Dilma Rousseff tentou relaxar no sábado, dia 22, depois de falar à nação. Reuniu a família no Palácio da Alvorada para celebrar os 90 anos da mãe, Dilma Jane. Festejo rápido. Domingo, após os mimos no neto Gabriel, a presidente distribuía ordens a nove ministros:
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– Não quero mais ouvir ninguém dizendo que está perplexo.
Com a reprimenda, ela cobrava reação de um governo até então acostumado a bater recordes de aprovação. O prestígio em queda já havia sido verificado em uma pesquisa Datafolha e foi externado pela vaia no Estádio Nacional de Brasília, no dia 15. Neste sábado, um novo levantamento mostrou uma queda ainda maior. A aprovação do governo caiu 27 pontos após os protestos.
Popularidade de Dilma cai 27 pontos após onda de protestos
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O constrangimento mexeu com Dilma, que, na segunda-feira, dia 17, foi surpreendida pelos jovens que tomaram a rampa e a cobertura do Congresso. Em diferentes Capitais, o Brasil foi para a rua protestar. No dia seguinte, a presidente destacou a necessidade de “ouvir a voz das ruas”, mas rumou a São Paulo, onde ouviu somente a voz rouca do ex-presidente Lula. Do padrinho político, recebeu críticas: faltava diálogo com Congresso e movimentos sociais.
– Mais do que a reeleição, o legado do PT está em jogo – afirmou o ex-presidente.
O alerta não mudou o ritmo do governo. Dilma manteve a rotina de ligações para ministros antes das 8h e depois das 22h, seguiu sem receber aliados, ignorando as manifestações. A postura foi alterada na quinta-feira, dia 20, data em que os protestos levaram mais de 1 milhão às ruas e em que houve a tentativa de invasão do Itamaraty.
Na manhã seguinte, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, desembarcou no Planalto, de onde não saiu mais e já prepara a transição para assumir a Casa Civil. Contudo, a reunião do comitê anticrise, convocado pela presidente, foi descrita como um “monólogo”. Dilma mais falou do que ouviu. Mas prestou atenção em João Santana. O marqueteiro concebeu um pronunciamento que dividiu responsabilidades com parlamentares, governadores e prefeitos:
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– O protesto não é contra a Dilma, é contra a classe política – disse Santana, que conduziu a campanha vitoriosa de Dilma na eleição de 2010 e a de Lula em 2006.
Em cadeia nacional, no dia seguinte, a petista enumerou ações, entre elas reforço de médicos no SUS. Ministro da Saúde, Alexandre Padilha teve de correr para finalizar a ação, prevista para ser lançada em julho.
Constituinte foi bola fora
O fim de semana em família teve articulações. Ministros se reuniram em separado e com a presidente, que ficou por uma hora ao telefone com o governador de Pernambuco e possível rival em 2014, Eduardo Campos (PSB).
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Também conversou com o governador Tarso Genro (PT), incentivador de uma Constituinte exclusiva para fazer deslanchar a reforma política, proposta que surpreendeu juristas e políticos no pronunciamento de segunda-feira, dia 24, feito antes da reunião com governadores e prefeitos.
Com ar cansado e olheiras, Dilma lançou cinco pactos, dos quais algumas decisões dependiam do Congresso. Informado das metas do Planalto pela TV, o parlamento incendiou. Considerada um trunfo, apoiada por Mercadante, a Constituinte exclusiva virou mico. E jogou a irritação presidencial sobre o ministro da Justiça: consultado, José Eduardo Cardozo garantiu que a manobra era possível.
Com medo de vazar a decisão, a presidente não avisou seu vice-presidente, Michel Temer (PMDB), reconhecido como um dos maiores constitucionalistas do Brasil.
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– Não existe Constituinte exclusiva – observou Temer, na terça-feira.
As críticas fizeram o governo desistir da proposta, mas o discurso lançou o foco sobre o Congresso. Na última semana, Câmara e Senado desengavetaram projetos com o objetivo de responder aos protestos. Já no Planalto, Dilma convocou ministros que não recebia há meses e se reuniu com movimentos sociais.
Os encontros com políticos, detestados pela presidente, vieram para ficar. Presidentes de partidos e líderes de bancadas foram convocados. Apesar do cansaço, Dilma tenta demonstrar simpatia, fez questão de tirar fotos. Ao ver a relutância de Beto Albuquerque (PSB-RS), chamou o deputado federal:
– Betinho, vem tirar uma foto comigo.
A presidente espera que o esforço dos últimos dias pacifique o país. Em momentos íntimos, tenta tirar lições da crise ao evocar o passado militante. Em uma confidência feita ao ex-marido e ex-deputado Carlos Araújo, falou:
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– Na juventude, nós também fizemos passeatas. É próprio do jovem pedir um país melhor.