Um promete trazer a discussão de um Rodoanel para Blumenau, outro almeja construir a tal “Ponte do Centro”, enquanto um terceiro quer tirar do papel a Velha-Garcia. As propostas dos candidatos à prefeitura para a mobilidade urbana da cidade foram as mais diferentes entre cada aspirante se comparadas às outros temas — saúde, educação, áreas de lazer e economia.
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Na quinta reportagem da série sobre as promessas dos 12 prefeituráveis blumenauenses nas Eleições 2020, o Santa traz para o debate o tema da mobilidade. Assim como nos demais temas, foram duas perguntas:
1) Blumenau usa pontes para separar, não unir. Em quase uma década, nenhuma ideia de ligação da Região Central à Ponta Aguda foi tirada do papel. O que o(a) senhor(a) vai fazer para resolver essa questão?
2) Linhas aglutinadas e queda no número de horários de ônibus foram algumas das formas encontradas para equilibrar as contas da atual empresa responsável pelos ônibus de Blumenau. Qual a solução para o transporte público da cidade e como torná-lo mais rápido e atrativo?
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Confira o que disseram os candidatos a respeito dos questionamentos e as propostas de cada um deles. As respostas estão em ordem alfabética do nome dos candidatos.
Ana Paula Lima (PT)
1) Por falta de diálogo com vários setores a prefeitura ficou uma década decidindo onde ia ser colocada a ponte, e da forma que ela está não vai resolver o problema da mobilidade. Nós sempre trabalhamos com orçamento e planejamento participativo. Além dessas obras estruturantes, acho que precisa ser investido em outros modais na cidade. Eu não vou prometer obras, até porque a gente tem que conversar e dialogar com a população, ter um estudo técnico. Mas outros modais têm de ser incentivados, como o uso da bicicleta, interligação de ciclovias e principalmente: o nosso transporte coletivo.
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2) O transporte coletivo é uma concessão, mas a prefeitura não está fiscalizando. A empresa tirou linhas, reduziu os horários e as pessoas deixaram de usar o ônibus. Além disso, a tarifa é cara. O litro da gasolina também é muito caro, só que as pessoas estão optando por usar motocicletas e outros meios de transporte. O valor precisa ser revisto, bem como chamar a empresa para uma negociação, porque o serviço que ela está prestando está deixando muito a desejar. Os ônibus não estão com aquela qualidade toda e não tem mais ônibus articulado. Os ônibus executivos que tínhamos anteriormente deixaram de existir.
Débora Arenhart (Cidadania)
1) Vamos falar um pouquinho naqueles espaços só ocupados pelos ônibus. Eles não estão conectados, os ônibus não fluem, concorrem com os carros. A gente sabe que não vai chegar na hora certa se não sair 15, 20, 30 minutos antes. Isso causa estresse. Se pensa muito em pontes… O município tem de fortalecer os bairros para que as coisas aconteçam lá, para que as pessoas não precisem tanto vir ao Centro. Uma ligação entre os bairros não deveria necessariamente passar pelo Centro. Tem que primeiro sentar, projetar e revitalizar os bairros. Não há que se descobrir nenhuma fórmula mágica. Com essa discussão de onde vai a ponte, acabamos perdendo o dinheiro.
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2) Imagino que, se o transporte coletivo tiver fluidez, isso já vai otimizar. As pessoas desistem de pegar ônibus porque, na hora do rush, eles estão lotados, e depois das 9h começam a circular quase que vazios, dando prejuízo para as empresas de ônibus. A gente vai ter que sentar, olhar bem esse contrato, como ele foi feito, preço de passagem… A gente vai ter que rever tudo. Não estamos de posse dos contratos do município com essa nova empresa, não temos a clareza dos contratos. Ciclovias são uma outra questão muito importante para o nosso governo. E aumentar os locais onde se possa botar as bicicletas, de forma segura, no terminal de ônibus.
Geórgia Faust (PSOL)
1) Os problemas de Blumenau não vão ser resolvidos com soluções mágicas, seja uma ponte aqui ou um viaduto acolá. Durante muitas gestões, e há muito tempo, a cidade tem escolhido o carro como único meio de transporte. É uma cidade que a gente gosta de chamar de carrocrata. Você só consegue se locomover de carro e, ao mesmo tempo, não consegue se locomover de carro porque o trânsito é congestionado. Assim você acaba excluindo os pedestres, os ciclistas e o transporte coletivo. A cidade é toda pensada para carros. Nós queremos combater essa cultura carrocrata, fortalecer o transporte coletivo de modo que ele seja de fato uma opção viável para as pessoas.
