A promotora da Cidadania do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), Simone Cristina Schultz, concluiu nesta quinta mais uma visita aos estabelecimentos de saúde pública de Joinville.

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Desde a semana passada, ela tem feito uma peregrinação para conferir de perto a superlotação do Hospital Municipal São José e a falta de médicos no Hospital Regional Hans Dieter Schmitd e nos prontos-atendimentos Sul, Norte e Leste. Nesta quinta, depois de visitar estes locais, ela definiu como “caótica” a situação.

Segundo ela, o problema é antigo, mas devido à falta de providências, está entrando em colapso.

A Notícia – Como surgiu a ideia de visitar os estabelecimentos de saúde pública?

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Simone Cristina Schultz – Comecei a reparar que as reclamações da comunidade eram constantes quanto à falta de fichas nos postos de saúde, assim como a falta de médicos. Além disso, histórias de pacientes internados nos corredores também começaram a ser mais frequentes. Pedi mais informações tanto da Secretaria Municipal de Saúde quanto da estadual e a resposta era sempre a mesma: de que o sistema tem falhas, mas que não estava prejudicando o atendimento. Foi quando resolvi fazer as visitas. Se você não põe o pé na rua para enxergar a realidade, não sabe o que está acontecendo.

AN – E qual a principal constatação?

Simone – Confesso que a situação está pior do que eu imaginei. Os hospitais estão lotados e falta médicos em todas as áreas, desde clínico geral a psicólogo. Quinta-feira fiz uma visita ao Hospital Municipal São José e me deparei com diversos pacientes em macas nos corredores. E eram pacientes que estavam internados. Ou seja, aquela maca já está permanentemente ali. E ainda me disseram que estava tranquilo. Ou seja, a situação é pior ainda. A gente não pode se acomodar com a ideia de que não adianta reclamar, cabe a cada um fazer a sua parte e eu estou fazendo a minha. Do jeito que está, é inadmissível.

AN – As emergências dos dois hospitais públicos têm condições de atender?

Simone – Não. A falta de médicos é gritante e quem acaba pagando por isso é a população. É um número absolutamente insuficiente. Lançam uma campanha para que as pessoas procurem os prontos atendimentos, ao invés de recorrer diretamente ao hospital, mas não cumprem o que prometem. Querem que a população mude a consciência sem que haja subsídios para que isso aconteça. A pessoa pega uma ficha às 3 horas e passa a madrugada na fila por um atendimento. É claro que vão correr para o hospital em busca de um atendimento digno, mas chegam lá e se deparam com a mesma realidade. A população não pode se conformar com isso.

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AN – A senhora conversou com o secretário municipal de Saúde, Tarcísio Crócomo?

Simone – Sim. O secretário admite que o sistema tem falhas, mas fala que a população está sendo atendida. É o discurso de alguém que não sabe a realidade. Entendo que são muitos os problemas e que só serão resolvidos a longo prazo. Mas não se pode ficar nesta zona de conforto. É preciso fazer algo imediatamente, começando pela contratação emergencial de médicos.

AN – E quanto aos PAs? A senhora constatou a falta de médicos também?

Simone – Sim. O único que ainda acho que tem condições de atender é o PA Sul. Claro que longe das condições ideais. Tem apenas um pediatra. Mas ao menos tem. No PA Leste tem uma sala nova, cheia de leitos destinada à ala pediátrica, mas não há médico. O resultado disso é a lotação constante do Hospital Infantil. Aliás, a falta de médicos é generalizada. O Hospital Regional costuma ficar sem médicos de plantão no final de semana. Claro que isso contribuiu para a superlotação no Hospital São José, mas não justifica. Até porque a realidade é a mesma quando há atendimento.

AN – A que a senhora atribui o problema?

Simone – O salário baixo é um dos motivos. Aliada a isto está a pressão com que o médico vai ter que lidar todos os dias. Ele vai ter que se desdobrar para conseguir reduzir a fila. Em consequência as consultas serão ruins. Para que, se ele pode ganhar um salário superior e ter condições de trabalho muito melhores na rede privada?

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AN – Qual foi a visão da senhora como usuária do Sistema Único de Saúde?

Simone – Fiquei catatônica ao me deparar com aquelas cenas. Conversei com pacientes que já nem têm mais esperança de um sistema de saúde melhor. A verdade é que a situação está um caos e, se continuar assim, vão ter que fechar as portas.

AN – A Justiça negou esta semana o pedido de liminar para a contratação imediata de

médicos para o Regional. O que a senhora fará agora?

Simone – O argumento de que durante o feriado de Carnaval a maioria dos joinvilenses costuma trabalhar ou viajar para cidades vizinhas é no mínimo equivocado. O Hospital Regional é referência. Vou recorrer.

AN – Para a senhora, o problema é resultado do quê, afinal?

Simone – É absolutamente administrativo. Se falta verba, como costumam alegar, é uma questão administrativa. Ou seja, o problema é todo da gestão e não tenho dúvida nenhuma disso.

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