economia fechará 2015 em recessão e a inflação está em seu máximo anual em 12 anos (9,56%). Essa queda colocou em risco o selo de bom pagador do país – seu grau de investimento baixou ao último escalão das agências de classificação. Dilma Rousseff garante que não cairá.
* AFP