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2) A solução é conseguir se desvencilhar desse contrato de concessão, não ter mais esse serviço prestado pela empresa atual. Não queremos que esse serviço continue, sabemos que esse contrato tem um tempo de vigência que é de 20 anos, então está até um pouco longe de acabar, mas vamos buscar formas de rescindir antes, por motivo justo, quando o encontrarmos. Temos planos de municipalizar o transporte coletivo, criando uma empresa pública de transporte coletivo. Tem que ser responsabilidade do poder municipal, cuidar, administrar e pensar num transporte coletivo que seja feito para as pessoas e não para o lucro.
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Ivan Naatz (PL)
1) A cidade vive um ciclo político de mais de 20 anos. Isso criou dentro da Secretaria de Planejamento, um grupo de pessoas preguiçosas, incapazes de encontrar soluções para os desafios de mobilidade da cidade. São as mesmas pessoas, pensando a mesma coisa, há 20 anos. Enquanto isso não mudar, faremos só planos. Blumenau do Futuro, não foi respeitado. No Blumenau 2050, só gastamos dinheiro. Agora o prefeito decidiu alargar uma ponte que não estava em nenhum dos dois planos. A primeira coisa é quebrar esse ciclo vicioso. Mudar a mentalidade, equipe.
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2) Primeiro passo é fazer a integração do transporte. Instalação definitiva da Região Metropolitana. O transporte precisa ser integrado com cidades vizinhas. Hoje nós não conseguimos atrair a população vizinha para os nossos ônibus. Se o sujeito chega no bairro Bela Vista, tem que descer ali, ir a pé, porque o ônibus não pode entrar no bairro. O mesmo ocorre em Pomerode, no Vale do Selke. Precisamos ônibus diretos, atrair usuários, com eficiência, rapidez e preço justo. Enquanto o preço for mais carro do que o transporte individual, as pessoas vão usar o transporte individual. Tínhamos um dos melhores transportes coletivos do Brasil.
Jairo dos Santos (PRTB)
1) Não é só a ponte da Beira-Rio. Nós temos que dar uma prioridade especial para os bairros, porque tem horas que congestiona o trânsito na região central, mas ele começa na Itoupava Norte, na Velha, no Garcia. Há várias pontes de madeira nos bairros. Vamos substituir todas, exceto as tombadas, por pontes de concreto. Vamos abrir acessos nos bairros. Um exemplo muito prático é o binário da Rua Paris, saindo pela Rua Valentim. Que é fundamental uma ponte de ligação entre a Ponta Aguda e o Centro, com certeza. Nós vamos buscar fazer porque dinheiro teremos em caixa, com a economia de R$ 35 milhões com a extinção de secretarias e cargos comissionados.
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2) Temos que rever esse contrato com a Blumob. É inadmissível que, enquanto todos perderam, uma empresa vem pedindo R$ 18 milhões e recebe R$ 5 milhões na maior tranquilidade. Se esse valor está sendo pago é porque o contrato foi mal feito. E se ele foi mal feito, com o corpo de juristas da prefeitura, foi de caso pensado. Vamos reaver essa situação. Já há uma clara demonstração que essa empresa, com esse tipo de contrato, não vai melhorar o transporte público. Se tivermos que romper esse contrato, vamos romper. Depois, temos que interligar e trabalhar em harmonia com todos os modais de transporte, o ciclista, o pedestre, o transporte por aplicativo.
