A ofensiva da Polícia Civil contra o suspeito envolvimento de policiais militares com o crime em Caçador, no Meio-Oeste catarinense, revelou como era o aliciamento de mulheres para o submundo da prostituição na região.

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Até estrangeiras do Paraguai seriam recrutadas para a exploração sexual em casas noturnas. O grupo também agia com violência em caso de ameaças ao negócio.

A investigação mostrou que a rede de prostituição no Km 6, conhecido ponto de casas noturnas de Caçador, buscava jovens em cidades da região, litoral Norte e também no país vizinho.

Assim, movimentavam os lugares com festas e faziam lucro também com o tráfico de drogas. Tudo com a suposta proteção de quatro PMs do 15º Batalhão da PM, armados e fardados.

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O delegado Daniel Régis, responsável pela investigação da operação Proditor, que prendeu 31 pessoas, afirma que os PMs garantiam o funcionamento das boates e também agiam contra as concorrentes.

O monitoramento teve escutas telefônicas e filmagens e está em sigilo. Quem operava o contato com as mulheres seria Adelita Aparecida, dona de casas no Km 6 e que também está presa.

– Era um esquema muito bem montado. Ela (Adelita) tinha muitos contatos nesse mundo da prostituição, promovia festas e trazia mulheres do litoral Norte e também do Paraguai. Os policiais militares protegiam em troca de dinheiro e outros favores – apurou o delegado.

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O envolvimento das mulheres com o mundo do sexo pago geralmente se torna um beco sem saída para as próprias garotas. Isso porque são obrigadas a dividir os valores dos programas e fazem dívidas com a casa, numa espécie de bola de neve que se forma.

O grau de intimidação dos responsáveis seria tanto que elas não poderiam abandonar ou mudar de ponto.

Em 26 de março, um homem de 50 anos, morador do Oeste, viajou a Caçador para recrutar mulheres do Km 6. Levou R$ 600 para pagar as contas que elas tinham com a casa. Adelita teria ordenado integrantes da quadrilha a ameaçar a vítima, para que nunca mais oferecesse trabalho para nenhuma das prostitutas.

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O homem então foi espancado por seis pessoas, que também tentaram roubá-lo em represália a sua ida para o local a fim de levar as garotas. A vítima teve fraturas múltiplas na face.

Após a operação, nove casas do Km 6 foram lacradas e permanecem fechadas até decisão da Justiça. Os lugares eram frequentados por pessoas de várias classes sociais de Caçador e cidadezinhas da região.

Há suspeita que integrantes da quadrilha ficassem na rua para guiar os clientes, de acordo com o que eles pediam. Pelo menos 50 pessoas trabalhavam nos locais. Não se sabe para onde elas foram.

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A polícia de Caçador segue na fase de interrogatórios dos presos. O inquérito deve ser concluído até o dia 23. O delegado vai pedir à Justiça a prisão preventiva do bando.

Os presos estão em cadeias do Meio-Oeste, na Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic) e no 4º Batalhão da PM, em Florianópolis.

A reportagem não conseguiu contato com o advogado de Adelita. Os defensores dos outros presos afirmam que os seus clientes negam os crimes.

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* Colaborou Daisy Trombetta

ENTREVISTA: Coronel Nazareno Marcineiro, comandante-geral da PM/SC:

“A PM é intransigente com a prática do crime”

O comando-geral da Polícia Militar evita fazer pré-julgamento dos PMs presos, mas antecipou que a corporação é intransigente com o crime. Veja os principais trechos da entrevista dada ao DC, na última quinta-feira, no intervalo do seminário de segurança, na Capital:

Diário Catarinense – Qual a sua avaliação sobre a prisão dos PMs presos em Caçador?

Nazareno Marcineiro – Foi nós que prendemos (a investigação foi da Polícia Civil). Toda a ação foi desenvolvida em conjunto com a PM, corregedoria e MP. Eu trabalho com conceito de intolerância. E quanto a isso, é zero. Em um organização como a nossa, de 11 mil homens espalhados pelos 293 municípios do Estado, vão aparecer sim algumas atitudes erradas. Por isso temos uma corregedoria, uma auditoria da Justiça Militar e estamos punindo todos os que tenham feito algo errado.

DC – De acordo com a investigação, os fato são graves, os PMs estariam acobertando prostituição e envolvidos com tráfico de drogas. Qual será a punição?

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Nazareno – Eu não posso adiantar o resultado do inquérito. Encontrando elementos de convicção, tanto para botar na cadeia quanto na rua , sem dúvida.

DC – Qual a sua avaliação sobre a investigação da Polícia Civil?

Nazareno – O que me parece, é que há indícios muito fortes de envolvimento (dos PMs presos), mas é preciso terminar o inquérito para ver o grau de envolvimento que eles têm, o grau de comprometimento.

DC – Haverá expulsão?

Nazareno – Não tenho como adiantar a punição. O policial encarregado vai apresentar os indícios e se tiverem indícios vai para a Justiça para responder. A PM é intransigente com a prática do crime entre nós. Certamente haverá responsabilização conforme nossas normas.

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A OPERAÇÃO PRODITOR

Desencadeada no dia 23 de junho, em Caçador, Lebon Regis e Curitibanos, após quase nove meses de investigação sobre o tráfico de drogas.

O aparato

A mobilização teve 150 policiais, de Caçador e região, além de policiais da Deic da Capital. Foram cumpridos 30 mandados de prisão e 35 de busca e apreensão. A polícia prendeu 31 pessoas, entre quatro PMs, um agente penitenciário e uma advogada, e apreendeu um revólver, calibre 38 e 200 gramas de cocaína.

As suspeitas

Os crimes investigados são tráfico e associação para o tráfico de drogas, formação de quadrilha, porte ilegal de arma, tentativa de latrocínio, lenocínio e rufianismo.

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Como agiam

Os suspeitos se valiam do privilégio profissional e do cargo que ocupavam para repassar informações aos traficantes da região ou desenvolviam ações para prender somente os integrantes das quadrilhas concorrentes ou que deviam para o grupo. Daí o nome “Proditor” para a operação, que em latim significa traidor.

Fonte: Polícia Civil.