O que era para ser um protesto de comerciantes de Canasvieiras, no norte de Florianópolis, terminou em muita confusão, gritaria, ofensas e empurra-empurra na noite desta segunda-feira (19). Um senegalês foi ferido com um corte na mão.

Continua depois da publicidade

Por volta das 18h, lojistas organizaram uma manifestação contra a presença de ambulantes irregulares no bairro, todos africanos. Os comerciantes colocaram seus produtos nas calçadas onde diariamente são os imigrantes que expõem suas mercadorias, na esquina das ruas Madre Maria Vilac e Hypólito Gregório Pereira. Os senegaleses tentaram retirar os produtos alheios e o tumulto começou. Tudo aconteceu sem a presença da Polícia Militar ou da Guarda Municipal, durante mais de 40 minutos.

A reportagem presenciou muitos xingamentos de ambos os lados. Os africanos, que falam muito pouco português, gritavam no seu dialeto francês e as poucas palavras na nossa língua eram palavrões. Já os comerciantes mandavam os imigrantes irem embora. Por diversas vezes, ouviu-se a ordem: “volta pra tua terra”.

— Desde o ano passado vem acontecendo. Não tem fiscalização. Esse pessoal vem, assume um ponto e começa a vendar de tudo que é jeito, com preço mais competitivo que nós, lojistas, sem pagar impostos. E aí o nosso lucro baixa. Agora que a temporada terminou nosso lucro está quase zero. Ninguém falou em racismo, a gente só quer vender nossa mercadoria — desabafou o microempresário Augusto Azeredo, que há 20 anos possui uma loja de roupas e eletrônicos na região.

Continua depois da publicidade

No meio da confusão, um senegalês gritava que havia sido cortado com uma faca enquanto levantava a mão ensanguentada com um ferimento em um dedo. Conterrâneo dele, Alexandre Diop está em Florianópolis há três anos e diz que nunca conseguiu um emprego formal. Ele reclamou que uma senhora comerciante tentou recolher os tênis que ele estava expondo.

— Ela não quer que ninguém aqui trabalhe. Bagunça tudo. Nós chegamos para trabalho. Não chegamos para briga. É trabalho e casa. Se a polícia pega nós não tem problema. Nós respeitamos a polícia. Mas ela não manda em nós — denunciou.

Dezenas de pessoas que passavam pelo local se aglomeravam em volta da confusão. Um grupo de turistas se indignou com o protesto.

Continua depois da publicidade

— Se fossem italianos, vocês não fariam nada. Mas como são eles vocês fazem. Isso é o cúmulo. Vocês não veem eles mendigando, pedindo nada — bradou Ana Karine Tertuliano, turista de 32 anos natural de Brasília.

Os comerciantes bloquearam a Rua Madre Maria Vilac com faixas pedindo fiscalização por parte da prefeitura. Por volta das 18h40min, três viaturas da Polícia Militar apareceram com 12 agentes. Eles desbloquearam a rua e acalmaram os ânimos, ficando os africanos de um lado da rua e os lojistas do outro.

Combate à pirataria

A Secretaria de Segurança Pública de Florianópolis informou que foi combinado em reunião que a PM faria a segurança do local e não a Guarda Municipal durante o protesto. Procurado, o 21º Batalhão de Polícia Militar, responsável por Canasvieiras, não se manifestou sobre a demora em chegar na ocorrência.

Continua depois da publicidade

Sobre a fiscalização ao comércio ilegal, a prefeitura emitiu uma nota informando que está agindo junto com os lojistas para coibir esse tipo de comércio irregular e ilegal, não só em Canasvieiras, como em toda cidade.

“Além disso, na semana passada, o executivo realizou uma reunião do Conselho Municipal de Combate à Pirataria com diversos órgãos para cobrar apoio e planejar ações em conjunto de todos os envolvidos. É preciso uma integração maior de outras autoridades, visto que há um fornecedor dessa mercadoria e a grande maioria desses ambulantes são imigrantes. É necessário também a conscientização da população em não adquirir esses produtos que são piratas, falsificados e contrabandeados. Além de não respeitarem as normas técnicas brasileiras, não possuem garantia e podem afetar a saúde e a segurança de quem consome”.