João Natel (PDT)
1) Essa discussão toda é sinônimo da falta de planejamento da cidade. Eu não acho que construir pontes na Beira-Rio resolve o problema da mobilidade urbana de Blumenau. Nós pretendemos criar o Instituto de Planejamento e Pesquisa Urbana, formado por várias entidades. A cidade já teve um, mas foi extinto e ficou como uma secretaria da prefeitura. A gente tem que fortalecer os bairros para que as pessoas possam fazer a maior parte das atividades lá; adotar o modelo de Paris de “cidade de 15 minutos”. Um segundo ponto é atuar nos gargalos do trânsito, às vezes com obras muito simples
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2) A perda da competitividade resultou em uma única empresa que está operando e isso é muito ruim. Devemos discutir esse modelo de licitação em Blumenau. Um transporte com menos linha, sem conforto e integração com outros modais implica em queda no número de passageiros. Se ele não for um transporte inteligente, outros meios vão cada vez mais atrair os passageiros. A solução mais imediata no nosso mandato será a questão dos corredores os ônibus, dos troncais biarticulados nos horários de pico, preferencialmente com fontes sustentáveis de energia, e linhas alimentadoras mais regulares.
João Paulo Kleinübing (DEM)
1) A discussão não é qual ponte. Todas as pontes são necessárias e podem ser executadas. Estamos discutindo um sistema de ligação com a saída Leste da cidade. A melhor localização era a Rua Rodolfo Freygang porque você opera em linha reta com a Rua Chile. Esse sistema de ligação ajuda a resolver o problema da fila na Rep. Argentina. Naquele projeto, tinha não só a ponte, mas também a passarela na Prainha. As soluções precisam ser entendidas no seu conjunto. Continuo entendendo que a localização que dá o melhor resultado é a da Rua Rodolfo Freygang. A duplicação da ponte Adolfo Konder é menos eficiente, porque você faz três curvas para acessar a Chile.
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2) O sistema perde passageiros porque não oferece qualidade. Isso que acaba pressionando cada vez mais o custo da tarifa. O modelo precisa ser revisto. A empresa não ganha pela qualidade que presta, e ela acaba aumentando a rentabilidade sacrificando a qualidade. É fundamental discutir a questão da climatização. Em 2010, quando implantamos as estações de pré-embarque da região central climatizadas, era o início da discussão da climatização. Infelizmente, as estações foram abandonadas. A passagem tem que ser paga com o celular. A prefeitura precisa de uma plataforma única de trânsito e transportes. Blumenau precisa liderar uma mudança profunda na concepção do transporte.
Mário Hildebrandt (Podemos)
1) Já estou fazendo. Em vez de ficar discutindo ponte aqui, ponte lá, eu consegui o financiamento de R$ 80 milhões, deixei de fazer uma ponte de R$ 80 milhões e estou fazendo uma de R$ 10 milhões, mais uma ponte de R$ 4 milhões (a do Biergarten) e mais duas pontes no Garcia por R$ 11 milhões. Vou botar asfalto novo, construir ambulatório na área da saúde, trocar telhado de escola que está chovendo desde 2005… Ou seja, vou levar obras para os bairros de Blumenau. Tem várias entregas para a região central, mas são recursos que conseguimos específicos para isso, não tiramos de obras dos bairros.
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2) Nós já estamos fazendo isso também. Com a entrega da Rua Humberto de Campos as pessoas ganharam 32 minutos por dia. A mesma coisa com essa ponte ali do lado da Thapyoka, com ganho aproximado de 10 a 15 minutos por viagem (do terminal Fonte ao Aterro). Vamos fazer outras coisas em relação aos terminais. O da Itoupava Central vai ter a integração da bicicleta, do carro e do ônibus. A responsabilidade do transporte coletivo é do poder público. Temos o desafio de rediscutir o modelo do transporte coletivo e a integração de outros modais, além da integração entre os municípios, que precisa acontecer.
Mário Kato (PCdoB)
1) Não podemos só pensar na questão de pontes. As pontes são importante porque ligam, mas a mobilidade urbana está ligada em como é organizada a cidade. Uma cidade que é organizada somente para carros, é onde o centro recebe todos os aparatos e serviços mais importantes. A cidade precisa ter vários centros comerciais e de serviços para que as pessoas possam ter isso perto da sua casa. Temos que ter um sistema de transporte público que seja de qualidade, barato e atraente a todos. Mobilidade urbana depende de muitos modais além do carro, do transporte público coletivo e também ter outros transportes como bicicleta.
