As 60 mil pessoas que participaram do maior ato de protesto já registrado em Blumenau, que ocorreu neste domingo, cantaram o Hino Nacional sob o olhar atento do Pixuleco, que representa o ex-presidente Lula com vestes de presidiário e tem quase nove metros de altura.

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::: Manifestantes esbanjam criatividade no protesto em Blumenau

Foi a primeira vez que uma manifestação em Santa Catarina contou com a presença do boneco, que se tornou uma espécie de mascote dos protestos contra o Partido dos Trabalhadores e que pedem o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Também foi a primeira vez que tantos blumenauenses, segundo estimativas da Polícia Federal, saíram às ruas do Centro – Amadeu da Luz, 7 de Setembro, Rua das Palmeiras e Beira-Rio – para demonstrar indignação contra algo. E estavam contra tudo. Era possível perceber que os pedidos ganharam força após os acontecimentos das últimas semanas, quando Lula foi levado para depor na Operação Lava-Jato e teve a prisão preventiva solicitada pelo Ministério Público de São Paulo. Os gritos pela prisão do ex-presidente e pela “morte da jararaca” – em alusão a discurso de Lula após a condução pela PF – eram os mais fortes. Tinha até uma jararaca enforcada.

A historiadora e diretora de Patrimônio Histórico-Museológico de Blumenau, Sueli Petry, e o cientista social e pesquisador da história Adalberto Day confirmam a magnitude do protesto e atribuem ao comportamento trabalhador do cidadão de Blumenau a grande mobilização:

– Estamos em um momento de transição do país e o povo brasileiro está se questionando e avaliando toda a situação, e como aqui nós estamos muito longe dos grandes que decidem as coisas, essa é uma forma de chamar a atenção. E Blumenau sempre teve essa sensibilidade, além da economia efervescente e que está sendo afetada agora, então isso é mais um motivo para as pessoas se manifestarem – explica Sueli.

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Para Day, a indignação com a corrupção e o descaso com questões como educação e segurança complementam as motivações de protesto em Blumenau:

– O que fez as pessoas irem ao protesto foi a corrupção e a falta, principalmente, de atenção com a educação e a segurança. Não é só aqui, mas no país inteiro, com a situação caótica em que nos encontramos.

O protesto tinha objetivos específicos: lutar contra a corrupção de qualquer partido ou político, apoiar a Operação Lava-Jato, comandada pelo juiz Sérgio Moro, e pedir o impeachment da presidente Dilma, como explicou o integrante do Instituto Verdade e Liberdade e um dos organizadores do ato, José Galdino.

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Este foi exatamente o tom de toda a manifestação. O tom também era diferente dos atos anteriores: apesar dos discursos inflamados dos condutores do ato, as músicas eram alegres, com sambas e canções de torcidas organizadas conhecidas do futebol sulamericano, todas em versões previamente adaptadas para saudar Sérgio Moro e hostilizar corruptos. A marcha era lenta e lembrava a velocidade de uma caminhada tranquila no Parque Ramiro Ruediger.Assim o ato tomou grande parte da Rua 7 de Setembro. Segundo informações da Polícia Militar, a via ficou completamente ocupada pelos manifestantes entre o cruzamento com a Alameda Rio Branco e a Rua Amadeu da Luz, um trecho de aproximadamente dois quilômetros.

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Confira as fotos do protesto em Blumenau

A organização do ato deixou claro os objetivo, mas os manifestantes tinham também seus próprios motivos. Entre as muita camisas da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que se tornaram o uniforme dos manifestos, também foi possível encontrar pessoas em trajes camuflados do Exército Brasileiro e pedidos de “intervenção constitucional militar”, mas em número bem menor que nos protestos anteriores. A enfermeira aposentada Rosa Gomes, 80 anos, vestiu um traje bem colorido, que lembrava as roupas de palhaços ou bobos da corte, e explicou o motivo:

– Porque eu sou uma palhaça do governo. Trabalhei 44 anos e não recebo um terço do que era o meu salário. Eu estou aqui por tudo isso que está acontecendo. O Brasil está um nojo, uma podridão, tem que mudar tudo!

Foto: Patrick Rodrigues, Agência RBS

O designer gráfico Rodrigo Mendes Bueno foi ao protesto acompanhado pela família. Nos cartazes que carregavam pediam a saída de todos os políticos corruptos e uma mudança urgente no sistema.

De verde da cabeça aos pés, a cozinheira aposentada Ada Teske, 60, pediu a renúncia de Dilma e a prisão de Lula. Para ela, essa é a única maneira de mudar a situação.

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– Eu vim porque a gente já não aguenta mais o governo. Eu acho que assim vai mudar bastante, vai melhorar e pelo menos a gente vai voltar a crescer.