Neste sábado, o Arquivo Histórico de Joinville abre a exposição As Colônias Alemãs no Norte do Estado de Santa Catarina. Seu nome remete ao motivo da mostra: um painel em litografia impresso em 1898, fazendo publicidade de Joinville e Blumenau, além da “porta de entrada” para estas colônias, o porto de São Francisco do Sul.
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Por décadas, ele esteve dobrado entre os pertences de Alois Hañs, pintor que viveu no Brasil, mas retornou para a Europa e morreu na República Tcheca há mais de 70 anos. Ele era irmão do bisavô do fotógrafo Peninha Machado, e foi nas mãos dele que esta antiga propaganda veio parar há alguns anos, quando duas tias visitaram a Europa Central e, em busca da casa do famoso antepassado, chegaram a uma caixa que preservava os últimos tesouros da vida de Alois Hañs.
Artista que havia trabalhado criando cenários para a Sociedade Harmonia-Lyra, em Joinville, e para o Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Alois poderia ter sido o autor da obra. Se não era, por que teria guardado o painel entre seus pertences por tantos anos após deixar o Brasil? Foi o primeiro pensamento de Peninha, que não conseguiu dar atenção para a raridade até o fim do ano passado.
Só então, ao lado dos pesquisadores Walter de Queiroz Guerreiro e Brigitte Brandenburg, o fotógrafo chegou ao nome do verdadeiro autor das pinturas que ilustravam o painel encomendado pela empresa colonizadora de Joinville: era Paul Kuscha, que, em seguida, casou-se em Joinville – com uma das filhas do dono da empresa colonizadora – e voltou para a Europa, onde o material foi impresso em litografia.
– As pinturas eram feitas a partir de fotografias, a não ser em regiões em que não era possível fotografar. Aí, o pintor ia até o local e criava a tela. Depois, elas foram impressas por este método, que era inovador, deu origem à impressão offset – conta Peninha.
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O mapa do Sul do Brasil que aparece no meio do painel foi encomendado em uma empresa de cartografia europeia que fazia mapas para todo o continente. O objetivo, conta Peninha, era vender a imagem das colônias catarinenses para imigrantes. Por isso, mesmo que a fotografia fosse uma técnica já bastante utilizada na época, o pintor foi provavelmente contratado para elaborar imagens mais elaboradas e artísticas a partir da realidade mostrada das fotos.
– Acredito que este conteúdo é de grande relevância porque ela mostra, além da história da colonização e da nossa cidade, também a história da fotografia, das artes plásticas e gráficas – avalia o fotógrafo que, a partir da pesquisa histórica, acredita que esta pode ser a primeira peça de marketing com imagens de Joinville.
Como o painel começava a se desfazer, Peninha fotografou-o com minúcia. Depois, tratou as imagens, que foram ampliadas e ganharam nova vida em telas de pintura. Além da propaganda original, as 28 fotos que registravam as colônias catarinenses no fim do século 19 estarão expostas no Arquivo Histórico – uma forma de, ao valorizar a história da região, resgatar também o local onde suas lembranças estão guardadas.
Na exposição, haverá também uma pedra litográfica para que os visitantes possam compreender o processo de impressão utilizado no painel. A técnica utilizava uma pedra calcária de grão muito fino, e ali as informações eram desenhadas ou escritas com uma tinta pastosa composta por cera, sabão e negro de fumo. O ácido passado sobre ela não chegava às partes escritas, que estavam protegidas pelas tinta, somente as áreas descobertas. Deste modo, era obtido um ligeiro alto relevo, que depois tornava-se plano.
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História que se mistura com a da família
Fotógrafo famoso em Joinville, Peninha Machado faz parte de uma família na qual a arte do registro em imagens está presente em várias gerações. Por isso, Alois Hañs era um nome que continuava ecoando entre os familiares e despertava curiosidade suficiente para que sua última residência fosse procurada na República Tcheca.
Desde que recebeu um “pequeno tesouro” que o liga a este antepassado, Peninha aprendeu muito mais do que sobre a história das colônias. Com a pesquisa empreendida desde então, ele também foi de encontro a própria história.
– Eu moro há tantos anos em Joinville e sempre achei que não tinha raízes de antepassados aqui – conta ele, que nasceu em São Francisco, com pais naturais de Guaramirim – mas a Brigitte pesquisou a minha família e descobriu que meu bisavô (pai do meu pai) morou aqui e abriu a primeira charutaria de Joinville. Depois, meu filho ainda encontrou o nome dele entre os sócios-fundadores do América Futebol Clube. Imagina como a minha família ficou feliz ao descobrir isso!
Fica aí, talvez, a chave do mistério de Alois Hañs ter guardado esta obra por tanto tempo e, um dia, cerca de 115 anos depois, ela ter cruzado o oceano e chegado a Joinville.
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