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2) Precisamos fazer uma auditoria nesse contrato e no serviço prestado. Sabemos que esse contrato não atende a necessidade da população. Temos localidades onde passam dois ou três ônibus por dia e isso praticamente impede que o trabalhador se desloque em horários a contento. Precisamos reavaliar o serviço e o contrato. Vamos ter que fazer licitação para novas empresas entrarem e assumirem as novas linhas até criarmos uma empresa pública de transporte coletivo, porque essa empresa pública pode aferir custos melhores, elas são mais transparentes que uma empresa privada e assim temos dados para realmente refazer e reavaliar contratos.
Odair Tramontin (Novo)
1) A cidade já perdeu tempo demais falando das pontes do Centro. Ficamos oito anos discutindo se ela seria em um lugar, ou em outra. Aí agora, no apagar das luzes de um ciclo, o prefeito decidiu fazer um puxadinho. Discussões inúteis, estéreis, fizeram com que construíssemos muros em vez de pontes. Poderíamos ter feito duas, e fizemos nenhuma. Nessa fase de campanha não pretendo entrar na discussão de pontes e, sim, dizer que aquilo que a cidade precisa fazer na mobilidade urbana é dar ênfase a grandes projetos de obras estruturantes que nunca foram executadas, a Ligação Velha-Garcia, Anel Leste. Precisamos exigir do Estado a conclusão da Via Expressa.
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2) Tem coisas que podemos fazer a médio prazo para tornar o transporte coletivo atrativo. Uma delas é a climatização, nem que para isso seja necessário se pensar na eliminação do sistema atual de cobrador, fazendo uma política de realocação desses trabalhadores, para que eles sejam recolocados no mercado e não paguem as contas sozinhos. Mas precisamos pensar de uma forma moderna. Temos que pensar na possibilidade de concessão dos terminais, para exploração econômica, com pequenas lojas, revendo a médio e longo prazo. Porém é algo que tem que ser analisado de forma técnica, criteriosa, e do aspecto prático, do cotidiano.
Ricardo Alba (PSL)
1) Eu vou olhar para o trânsito nos bairros. Tem trânsito no Garcia, na Itoupava Central, tem trânsito em todos os bairros da cidade e o poder público não faz o básico, não dá atenção para as pessoas nos bairros. Eu vou focar meu mandato para os 35 bairros: desafogar o nó que tem na Rua Amazonas, na Pedro Zimmermann, que tem em várias regiões na cidade. A gente tem que parar com essa discussão de ponte aqui, ali, como se isso fosse a solução para todos os problemas. Na verdade, esse debate só serviu lá atrás para fins eleitorais. Há 10 anos se discute criação de ponte aqui ou acolá e o blumenauense foi enganado desde 2012 em relação a esse tema.
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2) Foi uma vergonha essa medida adotada pelo poder público de redução de linhas e de indenização da Blumob. Várias empresas sofreram com a pandemia e não tiveram nenhum tipo de indenização. Em relação ao transporte coletivo, muita coisa tem que melhorar: seja a qualidade e a diversificação em lotes, com várias empresas trabalhando e não uma só monopolizando o sistema, seja o melhoramento dos pontos de embarque. A própria malha viária está sucateada na cidade, não só no Centro, mas nos bairros também. Os corredores de ônibus estão uma vergonha. É preciso dar mais qualidade para fazer a população andar cada vez mais rápido e confortável nesse sistema.
Wanderlei Laureth (Avante)
1) O trânsito na Região Central só vai ser resolvido quando a gente tirar do papel o Rodoanel. Já estamos falando com engenheiros, já existe um projeto, e nós vamos tirá-lo da gaveta. Esse Rodoanel vai dar mobilidade de bairro para bairro, tirando pessoas do Centro. Hoje para ir do Garcia à Velha, tem que passar pelo Centro. Temos que tirar a linda e bela Blumenau que tem no Centro e levá-la para os bairros com calçadas largas, ciclovias de verdade. Mobilidade urbana tem que pensar no ciclista, no pedestre, no todo.
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2) Primeira coisa é sentar com a Blumob dia 1º de janeiro. Ou ela se adequa ao nosso projeto, ou está fora. Nosso projeto é que ela coloque todos os ônibus com ar-condicionado, coloque para funcionar bem o Wi-Fi, e diminua o preço da passagem. Queremos um modelo de ônibus maior, o antigo minhocão, com mais conforto, com mais estações de embarque, para dar agilidade ao trabalhador, inclusive já reativando as duas que já existem na Beira-Rio.
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